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Conjuntura

- Publicada em 11 de Janeiro de 2022 às 09:37

Inflação estoura a meta e fecha 2021 em 10,06%, maior alta desde 2015

Um dos fatores que influenciou na disparada do IPCA no ano passado foi a alta dos combustíveis

Um dos fatores que influenciou na disparada do IPCA no ano passado foi a alta dos combustíveis


TOMAZ SILVA/ABR/JC
Em 2021, o poder de compra do brasileiro voltou a ser assombrado por uma inflação de dois dígitos. Nos 12 meses do ano passado, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou variação de 10,06%.
Em 2021, o poder de compra do brasileiro voltou a ser assombrado por uma inflação de dois dígitos. Nos 12 meses do ano passado, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou variação de 10,06%.
A alta é a maior para o período de janeiro a dezembro desde 2015 (10,67%), apontam dados divulgados nesta terça-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado veio acima das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 9,96% no acumulado de 2021.
O IPCA é o indicador oficial de inflação no País. Com o resultado, o índice estourou com folga a meta perseguida pelo BC (Banco Central).
A meta de inflação era de 3,75% no ano passado, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, podendo chegar até a máxima de 5,25%.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de escrever uma carta explicando o avanço do IPCA acima do intervalo de referência. Será a sexta desde a criação do sistema de metas para a inflação, em 1999.
A carta mais recente foi escrita pelo antecessor de Campos Neto, Ilan Goldfajn, em janeiro de 2018. O texto era relativo à inflação de 2017, mas, na ocasião, o então presidente do BC se justificava por resultado ligeiramente inferior ao limite mínimo estabelecido.
No ano passado, a disparada do IPCA foi impulsionada por uma combinação de fatores díspares.
Houve carestia de preços administrados, como combustíveis e energia elétrica, aumento de itens básicos para as famílias, como alimentos, inclusive por alterações climáticas que afetaram plantio e colheita de diferentes produtos, além de persistente ruptura na cadeia global de abastecimento de insumos industriais, especialmente chips.
No recorte mensal, o IPCA desacelerou para 0,73% em dezembro, informou o IBGE nesta terça-feira (11).
Analistas consultados pela Bloomberg projetavam variação de 0,64% nessa base de comparação. Em novembro, o IPCA havia subido 0,95%.
"Uma inflação acumulada na faixa de 10% não estava no radar de ninguém no começo do ano passado. Ela se desgarrou de um padrão normal", afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.
"A inflação ainda não dá sinais de tranquilidade. O cenário é preocupante no início de 2022. Não vai ser fácil trazer a inflação de volta para a meta", completa.
Choques na pandemia
De acordo com analistas, uma sucessão de choques vista ao longo do ano passado está por trás da escalada dos preços.
Depois de desalinhar cadeias produtivas globais, a pandemia seguiu provocando escassez de insumos no mercado internacional em 2021. Com a falta de matérias-primas e a reabertura da economia, os preços ficaram mais caros em diferentes regiões.
No Brasil, a pressão foi intensificada pela desvalorização do real ante o dólar. A moeda americana subiu em meio a turbulências na área política protagonizadas pelo governo Jair Bolsonaro (PL).
O câmbio elevado também encareceu os combustíveis. Isso ocorreu porque o dólar é levado em consideração pela Petrobras na hora de definir os preços nas refinarias de itens como a gasolina, com grande peso no IPCA.
A inflação brasileira ainda foi turbinada pelos choques climáticos no ano passado. A severa crise hídrica que atingiu o país aumentou os custos para geração de energia elétrica e, como consequência, as contas de luz dos consumidores. A seca, aliada ao registro de geadas, também pressionou os alimentos no ano passado.
O avanço generalizado dos preços penaliza sobretudo os mais pobres. O Brasil passou a ter uma sucessão de casos de pessoas em busca de doações e até de restos de comida para alimentação.
Ionara Jesus Santos, 40, moradora de uma comunidade na zona sul de São Paulo, conta que atravessou 2021 sofrendo com a escalada dos preços de itens básicos. Quase tudo foi ficando mais caro. Ao mesmo tempo, ela amargou perda de renda.
Antes da pandemia, Ionara trabalhava como diarista. Com a crise, as oportunidades sumiram. Não consegue trabalho e busca doações para alimentar os quatro filhos.
Hoje, a renda familiar se resume ao BPC (Benefício de Prestação Continuada) recebido pela filha de 21 anos, que teve paralisia cerebral, diz a diarista. O valor do benefício é de um salário mínimo mensal.
"É difícil ver um filho com fome e não ter muito o que fazer. Estou dependendo de doações. Tudo ficou caro na pandemia", afirma.
"Gostaria de voltar a ter um emprego, de ter um dinheiro para manter a família. No mercado, a gente não pode comprar carne ou um arroz mais decente, escolhemos sempre o mais barato", acrescenta.
Para tentar conter a alta dos preços, o BC vem subindo a taxa básica de juros. O efeito colateral da Selic mais alta, atualmente em 9,25% ao ano, é inibir investimentos produtivos na economia, já que as linhas de crédito ficam mais caras. Falta de investimentos também tende a frear a geração de empregos e retardar ainda mais a retomada.
"A inflação mais alta requer juros mais altos, o que afeta o crescimento econômico. É um ciclo. Por isso, a inflação é tão perigosa", afirma a economista-chefe do banco Ourinvest, Fernanda Consorte.
Folhapress
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