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EVENTOS

- Publicada em 24 de Março de 2021 às 17:14

Feiras da economia criativa migram para o digital e buscam apoio para driblar um ano sem atividades

Tradicionais feiras de rua, que movimentam a economia, estão suspensas há um ano

Tradicionais feiras de rua, que movimentam a economia, estão suspensas há um ano


JEFF CARNELUTTI/DIVULGAÇÃO/JC
Após iniciar 2021 ensaiando uma retomada em Porto Alegre, as feiras de rua da economia criativa, que movimentam diversos segmentos e geram renda a centenas de pessoas, sofreram mais um revés das restrições pandêmicas e atingem neste mês de março a marca de um ano de atividades paralisadas. Diante dessa realidades, o cenário local, que antes da Covid-19 chegava a registrar até cem eventos mensais, busca a reinvenção digital, mas esbarra nas dificuldades de expositores, fornecedores e consumidores em se adequarem ao novo momento.
Após iniciar 2021 ensaiando uma retomada em Porto Alegre, as feiras de rua da economia criativa, que movimentam diversos segmentos e geram renda a centenas de pessoas, sofreram mais um revés das restrições pandêmicas e atingem neste mês de março a marca de um ano de atividades paralisadas. Diante dessa realidades, o cenário local, que antes da Covid-19 chegava a registrar até cem eventos mensais, busca a reinvenção digital, mas esbarra nas dificuldades de expositores, fornecedores e consumidores em se adequarem ao novo momento.
De acordo com pesquisa nacional do Serviço Social do Comércio (Sesc) sobre a percepção dos impactos da Covid-19 nas cadeias de produção e distribuição dos setores cultural e criativo no Brasil, elaborada entre junho e setembro de 2020, 60% dos profissionais da economia criativa que responderam ao questionário exerciam suas atividades em feiras e festivais. Desses, 49% admitiram ter perdido a totalidade da renda ao longo do primeiro semestre do ano passado. E, para a maioria, as dificuldades e altos custos para acesso à internet foram apontados como empecilhos para a migração dos serviços para as plataformas digitais.
Essa realidade é percebida pelos organizadores de feiras tradicionais da Capital. Natalia Guasso, idealizadora do Brick de Desapegos, que há 10 anos agita a economia criativa da cidade, reconhece a dificuldade dos expositores em transportar seus trabalhos e marcas para as feiras digitais. Segundo ela, que desde maio do ano passado buscou o universo online para seguir divulgando os pequenos negócios, marcas e brechós da cidade, a opção digital foi a forma encontrada para dar continuidade às atividades em meio às restrições. "Ninguém parou de pensar e produzir nesse tempo todo, por isso, tivemos de buscar as feiras online, que são a forma que temos de dar continuidade ao nosso trabalho", comenta a empreendedora, que neste mês realiza a 10ª edição online da feira.
Promovidas mensalmente pelo Instagram do Brique, as edições online da feira pasaram a ter uma semana de duração, permitindo divulgar aos poucos o trabalho de marcas e expositores, integrando perfis nas redes socias e promovendo lives de vendas e destaques de produtos nos stories. As transações comerciais são feitas diretamente pelos expositores, que combinam envio ou retirada das peças com o cliente.
Segundo ela, o meio digital democratiza o formato das feiras, já que permite que cada um monte seu evento da forma que desejar, porém, esbarra na falta de acesso e de familiaridade da maioria dos expositores com o universo online. "A maioria não está inserida no digital, nem todo mundo tem acesso nem se adapta ao trabalho nesse formato, mas essa é a nossa realidade agora. Sabemos que as feiras como ocorriam antes não vão acontecer tão cedo, não tem mais volta. Então, estamos presentes, sem agenda fixa, mas como forma de resistência, pois são muitas pessoas que dependem e vivem disso", ressalta.
Natalia, que chegou a organizar uma edição presencial do Brick em 21 de fevereiro - quando a bandeira preta ainda não havia sido anunciada no Estado -, com 24 expositores e mediante todos os cuidados de distanciamento adequado, uso de máscara e sem permitir aglomerações, conta como as exigências sanitárias afetaram o formato do evento. "Tivemos de fazer uma feira mais aberta, totalmente na rua, sem venda de comida e bebida para não incentivar reunião. Também priorizamos o desapego mesmo e, nesse sentido, demos ainda mais força à moda sustentável e ao consumo consciente. Nosso foco está total nas vendas", conta.
Outra peculiaridade do novo momento das feiras é que, através do digital, conseguem ampliar seu alcance, recebendo expositores de outras partes do País e, assim, contribuindo também para movimentar a economia de fora do Estado, além de ajudar a fomentar novos eventos.

Momento de adaptação e compasso de espera pela retomada

Apenas uma edição do Brick de Desapegos chegou a ser realizada na Capital em 2021, em fevereiro

Apenas uma edição do Brick de Desapegos chegou a ser realizada na Capital em 2021, em fevereiro


BRICK DE DESAPEGO/DIVULGAÇÃO/JC
Idealizadora da Feira Me Gusta, outra referência de eventos de rua da Capital, e integrante do coletivo Feiras Unidas POA (formado pela OPEN Feira de Design, pela Café com Bazar, Feira de Moda Plus Size, Brick dos Desapegos, Feira Me Gusta e Feira Tô na Rua), Pamela Morrison relata que, apesar de serem uma alternativa concreta em meio à pandemia, a organização de feiras online exige muito dos produtores, que precism se adaptar ao formato, divulgar o evento e ainda ajudar os expositores.
Por essa razão, e na esperança de que as feiras presenciais pudessem voltar a ocorrer no primeiro semestre de 2021, ela ainda não montou a agenda digital da Me Gusta desde a virada do ano. "Quero retomar os eventos online, mas eles foram bem trabalhosos de produzir e geraram pouco resultado em vendas, pois a maior parte dos expositores não estão acostumados, precisariam receber uma consultoria pra se prepararem", avalia.
A capacitação dos profissionais da área, tabém defendida por Natalia, esbarra na falta de condições financeiras e de apoio governamental para isso. "Os que mais precisam de ajuda são justamente os que não sabem vender online e não têm verba para investir nisso", comenta.
Ela lembra que, antes da pandemia, uma média de 50 feiras de rua vinham sendo promovidas em Porto Alegre mensalmente, integrando cerca de 100 expositores por evento e milhares de visitantes. "Em tempos normais, antes da pandemia, o Rio Grande do Sul chegou a ter 400 iniciativas de feiras mensais acontecendo. Por ano, estimamos que 50 mil pessoas circularam por feiras, entre visitantes, fornecedores e expositores", comenta
Em janeiro, quando não se esperava o agravamento do cenário da pandemia no Estado e a retomada de eventos em ambientes abertos e fechados começava a tomar forma na cidade, tanto o POACVB quanto o coletivo Feiras Unidas POA intensificaram os pedido de liberação de feiras, que ajudam a movimentar a indústria criativa e o turismo da cidade, junto à administração municipal.
Antes disso, em novembro do ano passado, pensando em preparar a retomada gradual das atividades, o setor promoveu ainda a primeira feira com público da pandemia, voltada a testar protocolos e capacitar expositores e produtores. "Essa feira de capacitação foi uma grande experiência para todos, produtores, parceiros e público. Naquele momento, estávamos preparando o retorno, não imaginávamos que a essa altura do ano ainda estaríamos parados", lamenta Natalia.
De acordo com o Porto Alegre e Região Metropolitana Convention e Visitors Bureau (POACVB), diante da incerteza desses primeiros meses do ano, não houve a consolidação de uma pré-agenda de feiras para 2021, mas, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo da Capital, 73 solicitações de feiras de rua foram protocoladas para 2021 e aguardam as deliberações dos próximos decretos. Desde o início do ano, 13 feiras já haviam sido licenciadas pela prefeitura.
Em compasso total de espera, Natalia destaca que o foco do coletivo está na busca de editais culturais para preparar a volta do segmento, quando isso for possível, e angariar verbas para criar ações que ajudem na manutenção das feiras e sobrevivência dos expositores. "O momento é de total espera, não queremos voltar de qualquer jeito, mas sim de uma forma que não coloque as pessoas em risco. Mas também precisamos buscar alternativas para as pessoas que estão há um ano paradas. A situação é crítica, precisamos sensibilizar as autoridades e buscar algum tipo de apoio", ressalta.