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Conjuntura

- Publicada em 11 de Abril de 2021 às 13:33

Bolsonaro mantém prestígio entre empresários gaúchos

No 2º turno das eleições, presidente obteve 63,24% dos votos válidos no Rio Grande do Sul

No 2º turno das eleições, presidente obteve 63,24% dos votos válidos no Rio Grande do Sul


EVARISTO SA / AFP/JC
O Rio Grande do Sul é considerado um dos estados mais bolsonaristas do Brasil. Em 2018, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) venceu em 407 das 497 cidades do estado no 2º turno das eleições, obtendo 63,24% dos votos válidos. O apoio ao presidente segue em alta, mesmo com a piora da pandemia. Recentemente, o Estado passou a amargar posição de destaque no ranking de crescimento da Covid-19 no País. Na quinta-feira (8), era o oitavo em número acumulado de óbitos por 100 mil habitantes.
O Rio Grande do Sul é considerado um dos estados mais bolsonaristas do Brasil. Em 2018, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) venceu em 407 das 497 cidades do estado no 2º turno das eleições, obtendo 63,24% dos votos válidos. O apoio ao presidente segue em alta, mesmo com a piora da pandemia. Recentemente, o Estado passou a amargar posição de destaque no ranking de crescimento da Covid-19 no País. Na quinta-feira (8), era o oitavo em número acumulado de óbitos por 100 mil habitantes.
O empresariado local defende que Bolsonaro é mais uma vítima do coronavírus, e que ele faz o que pode em favor do Rio Grande do Sul e do País. "O governo federal foi o único que teve ação positiva e pró-ativa em relação aos empresários e a população. Fez o Pronampe, por exemplo", diz o empresário e presidente da Associação Comercial de Porto Alegre, Paulo Afonso Pereira. O mencionado programa liberou crédito a juros baixos para micro e pequenos negócios em 2020 e ainda não foi reeditado na atual fase, mais crítica, da pandemia.
Segundo Pereira, foram os governos estaduais e municipais que não tomaram nenhuma medida benéfica --apesar de o governo gaúcho, por exemplo, também ter criado linhas de crédito para pequenas empresas em 2020 e 2021. A opinião do dirigente é compartilhada por muitos empresários. A maioria também discorda das críticas ao presidente que são comuns em outros lugares do Brasil. Não veem Bolsonaro como um negacionista em relação aos efeitos da Covid-19 nem consideram inadequada a política de compra de vacinas do governo federal. Para eles, os motes da campanha eleitoral, anteriores à pandemia, continuam valendo.
"Na questão da vacina, não adianta ficar falando 'tem que ter'. Nem todos os laboratórios têm produto disponível. Até o Canadá se queixou disso. Muita gente fica dando palpite no que não sabe", afirma o presidente da Fiergs, Gilberto Petry. O dirigente também argumenta que Bolsonaro sofre com a polarização política da pandemia e destaca que nada dito contra o presidente até agora abala a confiança que depositam nele. "Os empresários sempre vão ser a favor de um presidente que entrou para combater a corrupção e acabar com aquilo que havia antes", aponta.
O que "havia antes", e não querem de volta, é o PT. O antipetismo é arraigado no mundo empresarial gaúcho e ajuda a fortalecer a posição pró-Bolsonaro. "Os empresários defendem o que é melhor para os negócios. Apoiaram Bolsonaro porque achavam que ele era 'menos ruim', e para evitar o retorno do PT", comenta o presidente na Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha, Marcelo Lauxen Kehl.
E, segundo ele, o apoio tem sido retribuído pelo presidente, em especial na pandemia. "Em termos econômicos, o governo federal agiu muito bem no ano passado, com medidas como auxílio emergencial, mais a redução e a suspensão de jornada". A polarização até incomoda alguns empresários. José Roberto Pires Weber, pecuarista e presidente do Sindicato Rural de Dom Pedrito, é um de seus críticos.
Weber, que já foi presidente da Associação Brasileira de Angus, afirma que a briga entre a direita e a esquerda deixa todos impotentes. "Prevalece aquele discurso: se o Bolsonaro é a favor, eu sou contra, e vice-versa. Mas não é assim que a vida funciona, não é nessa dicotomia absurda", afirma. "Ficamos preocupados com a briga e não cuidamos do Brasil." Mas a queixa para por aí. O agronegócio representa 48,5% do PIB do Rio Grande do Sul, e produtores rurais ficam do lado em que estiver o bolsonarismo.
"O agro está ao lado do Bolsonaro. A Tereza Cristina tem sido uma excelente ministra (da Agricultura), e tudo isso faz com que o agro se fortaleça no lado que escolheu. O agro não olha com bons olhos para o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso. Não é tanto pelas decisões, mas pela falta de convicção e de manutenção das decisões", afirma Weber.
Outro argumento a favor de Bolsonaro toma como base a decisão do STF que reconheceu a competência dos estados e municípios para adotarem medidas locais no enfrentamento à pandemia. Essa decisão é vista como uma amarra para as iniciativas do presidente. Empresários gaúchos não acreditam que a Suprema Corte tenha estabelecido essa determinação após estados e municípios se preocuparem com a demora do governo federal em adotar medidas contra a transmissão do vírus.
"Acho que está um pouco limitada a condução no âmbito federal, especialmente em razão de dificuldades no aspecto jurídico. A decisão do STF afeta aspectos de gerenciamento das ações de governo. É uma lástima", considera o presidente do Instituto Cultural Floresta, Claudio Goldsztein. A entidade, afirma Goldsztein, foi criada por empresários para contribuir com o desenvolvimento do Rio Grande do Sul, sobretudo nas áreas de segurança e educação.

Apoio ao bolsonarismo é mais forte na Serra

A Serra Gaúcha é um dos pontos onde o bolsonarismo já tem raízes profundas. Na região, onde estão polos industriais e cidades turísticas, Bolsonaro foi eleito com mais de 80% dos votos em algumas cidades, como Gramado. Tratamento precoce com kit-Covid, sem eficácia comprovada, e oposição a medidas de distanciamento, bandeiras do presidente, também são defendidas nessa região.
O último mês na serra foi especialmente tenso e marcado por manifestações de empresários do setor de turismo contra restrições ao comércio. De lá partiu até um pedido de impeachment contra o governador Eduardo Leite (PSDB-RS). O afastamento é apoiado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que se manifestou contra as medidas de combate ao contágio de coronavírus adotadas pelo tucano.
Em um protesto no fim de março, empresários da região chegaram a erguer cartazes com "o turismo não é o vilão". Comerciantes saíram a pé e de carro para se reunirem na divisa entre Gramado e Canela. Uma faixa pedindo intervenção militar foi pendurada em um dos pórticos da turística Gramado.
O empresariado reivindicava a flexibilização das medidas sanitárias estaduais. Parques turísticos e hotéis tiveram a circulação restrita por semanas seguidas e restaurantes não puderam abrir aos fins de semana. Os que servem fondue, e só costumam abrir à noite, pararam de operar.
No fim de março, cerca de 40 representantes da gastronomia na região fizeram uma reunião para debater saídas da crise. Devido à concentração de pessoas, a Polícia Militar e os fiscais fizeram uma intervenção no local. Os ânimos se exaltaram e os empresários reagiram dizendo que, se a polícia prendesse alguém, teria de levar todo mundo.
Em vídeos do encontro que circularam nas redes sociais, os empresários marcaram posição. Voltaram-se contra o setor público, afirmando que servidores têm salário fixo mensal, mas que o setor privado só ganha se trabalha. Reforçaram que restaurantes são locais seguros com a adoção de protocolos. Disseram ainda que a Constituição assegura liberdade para trabalhar.
"Quem está com problema é a iniciativa privada, é quem trabalha, é quem gera emprego, é o empregado da iniciativa privada. A área pública recebe dinheiro todo mês", afirmou o empresário Gilberto Tomasini, do setor de restaurantes, em um dos vídeos que circularam.
O advogado Victor Spier, que assinou o pedido de afastamento de Leite, diz que a solicitação teve apoio de mais de 1,1 mil empresários da Serra Gaúcha. "Acredito que cerca de 90% da receita de Gramado e Canela venha do turismo", afirma Spier. "Os aluguéis são muito caros, o fechamento acarretou grande prejuízo, com muitos restaurantes encerrando as atividades porque não houve flexibilização das medidas decretadas pelo Estado." E o advogado dá mais uma razão para que o presidente tenha apoio. "Ao impedir a operação dos estabelecimentos e prejudicar as finanças dos empresários, o governador extrapolou", diz. "Aqui 99% são Bolsonaro porque ele quer que o comércio abra."