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Trabalho

- Publicada em 17 de Maio de 2021 às 03:00

Rescisões por morte de trabalhadores formais crescem 72% em 12 meses

Atividades de atenção à saúde tiveram salto, de 498 para 876 óbitos

Atividades de atenção à saúde tiveram salto, de 498 para 876 óbitos


/CRISTINE ROCHOL/DIVULGAÇÃO/CIDADES
O número de desligamentos profissionais por morte no Brasil cresceu em 71,6%, passando de 13,2 mil para 22,6 mil contratos, entre o primeiro trimestre do ano passado e o mesmo período deste ano, segundo levantamento do Dieese. Embora os dados não permitam identificar a causa dos óbitos, o aumento indica a dimensão do impacto da pandemia do novo coronavírus no país no mercado de trabalho formal.
O número de desligamentos profissionais por morte no Brasil cresceu em 71,6%, passando de 13,2 mil para 22,6 mil contratos, entre o primeiro trimestre do ano passado e o mesmo período deste ano, segundo levantamento do Dieese. Embora os dados não permitam identificar a causa dos óbitos, o aumento indica a dimensão do impacto da pandemia do novo coronavírus no país no mercado de trabalho formal.
Na linha de frente da pandemia, as atividades ligadas à atenção de saúde viram um aumento ainda maior, de 75,9%, indo de 498 desligamentos para 876, segundo a pesquisa, feita a partir de dados de trabalho formal do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. Quando se olha para as ocupações, os desligamentos profissionais por motivo de morte do empregado triplicaram no período entre os médicos. Entre os enfermeiros, duplicaram.
Em número de contratos encerrados por morte, a atividade de transporte rodoviário de cargas (exceto produtos perigosos e mudanças) foi a que registrou mais desligamentos. De janeiro de 2020 a março de 2021, foram 3.534, sobretudo de motoristas de caminhão, sendo que o mês de março corresponde a 14% deste total.
Além do trauma da perda de vidas, é preciso considerar o impacto na produtividade e na renda das famílias que o país tem tido por conta da pandemia. Esses são trabalhadores que acumularam um conhecimento que não é repassado do dia para a noite, avalia Rosângela Vieira, economista do Dieese. "No setor de saúde, por exemplo, a experiência também se dá por acúmulo de pesquisa e informação. É um prejuízo para a sociedade", diz ela.
Na comparação entre os estados, a crise da falta de oxigênio que causou pânico em Manaus no início do ano pesou para colocar o Amazonas no topo do crescimento percentual de desligamentos (437,7%), indo de 114 no início de 2020, para 613 no mesmo período deste ano.
Em seguida, aparecem Roraima (177,8%) e Rondônia (168,6%). No estado paulista, o encerramento de vínculos de trabalho por morte cresceu 76,4%, de 4,5 mil para 7,9 mil.
Quando consideradas todas as atividades econômicas, as que tiveram maior crescimento no número de desligamentos por morte são educação (106,7%), transporte, armazenagem e correio (95,2%), atividades administrativas e serviços complementares (78,7%) e saúde humana e serviços sociais (71,7%).

Sete em cada 10 empregos estão em setores com baixo conteúdo tecnológico

Praticamente sete em cada dez empregos no Brasil estão em setores com baixo conteúdo tecnológico, considerando o valor dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento feito por essas empresas. Essas mesmas ocupações têm salários 40% inferiores à média nacional. Os dados são parte de estudo elaborado pelo economista Nelson Marconi, professor da Escola de Administração de Empresas da FGV (Fundação Getulio Vargas).
A classificação dos setores por nível de conteúdo tecnológico segue metodologia da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que considera a relação entre investimentos em P&D (pesquisa & desenvolvimento) e valor adicionado ao PIB (Produto Interno Bruto). Os números de empregados em cada setor e os valores dos salários são das Contas Nacionais do IBGE para os anos 2010 a 2017. Nesse período, os dados não tiveram variação relevante, o que mostra que a situação mudou pouco ao longo da década passada.
Entre os setores com baixo conteúdo tecnológico estão agricultura, construção, transportes, alojamento, alimentação e serviços domésticos, pela classificação da OCDE. Eles representam 68% das ocupações. Outros 10% estão em setores de média-baixa intensidade em pesquisa e desenvolvimento, com salário médio que já supera em 12% a média nacional, que era de R$ 28.740 por ano em 2017. Destacam-se nesse grupo telecomunicações e as indústrias extrativa, de bebidas e têxtil.
Os setores classificados como de média e média-alta intensidade representam, cada um, 2,5% das ocupações. No primeiro caso, estão siderurgia, produtos de borracha, material plástico e minerais não metálicos, com salários 24% acima da média.
No segundo, com ganhos 166% acima da média, destacam-se fabricação de químicos, máquinas e equipamentos, veículos, além de desenvolvimento de sistemas e serviços de informação. As ocupações de alta intensidade representam 0,2% do total, com salário médio que é mais que o triplo da média. Estão nesse grupo, por exemplo, fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, aeronaves e de equipamentos de informática e eletrônicos.
Três setores ficam de fora da classificação da OCDE, por não serem negócios predominantemente privados: administração pública, saúde e educação. Eles representam 17% das ocupações no Brasil e também pagam acima da média nacional.
Marconi afirma que é natural que os setores de alta tecnologia empreguem menos e paguem salários maiores que os de baixa tecnologia, dado que esses últimos são mais intensivos em trabalho do que em equipamentos e máquinas, mas afirma que os dados do Brasil mostram um desequilíbrio muito grande.
"A gente nunca vai ter tanto emprego assim nos setores de alta tecnologia, mas a questão é que nesse miolo, principalmente de média e média-alta intensidade, teria de haver um número maior de ocupações", afirma o economista. Marconi ressalta que os números mostram que não houve mudança significativa na estrutura produtiva nesse período no sentido de gerar melhores empregos. "Os setores de baixa tecnologia empregam muita gente, praticamente 70% da força de trabalho. Se você não consegue mudar essa composição, não está sendo tão bem-sucedido no seu processo de crescimento", afirma.
 

Síndrome de Burnout castiga operadores de mercado; caso Goldman Sachs repercute

Uma carga de trabalho de no máximo 80 horas por semana - 16 horas por dia, considerando de segunda a sexta-feira - foi o pedido feito por analistas juniores no exterior à direção do Goldman Sachs. No início do ano, eles divulgaram uma série de slides em que mostravam as condições extenuantes de trabalho dos novatos no banco de investimentos. Em média, eles trabalharam 98 horas por semana (19 horas e 36 minutos por dia) em janeiro. Os funcionários ainda apontaram queda nas condições de saúde mental. Numa escala de zero a dez, a nota atribuída ao bem-estar foi de 2,8. Antes de ingressarem no banco, era de 8,8.
O documento repercutiu no mercado financeiro globalmente. O Goldman Sachs reconheceu, em nota, que seus funcionários estão "muito ocupados". "Um ano após o início da Covid-19, as pessoas estão bastante sobrecarregadas e é por isso que estamos ouvindo suas preocupações e tomando medidas para resolver o problema", publicou o banco, sem dar detalhes.
Uma semana após os slides dos funcionários do Goldman se tornarem conhecidos, o Citigroup se mostrou preocupado com a situação de seus trabalhadores. A presidente global do grupo, Jane Fraser, enviou, no fim de março, um e-mail aos colaboradores em que afirmava que "a difícil separação entre casa e trabalho e o implacável expediente de trabalho pandêmico afetaram nosso bem-estar".
Jane disse que a situação era "insustentável" e estabeleceu mudanças, como o fim das reuniões internas por vídeo às sextas-feiras. Pediu também para que fossem limitadas as ligações fora do horário de trabalho e nos fins de semana - "lembram deles?", escreveu.
Com companhias globais, o mercado financeiro repete o padrão de rotinas exaustivas no Brasil, principalmente entre os novatos. Na avenida Faria Lima - que concentra o setor em São Paulo -, histórias de noites sem dormir, meses sem um único dia de folga e burnouts são frequentes. Segundo a International Stress Management Association (associação internacional de prevenção ao estresse) no Brasil, profissionais do setor financeiro ficam em terceiro lugar no ranking de incidência de burnout, depois de trabalhadores em segurança, na primeira posição, e de controladores de voo e motoristas de ônibus urbano, empatados, na segunda. Apesar das condições estressantes do trabalho, as remunerações elevadas - com bônus que podem equivaler a mais do que a pessoa recebeu durante todo o ano -, o status e a possibilidade de atuar nas maiores operações financeiras e corporativas do País atraem os profissionais. "Tem uma glamourização, mas também tem a oportunidade de trabalhar em casos incríveis", diz um profissional.