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Indústria automotiva

- Publicada em 13 de Janeiro de 2021 às 03:00

Governo sonda chineses para que assumam plantas da Ford no Brasil

Trabalhadores protestaram em frente à unidade da Ford em Taubaté (SP)

Trabalhadores protestaram em frente à unidade da Ford em Taubaté (SP)


Claudio CAPUCHO / AFP/jc
O Ministério da Economia montou um grupo de trabalho para avaliar o fechamento das fábricas da Ford no Brasil e está entrando em contato com outras montadoras sobre a possibilidade de elas assumirem as unidades da marca.
O Ministério da Economia montou um grupo de trabalho para avaliar o fechamento das fábricas da Ford no Brasil e está entrando em contato com outras montadoras sobre a possibilidade de elas assumirem as unidades da marca.
Já foram acionados pelo governo federal presidentes e outros executivos de três fabricantes mundiais para buscar um destino para as fábricas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e da Troller em Horizonte (CE) - a Ford anunciou na segunda-feira que vai encerrar completamente a produção de veículos no País. Serão 5 mil demitidos, segundo a empresa. Ontem, trabalhadores protestaram em frente à unidade paulista da Ford.
Segundo membros do governo, é possível que uma fabricante chinesa assuma ao menos uma das unidades. Apesar de os nomes serem mantidos em sigilo, é mencionado em conversas como uma possível candidata a Chery. A marca chinesa já tem no Brasil uma operação em parceria com a brasileira Caoa, mas a avaliação é que sua produção atualmente ainda é pequena no País. Ela não está sequer entre as cinco marcas com mais veículos vendidos em território nacional, e a visão entre integrantes do governo é que ela poderia ganhar força com uma expansão a ponto de incomodar os concorrentes.
A tendência é que o governo continue entrando em contato com empresas para obter um número relevante de interessados, uma medida que também foi colocada em prática pelos governos de São Paulo e Bahia. Mas a equipe econômica ressalta que a decisão de entrar nas fábricas é uma decisão das companhias e que dependerá da estratégia de cada interessado.
Membros do Ministério da Economia defendem que a decisão da Ford de sair do País não é uma notícia boa, mas que deve ser entendida mais como um reposicionamento da marca no atual cenário global do que exatamente na operação do Brasil. Integrantes do time reconhecem nos bastidores que este é o segundo caso similar em menos de um mês. A Mercedes-Benz anunciou o fechamento de sua única fábrica brasileira de veículos leves, em Iracemápolis (SP), no fim do ano passado.
Em ambos os casos, integrantes do Ministério ressaltam que os movimentos são estratégias particulares de cada empresa para enxugamento de custos e foco em produtos mais rentáveis. Múltiplos fatores são citados, como o reposicionamento global das marcas, as mudanças trazidas pela tendência dos carros elétricos, a competição estimulada pelos fabricantes asiáticos e o impacto nas vendas provocada pela Covid-19.
Mas o elemento mais importante mencionado é o custo Brasil, que estimula as empresas a buscarem alternativas de negócio mais rentáveis. Entidades como Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), CNI (Confederação Nacional da Indústria) e Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) corroboram essa visão.
Os membros da equipe econômica trabalham com uma lista de fatores que impulsionam o custo Brasil. O principal deles é o capital humano, que seria pouco capacitado e exige qualificações pagas pelas empresas. A lista segue com sistema tributário, infraestrutura e insegurança jurídica.
O presidente da Ford América do Sul, Lyle Watters, havia dito em comunicado em dezembro que os desafios enfrentados incluíam, além da redução significativa dos níveis de vendas e produção, a desvalorização do real. Segundo ele, isso aumenta os custos de se atuar no Brasil.
Segundo Watters, a expectativa era que a atividade econômica na América do Sul se recuperasse gradualmente em 2021, mas com o retorno de produção e vendas vistas em 2019 somente em 2023.

"Ford quer subsídios", diz Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta terça-feira (12) que faltou à Ford "dizer a verdade" sobre o que motivou sua saída do Brasil, e afirmou que a empresa queria a continuidade de benefícios fiscais no País para manter as operações.
"Mas o que a Ford quer? Faltou à Ford dizer a verdade, querem subsídios. Vocês querem que continue dando R$ 20 bilhões para eles como fizeram nos últimos anos - dinheiro de vocês, impostos de vocês - para fabricar carros aqui? Não, perdeu a concorrência, lamento", declarou o presidente, na saída do Palácio da Alvorada.