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Emprego

- Publicada em 07 de Outubro de 2021 às 21:41

Crise amplia dificuldade da população acima dos 50 anos voltar para o mercado de trabalho

Levantamento recente aponta que 70,4% dos profissionais seniores já sofreram preconceito por conta da idade

Levantamento recente aponta que 70,4% dos profissionais seniores já sofreram preconceito por conta da idade


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Considerados como profissionais "mais caros" e "menos atualizados" por muitos recrutadores, os trabalhadores seniores têm sofrido dificuldades para se recolocarem no mercado. O obstáculo do preconceito se agrava em meio à crise gerada pela pandemia de Covid-19, momento em que o volume de pessoas em busca de emprego no País aumentou significativamente. Atualmente são mais de 14,5 milhões de brasileiros nesta condição. E, quanto mais avançada a idade, mais difícil ser selecionado para uma vaga.
Considerados como profissionais "mais caros" e "menos atualizados" por muitos recrutadores, os trabalhadores seniores têm sofrido dificuldades para se recolocarem no mercado. O obstáculo do preconceito se agrava em meio à crise gerada pela pandemia de Covid-19, momento em que o volume de pessoas em busca de emprego no País aumentou significativamente. Atualmente são mais de 14,5 milhões de brasileiros nesta condição. E, quanto mais avançada a idade, mais difícil ser selecionado para uma vaga.
Se por um lado, os jovens de 18 a 24 anos também sofrem para conseguir emprego, por conta da falta de experiência profissional, por outro, a população acima dos 50 anos é mais vulnerável ao adoecimento e, portanto, sujeita a faltar mais, aponta a economista do Dieese e especialista em mercado de trabalho, Lucia Garcia. "Esta situação piora na crise, porque o empregador não quer - e muitas vezes nem pode - ter custo com qualificação da força de trabalho no caso dos jovens, indo atrás de profissionais mais experientes; enquanto avalia que os seniores não servem para funções mais penosas, que exijam força física." Devido a isso, a maior "fatia" do corpo de trabalho no Brasil está na faixa etária que vai dos 35 e 40 anos.
Lucia observa que enquanto outros trabalhadores não estão conseguindo emprego por conta de questões econômicas nas empresas, os seniores ainda perdem espaço também por ter mais dificuldade para se adaptar às novas tecnologias. "Levam desvantagem por não serem nativos digitais em uma sociedade que está se transformando, e cada vez exige mais conexão e habilidade de usar tecnologias de informação e comunicação", avalia a economista do Dieese. "Se o segmento onde esta população procura por vaga tem essa necessidade, com certeza por este motivo não está conseguindo trabalho."
Em abril deste ano, a plataforma de tecnologias para recrutamento Infojobs realizou um estudo com a participação de 4.558 profissionais a partir dos 40 anos de idade. Destes, 60,6% tinham até 50 anos; 29% se encaixavam na faixa etária de 50 a 60 anos e 10,4% estavam com 60 anos ou mais. Conforme o levantamento, na percepção de 78,5% dos entrevistados, o mercado não dá as mesmas chances que são proporcionadas para os jovens. Outros 27,1% acreditam que é preciso estar mais atualizado para competir com as novas gerações. Já para 68,4%, isso não é suficiente.
Ainda segundo a pesquisa, 70,4% dos trabalhadores brasileiros com mais de 40 anos já sofreram algum tipo de preconceito na hora da contratação por conta da idade. "A pandemia e, por consequência, a crise econômica impactaram o mercado de trabalho como um todo, gerando desemprego e agravando a situação para os profissionais com mais de 40 anos", reforça a Country Menager da InfoJobs, Ana Paula Prado.
A gestora avalia que, com a retomada econômica e o avanço da vacinação contra a Covid-19, a oferta de emprego deve ter um aumento gradual, "a exemplo de agosto quando o volume de vagas abertas cresceu 17% frente a janeiro". "Um ponto importante é pensar até que ponto essa retomada vai atingir os profissionais com mais de 40 anos e se será no mesmo ritmo com que os demais grupos vão ser contratados", pondera.

Colaboradores mais antigos temem "reciclagem" nas empresas

Se no primeiro trimestre do ano passado, 23% dos desocupados em busca de emprego estavam na faixa etária de 40 a 59 anos (segundo dados da PNAD contínua/IBGE), isso se agravou com a atual crise econômica. Após o advento da pandemia de Covid-19 impactar a maioria das empresas do mercado brasileiro, em 2020 muitos profissionais foram demitidos, incluindo seniores. Ainda segundo o IBGE, em março de 2021 o País já havia registrado a redução de 7,8 milhões de postos de trabalho.
A reportagem do Jornal do Comércio ouviu histórias de profissionais maduros que, após a perda do emprego, têm buscado se recolocar no mercado, sem sucesso, e também de trabalhadores que seguem ocupando postos em empresas onde a maioria dos colaboradores é jovem. O "fantasma" desta concorrência assusta tanto, que em ambos os casos os entrevistados preferiram não se identificar.
"Eu busco me atualizar, mas tudo está em evolução. Minha maior dificuldade, agora, é a questão do trabalho remoto e todo o aparato tecnológico que temos que usar", confessa uma publicitária de 48 anos. "É difícil me concentrar em um projeto enquanto tenho que participar de uma reunião on-line seguida da outra." Ao afirmar que não consegue "fazer o trabalho fluir", ela diz que acaba se atrasando na entrega das demandas. "Junto com essa questão, ainda veio o fato de que fui deslocada do meu núcleo antigo para trabalhar diretamente com marketing digital. Estou fazendo um curso de pós-graduação na área, mas mesmo assim ainda me vejo defasada quanto aos meus colegas de trabalho mais novos."
E não é só na área da comunicação que o receio ronda maduros. Colaborador com carteira assinada na mesma empresa há mais de 30 anos, um médico do trabalho com 59 anos recém-feitos afirma que teme ser mandado embora e substituído por um profissional mais jovem que aceite ganhar menos. Ele explica que a companhia está passando por uma má fase e que os gestores ameaçam constantemente demitir os profissionais mais velhos. "Por mais que eu me considere novo e com energia para trabalhar em outro lugar, se necessário, não me dou bem com essa ideia de ser taxado de ´profissional mais velho da casa` como um argumento negativo", comenta.
O médico do trabalho também afirma que se vê em desvantagem frente a colegas mais jovens "justamente por ter muito tempo de carteira assinada na mesma empresa". "Na concepção dos gestores, sou um funcionário caro que já deveria ter sido mandado embora", lamenta.

Capacitação e empregabilidade do público sênior esbarra na precariedade de oportunidades

Com a disseminação de negócios feitos em plataformas digitais, alguns cargos estão, aos poucos, desaparecendo do mercado. "Hoje em dia, uma assistente administrativa de mais 40 anos de idade não consegue mais trabalho", ilustra a economista do Dieese, Lucia Garcia. "Trabalhadores tradicionais estão sendo substituídos por pessoas mais jovens que vendem produtos pelo e-commerce, por chats e pelo Whatsapp", completa a especialista. Ela aponta um outro agravante: a precariedade de oportunidades.
Ao destacar que o Brasil "está se empobrecendo", Lucia Garcia sentencia: "O problema da falta de emprego está na tábua rasa que virou a economia brasileira, nós não temos complexidade de produtividade para gerar empregos de diferentes graus de formação.” A economista observa que, por conta disso, o mercado está "praticamente" resumido ao agronegócio com o cultivo de soja; a serviços de aplicativos como Uber e ao advento de empreendedores que oferecem aulas on-line pela internet. 
Além do fim das empresas tradicionais, a mudança de requerimento de exigência para postos mais medianos "que são completamente automatizados" é o principal empecilho para os seniores, avalia Lucia.
De acordo com o IBGE, um quarto da população brasileira tem 50 anos ou mais, um contingente de mais de 50 milhões de pessoas - e a expectativa é que até 2050 esse número dobre. Embora o aumento da expectativa de vida seja um fator global, o público sênior deve seguir enfrentando diversos obstáculos para se manter ou se recolocar no mercado profissional. Idade, falta de capacitação ou o próprio preconceito.
"Eu e mais várias outras pessoas mais velhas acabamos sendo deixados de lado pelas empresas", considera uma auxiliar de limpeza, que prefere não divulgar o nome. Aos 65 anos, ela tem procurado vagas também para cargos operacionais, como estoquista, por exemplo. "Eu tenho feito alguns cursos e passei a procurar vagas em almoxarifados, supermercados, lojas, padarias, fábricas, porque mesmo tendo mais de 45 anos de experiência no ramo da limpeza, está complicado achar trabalho." 
Segundo a profissional, o "preconceito acontece antes do início do processo seletivo". "O que mais recebo por e-mail é o famoso: ´obrigado por participar, mas neste momento optamos por não prosseguir com a sua candidatura. Isso é muito frustrante", desabafa. 
"O público com mais de 50 anos é frequentemente colocado de lado na maioria das empresas, o que é um erro, pois as companhias estão perdendo profissionais experientes, com vivência e potencial para agregar muito ao negócio delas", avalia o CEO da edtech Descomplica, Marco Fisbhen. A empresa oferece cursos on-line para atualização de profissionais seniores, para facilitar a recolocação no mercado. 
Dentre as iniciativas, que ocorrem em parceria com a startup de Recursos Humanos Labora, as atividades buscam ensinar novas habilidades para que se possa fazer um trabalho diferente e desenvolver e aprimorar novas competências para quem já possui experiência profissional em determinada função.