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bebidas

- Publicada em 18 de Novembro de 2020 às 20:19

Escassez de embalagens preocupa a indústria

Demanda por vidro aumentou além do esperado neste ano

Demanda por vidro aumentou além do esperado neste ano


ANTONIO PAZ/ARQUIVO/JC
Se o leitor não abre mão de beber aquele vinho, espumante ou cerveja da sua marca preferida nas festas de final de ano, talvez seja hora de comprar enquanto a oferta é garantida. A indústria está com dificuldade para obter embalagens para esses produtos, o que acaba se refletindo nas prateleiras. 
Se o leitor não abre mão de beber aquele vinho, espumante ou cerveja da sua marca preferida nas festas de final de ano, talvez seja hora de comprar enquanto a oferta é garantida. A indústria está com dificuldade para obter embalagens para esses produtos, o que acaba se refletindo nas prateleiras. 
Produtores, fabricantes de embalagens e varejistas afastam a possibilidade de falta de mercadorias nos supermercados, bares e adegas. O que vai acontecer é uma acomodação tanto na cadeia produtiva quanto no varejo. Por exemplo: talvez a embalagem do produto esteja diferente ou o comprador tenha que levar para casa uma bebida de uma marca diferente daquela que está acostumado.
A dificuldade em obter matéria-prima suficiente para produção foi uma das grandes dificuldades vividas pela indústria, incluindo a gaúcha, este ano. Em muitos segmentos a demanda aumentou além do esperado e as fabricantes não estão conseguindo corresponder às necessidades do mercado. Nesse caso não é diferente. Com um pequeno detalhe: as fabricantes de bebida estão dando conta do aumento, mas as de embalagens não. E a oferta de garrafas de vidro e latas de alumínio está reduzindo justamente na época em que as vendas crescem - com a chegada do verão e das festas de Natal e Ano Novo.
O fenômeno não é inédito. Pelo menos desde 2018 a produção nacional de embalagens não consegue acompanhar o crescimento da indústria cervejeira e vinícola. Mas em 2020 o quadro se agravou.
Os principais motivos apontados são a incerteza trazida pela pandemia de Covid-19 e a mudança nos hábitos do consumidor. Inseridos em um quadro completamente inesperado e ante um cenário futuro difícil de projetar, as fabricantes de bebidas colocaram o pé no freio em abril e optaram por não ousar nas encomendas de garrafas e latas para o segundo semestre. As produtoras de garrafas de vidro diminuíram a extração em seus fornos e as de latas de alumínio também resolveram sentir o ânimo do mercado.
O que elas não esperavam é que o consumo aumentasse e com características diferentes das que eram percebidas antes do novo coronavírus. As pessoas deixaram de beber em bares e restaurantes, mas não abriram mão de brindar.
As compras passaram a ser feitas em supermercados e, em vez de pedir a famosa garrafa retornável de cerveja na mesa do bar, a escolha passou a ser por latinhas e garrafas one way (descartáveis). Bebendo em casa, o vinho também passou a estar mais presente à mesa - ou no sofá, à frente do computador e da televisão. As produtoras de embalagens se viram saturadas pela demanda.
Depois, quando a cadeia estava começando a dar conta dessa nova demanda, em outubro, houve a reabertura de bares e restaurantes nas grandes cidades, explica o presidente da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), Paulo Petroni. E de uma hora para outra todos queriam voltar a comprar. Mais um desafio inédito foi lançado.
Na falta de bebidas prontas para suprir os estoques, esses estabelecimentos, inclusive, tiveram de realizar compras diretamente no varejo para retomar os negócios, lembra o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antonio Cesa Longo. Isso gerou mais uma pressão nas gôndolas. Porém, agora o varejo gaúcho está preparado e não vai faltar bebida para colocar no carrinho. "O cliente pode ter que abrir mão de alguma marca de sua preferência, mas as pessoas vão continuar encontrando produtos de qualidade", salienta.
"Novembro e início de dezembro serão, sem dúvida, meses de adequação dos estoques. Esperamos que quando começar o verão, no final de dezembro, tudo estará normalizado", complementa Petroni. O mesmo é projetado pelo setor de vinhos e espumantes. 
O enólogo e membro da Associação Brasileira de Enologia, Darci Dani lamenta a dificuldade principalmente entre os pequenos fabricantes de espumantes. Mas, assim como espera o presidente da Federação das Cooperativas de Vinho do Rio Grande do Sul, Hélio Marchioro, acredita que é momento para buscar saídas, "como o uso de garrafas escuras, para dar conta de escoar a produção. "Está longe de ser o ideal, porque o consumidor não está acostumado. Vamos ter de contar com a compreensão", avisa Marchioro.
A dica para aqueles varejistas que estão com receio de ficar sem mercadoria para reposição é diversificar o mix de fornecedores. No Rio Grande do Sul, isso pode significar dar preferência aos pequenos produtores locais com produtos armazenados, tirando proveito da proximidade com o polo cervejeiro artesanal e com as pequenas empresas de vinhos e espumantes.

Dólar alto impede ampliação na produção de garrafas de vidro

A alta do dólar tem impacto direto nas fabricantes de garrafas de vidro no Brasil. Além de tornar inviável a importação de matéria-prima, o interesse em ampliar a produtição cai por terra quando as fábricas examinam os custos.
O presidente-executivo da Abividro, Lucien Belmonte, lembra que o investimento não pode ser feito apenas com base na demanda. "Para investir tem que ter retorno sobre o investimento. Com a volatilidade do dólar, o preço do gás e a dificuldade em repassar esse aumento ao preço da garrafa, não tem como", analisa Belmonte.
O real foi a moeda que mais se desvalorizou em relação ao dólar este ano e o poder de compra do brasileiro é incapaz de assimilar mais uma alta no preço final desses produtos. "O resultado estamos vendo: falta alumínio, falta aço para a construção civil e falta vidro", sintetiza. "Onde está o senhor (ministro da Economia) Paulo Guedes que não está olhando para isso?", questiona.

Indústria de latas quer ampliar fatia de mercado

Cátilo Cândido diz que o setor investiu R$ 1 bilhão em ampliações

Cátilo Cândido diz que o setor investiu R$ 1 bilhão em ampliações


/Abralatas/Divulgação/JC
A situação das fabricantes de latas de alumínio é um pouco diferente das de vidro. Os investimentos têm sido feitos e o aumento na produção está acontecendo. A surpresa foi que, neste ano, a demanda por latinhas cresceu muito acima do esperado, de acordo com o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Lata de Alumínio (Abralatas), Cátilo Cândido.
O preço do alumínio, cotado na Bolsa de Metais de Londres, e o valor do maquinário, adquirido no mercado internacional, têm influência sobre a produção brasileira. Mas as 24 fábricas de latinhas instaladas no País têm conseguido crescer, acompanhando o desejo do consumidor por esse formato de embalagem.
O setor cresceu 8,5% em 2018 ante 2017 e 13,7% em 2019 em relação ao ano anterior. Em 2020, a expectativa é manter-se em alta. "Abril foi um mês de observação. A partir de maio começou um crescimento forte e teve grande aumento de demanda. Crescemos dois anos em dois meses entre maio e julho", comemora Cândido.
Antes da pandemia, as latas de alumínio representavam pouco mais de 50% do envasamento total das cervejas brasileiras. No final deste ano, este percentual deve se aproximar de 70%.
Os investimentos para ampliação do parque industrial em 2020 se aproximam de R$ 1 bilhão. "Já foram anunciadas duas novas fábricas e a expansão de linhas de produção", comenta Cândido.