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Conjuntura

- Publicada em 06 de Junho de 2021 às 20:02

Seca e commodities puxam alta da inflação

Falta de chuva provoca aumento da conta de energia elétrica

Falta de chuva provoca aumento da conta de energia elétrica


/JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC
A crise hídrica que já provoca aumento da tarifa de energia elétrica e a escalada de preços das commodities, especialmente as metálicas, elevaram as previsões de inflação para este ano. Consultorias projetam uma alta que beira 6% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A crise hídrica que já provoca aumento da tarifa de energia elétrica e a escalada de preços das commodities, especialmente as metálicas, elevaram as previsões de inflação para este ano. Consultorias projetam uma alta que beira 6% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Por oito semanas consecutivas, as expectativas do mercado financeiro para a inflação não pararam de subir, segundo o Boletim Focus do Banco Central (BC). Na primeira semana de junho, a mediana das projeções atingiu 5,31% e furou o teto da meta para este ano, de 5,25%. A aceleração põe mais pressão sobre o BC, para que continue elevando os juros, a fim de conter a alta de preços.
"Com a inflação nesse patamar previsto de quase 6% este ano, a normalização da taxa nominal de juros precisa ser rápida", alerta o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. Ele acabou de revisar de 5,2% para 5,8% a previsão do IPCA para este ano. Na sua avaliação, o Banco Central provavelmente terá que elevar a Selic para 6,5% no segundo semestre, podendo ir a 7% ou mais. Hoje a taxa é de 3,5% ao ano.
O que está em jogo neste momento, segundo Vale, é a expectativa da inflação para 2022. Isso por causa de fatores adversos que elevaram a projeção do IPCA acima do inicialmente previsto para 2021, da recuperação mais acelerada da atividade e da turbulência do período pré-eleitoral, que deve ter impacto na taxa de câmbio.
"Subir juros é a única opção que o BC tem neste momento, já que a sua função é mirar o centro da meta de inflação (de 3,75%)", afirma a economista Maria Andréia Parente Lameiras, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No entanto, ela pondera que a efetividade da alta dos juros para tirar o fôlego do câmbio e segurar a inflação neste momento não é total. Isso porque as pressões inflacionárias se acumulam nos preços monitorados, como energia elétrica, medicamentos, planos de saúde e gasolina.
"Com exceção da gasolina, que tem influência direta do dólar, os juros impactam pouco a tarifa de energia que depende das chuvas. Além disso, os reajustes dos remédios e dos planos de saúde já ocorreram." Foi exatamente o aumento nas projeções dos preços monitorados, de serviços e produtos que só podem ser alterados com aval do governo, que fez o Ipea revisar de 4,6% para 5,3% a projeção para o IPCA deste ano.

Preços da alimentação devem seguir em ritmo de aumento

Fábio Romão, economista da LCA Consultores, observa que o fato de as pressões inflacionárias estarem acumuladas em alimentos e nos preços administrados é um "problemaço". Além de esses produtos e serviços serem de difícil substituição pelos consumidores, Romão lembra que o impacto da alimentação no domicílio, que subiu 18,5% em 2020, não saiu de cena.
Para 2021, o economista projeta alta de cerca 5% no preço da comida, o que não é pouco. "Não vamos ter um aumento de preços de alimentos como houve em 2020, o que é um alívio parcial porque o nível continua alto."
Por causa da piora da crise hídrica, que pressiona o custo da energia elétrica, e os efeitos da alta da gasolina e do diesel, além da elevação dos bens industriais, Romão subiu de 5% para 5,5% a projeção de inflação para este ano.
Mas ele não descarta a possibilidade de que essa previsão seja superada, se a bandeira vermelha 2 - a mais cara - para energia elétrica se mantiver até o final do ano. O economista considera ainda que os preços industriais no atacado, que subiram 25% em 2020, aumentem mais 25% este ano. Isso representa mais pressão de custos, que deve ser repassada para o varejo na medida em que a atividade for melhorando.
Foi exatamente a melhora da atividade, após a divulgação do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre de 1,2%, que superou as expectativas, que fez a Tendências Consultoria Integrada revisar de 4,8% para 5% a projeção de inflação para este ano.
"Não temos viés de alta para a inflação neste momento", frisa Marcio Milan, economista da consultoria. Mais otimista do que seus pares, ele explica que trabalha com a expectativa de que as chuvas se regularizem no Sudeste e no Centro-Oeste até o fim do ano e que ocorra redução da bandeira tarifária.
Milan admite que existe pressão em razão dos preços das commodities metálicas, mas observa que o cenário traçado pela consultoria é de reversão das cotações com a normalização dos estoques.
Dadas as condições atuais, ele não acredita que a inflação fure o teto da meta neste ano. No entanto, o que poderá mudar esse quadro é a aceleração da atividade e a permanência da bandeira tarifária mais elevada até dezembro.