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Economia

- Publicada em 10 de Julho de 2020 às 03:00

'O crédito não chegou para o pequeno lojista', avalia presidente da ABLOS

Tito Bessa Junior diz que é urgente repensar condições de contratos em shoppings

Tito Bessa Junior diz que é urgente repensar condições de contratos em shoppings


ABLOS/DIVULGAÇÃO/JC
Adriana Lampert
Com faturamento chegando a 25% do que alcançavam antes da pandemia de Covid-19, milhares de pequenos e médios varejistas de shoppings correm risco de fechar perante a crise econômica no País. A avaliação é do presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (ABLOS), Tito Bessa Junior, que alerta para a necessidade destes empreendimentos revisarem contratos com os locatários, adequando os valores cobrados à nova realidade criada a partir dos decretos de isolamento social em diversos estados brasileiros nos últimos quatro meses. "Enquanto lutam para sobreviver com o baixo desempenho que estão tendo durante a pandemia, os proprietários de lojas satélites seguem tendo que direcionar 25% de suas vendas para o pagamento de aluguel, condomínio e fundo de promoção para os shoppings-centers", observa o dirigente da ABLOS. Bessa Junior alerta que "se esta relação não for reinventada", haverá fechamento massivo de operações do setor. Estas empresas, segundo ele, respondem por uma cadeia produtiva que emprega entre 4 e 5 milhões de pessoas, entre vendedores e fornecedores.
Com faturamento chegando a 25% do que alcançavam antes da pandemia de Covid-19, milhares de pequenos e médios varejistas de shoppings correm risco de fechar perante a crise econômica no País. A avaliação é do presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (ABLOS), Tito Bessa Junior, que alerta para a necessidade destes empreendimentos revisarem contratos com os locatários, adequando os valores cobrados à nova realidade criada a partir dos decretos de isolamento social em diversos estados brasileiros nos últimos quatro meses. "Enquanto lutam para sobreviver com o baixo desempenho que estão tendo durante a pandemia, os proprietários de lojas satélites seguem tendo que direcionar 25% de suas vendas para o pagamento de aluguel, condomínio e fundo de promoção para os shoppings-centers", observa o dirigente da ABLOS. Bessa Junior alerta que "se esta relação não for reinventada", haverá fechamento massivo de operações do setor. Estas empresas, segundo ele, respondem por uma cadeia produtiva que emprega entre 4 e 5 milhões de pessoas, entre vendedores e fornecedores.
Jornal do Comércio - Quais foram os impactos da crise sobre os lojistas de shoppings nos primeiros meses de pandemia do novo coronavírus no Brasil?
Tito Bessa Junior - Foram quase quatro meses de perdas em faturamento, sendo que neste período passamos por duas datas (Dia das Mães e Dia dos Namorados) importantíssimas para o varejo. As poucas empresas que se mantiveram abertas neste tempo trabalharam com muitas limitações. Em São Paulo, o comércio reabriu há 30 dias, mas o faturamento das empresas não tem ultrapassado 25% dos resultados que se conseguia antes da pandemia. Não bastasse isso, os administradores de shopping-centers insistem em cobrar das lojas satélites o mesmo valor cobrado antes desta crise - só que não tem mais como seguir como era (uma vez que tradicionalmente as lojas satélites bancavam os subsídios concedidos às âncoras nestes empreendimentos), pois a realidade mudou drasticamente.
JC - Nem mesmo o programa de crédito do governo federal destinado a dar suporte para pequenas e médias empresas tem ajudado estes lojistas a sustentarem seus custos?
 
Bessa Junior - O tão falado crédito do governo federal não chegou da forma como deveria para os pequenos. A verdade é que os bancos estão escolhendo para quais empresas conceder crédito. O agravante é que muitos destes varejistas, que estão sofrendo prejuízos, vinham recém entrando em uma recuperação da crise econômica de 2014. Agora, a pandemia e a necessidade de isolamento social jogaram todos eles para dez anos atrás. Muita gente está fechando loja no País, e é possível que os números superem os da crise anterior, quando 105 mil operações de varejo (de rua e shopping) fecharam as portas. Imagina agora em um cenário que se ficou mais de 90 dias sem vender. O pior ainda está por vir - muita gente que acreditava que iria se recompor está percebendo que, a cada dia que passa, está mais difícil. Infelizmente, muitas pequenas e médias empresas não irão sobreviver a esta crise se a situação permanecer da mesma forma por mais três ou quatro meses. E os bancos seguem preferindo conceder crédito para quem não precisa, reforçando os grandes em detrimento dos pequenos - a exemplo do que ocorre na relação contratual com os shoppings, onde as grandes marcas repassam apenas 3% (em média) das suas vendas para os empreendimentos, graças aos subsídios que recebem. 
JC - Porque existe esta vantagem das âncoras em relação às lojas satélites?
Bessa Junior - Os shoppings sempre cobraram mais dos pequenos para dar subsídios para as grandes marcas argumentando que as âncoras é que levam fluxo de pessoas para os empreendimentos. Mas já está mais do que provado que o tripé de um shopping center é segurança, conforto e mix de produtos. Não conheço nenhum shopping formado somente por lojas âncoras, pois o que vale nestes empreendimentos é a variedade, caso contrário há pouca atratividade. Por outro lado, conheço empreendimentos que não têm lojas de grandes marcas, mas oferecem mix diverso e têm grande fluxo de público, a exemplo do Shopping Total e do (I Fashion) Outlet Novo Hamburgo. Aliás, nestes dois empreendimentos, os lojistas pagam aluguéis com preços mais atrativos, porque a cobrança é a mesma para todos. Fato é que, se continuarem os privilégios das grandes marcas em contratos de aluguel de shoppings, ficará inviável para as lojas satélites permanecerem nestes empreendimentos. Aquelas que não quebrarem, possivelmente terão que migrar as operações para a rua. Se essa relação comercial não for reinventada, vejo um futuro muito ruim para o lojista de shopping center. Não tem como pagar um boleto inteiro se você estiver faturando apenas 25% do habitual.
JC - Como funcionam estes contratos, em geral?
Bessa Junior - As lojas satélites custeiam 50% do shopping, pagando aluguel, condomínio e fundo de promoção, somando valores que representam 25% das vendas destas empresas. Os outros 50% são cobertos por grandes restaurantes e lojas de departamento, que por sua vez pagam de 2% a 4% de suas vendas para a administração dos shoppings. Isso vem matando a margem dos pequenos neste momento de pandemia. Não é mais justo pensar que, se você quer operar uma loja de 2 mil metros quadrados, você deve pagar por isso? Enquanto o custo de uma loja pequena chega a R$ 400,00 por metro quadrado, uma âncora paga R$ 25,00 pela mesma metragem. O correto seria que todos dividissem os custos e pagassem o mesmo valor por metro quadrado. É urgente que se revejam contratos e impostos cobrados dos pequenos e médios empresários. Na necessidade de se suportarem, estas operações acabam reduzindo estruturas, fechando lojas e demitindo funcionários em um primeiro momento, e em um segundo momento, acabam fechando as portas. Se não chegar o dinheiro do governo e se os locadores não se recompuserem com os contratos, repito, vai ter fechamento massivo de empresas.
JC - No Rio Grande do Sul, o comércio funcionou durante o Dia das Mães e Dia dos Namorados, mas os resultados ficaram aquém do cenário pré-pandemia e agora um novo decreto fechou novamente a maioria das operações, ficando permitido somente as que trabalham com produtos e serviços essenciais. Qual sua avaliação sobre este cenário?
Bessa Junior - Abrir e fechar é muito pior - era melhor terem ficado fechados. Mas agora nossa expectativa é que a maior parte das cidades brasileiras esteja com a economia aberta novamente até o final de julho. Mas será fundamental não só os empresários, mas as administrações dos shoppings passarem por um processo de mudança, pois os hábitos de consumo estão passando por uma transformação global, e não tem como negar. As compras online, que antes representavam 3% das vendas do varejo, alcançaram a marca de 30% das vendas. Tudo indica que o e-commerce deve passar a absorver uma fatia de 20% das vendas que antes ocorriam em operações físicas. 
JC - Uma outra saída para as pequenas e médias seria investir no comércio online?
Bessa Junior - O Magazine Luiza, que é a empresa que mais vale no Brasil, é um case de que o comércio online funciona. A rede já conta com 50% das vendas pela internet. Eles estão sinalizando que esta é uma solução. Mas aí entra uma outra questão: o custo de uma operação como a do Magazine Luíza na rua (onde todos os lojistas pagam a mesma coisa) fica gira em torno de 2% a 3%, visto que seu produto tem valor agregado. Este ainda não é o caso da maioria das empresas no País.
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