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conjuntura

- Publicada em 23 de Fevereiro de 2021 às 21:29

Inflação do IGP-M é 412% maior que o IPCA em 2020; entenda a diferença entre os índices

Levantamentos refletem variações de preços em vários setores

Levantamentos refletem variações de preços em vários setores


Luciano Lanes /PMPA/divulgação/JC
Quando o assunto é alta no custo de vida e o impacto no poder de compra do brasileiro, não há como fugir da inflação. Ela reflete o aumento nos preços de produtos e serviços tão necessários no dia a dia, como alimentos, moradia, educação, combustíveis e energia elétrica.
Quando o assunto é alta no custo de vida e o impacto no poder de compra do brasileiro, não há como fugir da inflação. Ela reflete o aumento nos preços de produtos e serviços tão necessários no dia a dia, como alimentos, moradia, educação, combustíveis e energia elétrica.
Entre os principais índices de inflação, no País, estão o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Quando se analisa o desempenho de ambos no último ano, o susto é grande: em 2020, o IPCA teve alta de 4,52%, enquanto o IGP-M subiu 23,14% - uma diferença de 412% nos dois indicadores de inflação.  
Essa discrepância pode ser explicada pela composição de cada indicador. O IGP-M é uma variação do Índice Geral de Preços (IGP), que é o indicador do nível de atividade econômica do País e é divulgado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE).
O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do FGV IBRE, André Braz, explica que o IGP-M é uma média da inflação nos principais setores do Produto Interno Bruto (PIB), que leva em conta três índices de preços. A maior fração da composição do indicador, 60%, é ocupada pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que mede a inflação do agronegócio e da atividade industrial.
Na sequência, vem o Índice de Preço ao Consumidor (IPC), que mede a variação do custo de vida para as famílias e corresponde a 30%. Os 10% restantes são ocupados pelo Índice Nacional de Custo de Construção (INCC), que avalia a ampliação nos valores dos insumos utilizados na construção civil.
Já o IPCA, que é produzido mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mede apenas a inflação de produtos e serviços ligados ao consumo pessoal de famílias que possuem rendimento de 1 a 40 salários mínimos. Braz compara o índice ao IPC, que compõe o IGP-M, e afirma que o IPCA é mais restrito, já que não envolve outro setor, e também é menos sensível às mudanças cambiais.
O coordenador também avalia que muitos preços que compõem o IPCA acabaram não subindo em razão da pandemia, já que alguns serviços não estavam sendo oferecidos. Ele destaca que os preços dos alimentos também são analisados pelo índice e que foram impactados pela inflação do ano passado, subindo mais de 20%.
"O IGP-M é muito mais amplo, muito mais abrangente e também muito mais sujeito às variações cambiais", explica Braz, da FGV. De acordo com ele, sempre que há uma desvalorização grande do real em comparação com o dólar, o IGP-M acaba sendo afetado. Ele explica que isso ocorre porque os preços de muitos insumos agrícolas e industriais têm correlação grande com a taxa de câmbio, e muitos custos acompanhados pelo IPA são balizados pelo mercado internacional.

IGP-M deve seguir pressionado em 2021 com retomada econômica

André Braz avalia que diferença para o IPCA continuará grande

André Braz avalia que diferença para o IPCA continuará grande


BIANCA GENS/ FGV/DIVULGAÇÃO/JC
O coordenador do IPC do FGV IBRE, André Braz, estima que o IGP-M deve continuar pressionado neste ano, já que muitas economias do mundo estão com previsões otimistas em razão da vacina contra a Covid-19 - uma esperança para que a normalidade retorne no setor produtivo. "À medida que a economia mundial aquece, ela também demanda mais produtos, que vão ficando mais caros", explica.
Seguindo na projeção, Braz informa que a distância dos IGPs para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo ((IPCA) deve se manter elevada durante 2021, e relembra a última vez que o IGP-M teve percentual semelhante ao atual. De acordo com ele, em junho de 2003 o indicador acumulava alta de 28,68%, reagindo às incertezas que a eleição do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva traziam para a economia.
Braz relembra que, à época, o IPCA também estava mais alto, mas a diferença entre os indicadores era menor. Ele afirma que, assim como o IGP-M, o índice havia respondido mais fortemente à desvalorização cambial de 2003. "A atual talvez seja a maior diferença histórica acumulada dos dois e tem ligação com a Covid", comenta o coordenador.
Conforme Braz, a incerteza econômica em razão da pandemia fez com que as pessoas gastassem menos, com o objetivo de contrair menos dívidas e não prejudicar o orçamento familiar. Isso obrigou que muitos preços não fossem reajustados e que o IPCA praticamente não andasse durante 2020, deixando a inflação represada e registrando apenas a variação dos alimentos.

Reajuste dos aluguéis deve passar por negociação com inquilinos

Uso do IGP-M como indexador de contratos começou na década de 1990

Uso do IGP-M como indexador de contratos começou na década de 1990


MATEUS BRUXEl/ARQUIVO/JC
Para o diretor do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe), da Ufrgs, Leonardo Xavier da Silva, o uso do IGP-M para reajustar contratos de aluguel é algo inusitado em um cenário de economia estável. O economista relembra a origem da prática na década de 1990, quando o IGP-M passou a ser adotado como indexador dos aluguéis. "A gente tinha muita inflação e, como consequência disso, a necessidade dos proprietários de imóveis se resguardarem em relação às perdas que a inflação estava provocando".
Silva entende que, em razão da alta do IGP-M, deve haver negociação entre proprietários de imóveis e inquilinos. Segundo ele, uma atualização no preço do aluguel no mesmo patamar do indicador é algo inimaginável. A saída seria retirar do contrato as atualizações com base no índice e adequar o aluguel com a realidade da renda das famílias.
O economista afirma que, se houver insistência por parte dos proprietários para a manutenção de um índice, que esse índice tenha um comportamento mais estável. "Talvez o IPCA tenha essa capacidade, mas a dificuldade maior é, durante a vigência de um contrato, conseguir convencer o dono de um imóvel de que ele tem que trocar o indicador", destaca Silva. Ele ainda alerta que um aumento significativo nos aluguéis pode ocasionar em queda no número de imóveis alugados, e finaliza afirmando que o IGP-M tem a tendência de seguir subindo.

Saiba mais sobre os indicadores

IGP-M
É calculado levando em conta itens como bens de consumo (um exemplo é alimentação) e bens de produção (matérias-primas, materiais de construção, entre outros). Utilizado para reajustar contratos de aluguel e tarifas de energia elétrica.
Entram no cálculo do IGP-M
Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA): calcula a evolução dos preços de produtos agrícolas e industriais no setor de atacado entre o primeiro e o último dia do mês de referência;
Índice de Preço ao Consumidor (IPC): estima as variações do custo de vida das famílias com renda familiar entre 1 e 10 salários mínimos;
Índice Nacional de Custo de Construção (INCC): apura a evolução dos custos no setor da construção, um dos termômetros do nível de atividade da economia.
Variação em 2020: 23,14%
IPCA
Mede a variação dos preços de um conjunto de produtos e serviços vendidos no varejo e consumidos pelas famílias brasileiras. São eles: alimentação e bebidas; habitação; artigos de residência; vestuário; transportes; saúde e cuidados pessoais; despesas pessoais; educação; e comunicação. É a inflação oficial do Brasil, calculada pelo IBGE.
Variação em 2020: 4,52%
Fonte: IBGE e FGV