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Economia

- Publicada em 22 de Fevereiro de 2021 às 18:56

Ibovespa fecha em queda de 4,87%, com 'risco Bolsonaro'

Decisão de trocar comando da Petrobras tem viés negativo na análise de risco de crédito

Decisão de trocar comando da Petrobras tem viés negativo na análise de risco de crédito


NELSON ALMEIDA/AFP/JC
Agência Estado
O Ibovespa teve variação de 6,7 mil pontos entre mínima e máxima desta segunda-feira (22), algo não visto desde o pior momento da pandemia, em março, quando os ativos globais se preparavam para uma espécie de fim do mundo, e também no fim de abril, momento em que a ruidosa saída de Sergio Moro do governo trouxe volatilidade. No Brasil, a consumação da interferência no comando da Petrobras na sexta à noite e a promessa feita no fim de semana pelo presidente Bolsonaro, de que "tem mais por vir" e de que pode "meter o dedo" no setor elétrico, colocaram os ativos do País em espiral negativa desde a abertura, com dólar a R$ 5,53 na máxima do dia e perdas superiores a 20% para as ações ON e PN da Petrobras nesta segunda-feira.
O Ibovespa teve variação de 6,7 mil pontos entre mínima e máxima desta segunda-feira (22), algo não visto desde o pior momento da pandemia, em março, quando os ativos globais se preparavam para uma espécie de fim do mundo, e também no fim de abril, momento em que a ruidosa saída de Sergio Moro do governo trouxe volatilidade. No Brasil, a consumação da interferência no comando da Petrobras na sexta à noite e a promessa feita no fim de semana pelo presidente Bolsonaro, de que "tem mais por vir" e de que pode "meter o dedo" no setor elétrico, colocaram os ativos do País em espiral negativa desde a abertura, com dólar a R$ 5,53 na máxima do dia e perdas superiores a 20% para as ações ON e PN da Petrobras nesta segunda-feira.
Ao fim, o Ibovespa mostrava queda de 4,87%, aos 112.667,70 pontos, no menor nível desde 3 de dezembro (112.291,59), tendo chegado na mínima de hoje aos 111.650,26 pontos (piso intradia desde 2 de dezembro) saindo de máxima na abertura aos 118.388,07 pontos, com giro financeiro a R$ 84,3 bilhões na sessão, bem reforçado pelo vencimento de opções sobre ações. Em porcentual, a queda desta segunda-feira superou a de 28 de outubro (-4,25%), quando se esboçava a segunda onda de lockdown na Europa, e foi a pior desde 24 de abril (-5,45%) de 2020, dia em que o então ministro Sergio Moro deixou o cargo.
Perto do fim da sessão, a notícia de que um juiz federal de primeira instância em Minas Gerais determinou que o presidente Bolsonaro preste informações em 72 horas sobre a troca de comando na estatal levantou o temor de que a questão venha a ser judicializada, inclusive no exterior, observa um operador. Assim, na reta final, o Ibovespa voltou a perder a linha de 113 mil pontos, que havia sustentado em boa parte da tarde.
No mês, o índice da B3 passa a acumular desempenho negativo, em queda de 2,09%, elevando as perdas no ano a 5,33%. No encerramento, Petrobras ON cedeu 20,48%, a R$ 21,55, e a PN caiu 21,51%, a R$ 21,45, ambas pelo segundo dia na ponta negativa do Ibovespa - nas mínimas de hoje, foram respectivamente a R$ 21,35 e a R$ 21,40.
A decisão do governo de trocar o comando da Petrobras após os reajustes nos preços dos combustíveis tem viés negativo na análise de risco de crédito da estatal, segundo a Moody's, enquanto, para a S&P, a interferência pode afetar a lucratividade e o fluxo de caixa da empresa. Nesta segunda-feira, casas como XP, Bradesco BBI e Credit Suisse reduziram o preço-alvo e cortaram a recomendação para as ações da petrolífera - por sua vez, o JPMorgan rebaixou a recomendação para os bonds da empresa. "Evidentemente, temos uma situação negativa não apenas para os papéis da Petrobras, como também para os ativos brasileiros em geral, levando o mercado a reprecificar o 'risco Bolsonaro'", diz Pedro Paulo Silveira, gestor da Nova Futura Investimentos.
Colocando o cenário macro em revisão, a Ativa Investimentos prevê câmbio e juros mais elevados, deterioração fiscal possivelmente maior e PIB mais baixo. "O discurso dele (Bolsonaro) torna-se populista quando se vale de uma tentativa de colocar o povo como explorado. Ao afirmar que não vai interferir e adiciona um 'mas', ele está justificando a interferência, o que implica incoerência", observa em nota Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa.
O silêncio do ministro Paulo Guedes sobre a demissão sumária de Roberto Castello Branco, um liberal pós-graduado em Chicago indicado pelo próprio Guedes, também não passou despercebido.
"As ações preferenciais da Petrobras chegaram a valer R$ 6,70 em dezembro de 2015, no governo Dilma, quando ocorreu intervenção política parecida com a recente demissão do presidente da estatal pelo presidente da República", observa Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez. "Este tipo de interferência, populista de direita, é um déjà vu da política populista de esquerda adotada pelo governo da ex-presidente", acrescenta.
"A pergunta que se faz é como o ministro da Economia irá se posicionar diante da gravidade da decisão do Executivo em relação aos princípios do livre mercado e do liberalismo econômico", conclui Lucci, observando que "a interferência terá efeitos de longo prazo na percepção do investidor estrangeiro sobre o ambiente de negócios no País".
Assim, a onda de temor quanto a um Bolsonaro desgovernado, passando por cima do melhor aconselhamento econômico para buscar conforto direto junto ao eleitor de 2022, pôs não apenas a Petrobras, mas também as ações de outras estatais, como Banco do Brasil (ON -11,65%) e Eletrobras (ON -0,69%), entre as perdedoras do dia. Relato de que o presidente do BB, André Brandão, com quem Bolsonaro entrou em rota de colisão em janeiro, será o próximo da lista de demissões colocou as ações do banco bem à frente das perdas observadas no segmento nesta segunda-feira, com destaque também para Itaú PN (-7,28%) e Bradesco PN (-6,56%).
Apesar da sangria observada em empresas e setores de peso, houve alguns destaques positivos, como parte da siderurgia, com CSN em avanço de 1,47% e Usiminas, de 0,13%, ambos bem moderados no fechamento da sessão - outras empresas com receita em dólar, em alta nesta segunda-feira, foram melhor, como Klabin (+3,21%) e Suzano (+2,47%).
Na ponta do Ibovespa, Lojas Americanas mostrava alta de 19,88% no encerramento, à frente de Embraer (+7,40%) e de Cielo (+4,76%). Fatores intrínsecos a essas empresas justificam o descolamento observado ao longo da sessão: comunicado conjunto de que Americanas e B2W terão comitês especiais independentes para avaliar combinação de suas operações; a Cielo, possível oferta de aquisição primária (OPA); e Embraer, a perspectiva positiva de negociação entre a fabricante e a alemã Lufthansa sobre troca de pedidos de aeronaves.
 
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