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Economia

- Publicada em 29 de Junho de 2020 às 22:24

Alta do dólar impacta resultados da Taurus

Salesio Nuhs espera reverter o resultado já no segundo trimestre

Salesio Nuhs espera reverter o resultado já no segundo trimestre


TAURUS/DIVULGAÇÃO/JC
Cristiano Vieira
A variação cambial impactou os resultados da fabricante gaúcha de armas Taurus. Embora a receita tenha subido de R$ 249 milhões no primeiro trimestre do ano passado para R$ 297 milhões de janeiro a março deste ano, a companhia teve um prejuízo de R$ 157 milhões. Isso se deve ao fato de que 86% da dívida da empresa está atrelada ao dólar.
A variação cambial impactou os resultados da fabricante gaúcha de armas Taurus. Embora a receita tenha subido de R$ 249 milhões no primeiro trimestre do ano passado para R$ 297 milhões de janeiro a março deste ano, a companhia teve um prejuízo de R$ 157 milhões. Isso se deve ao fato de que 86% da dívida da empresa está atrelada ao dólar.
Considerando a cotação de fechamento dos trimestres, a valorização do dólar chegou a 33,4%. Para o CEO da Taurus, Salesio Nuhs, a expectativa é reverter o resultado já no segundo trimestre, uma vez que as vendas seguem em alta, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, e o dólar, mesmo elevado, tem relativa estabilidade. Nesta entrevista, Nuhs fala sobre uma renegociação de R$ 123 milhões que a empresa fez com bancos e adianta que a Taurus negocia uma joint-venture com uma empresa brasileira do ramo automotivo.
Jornal do Comércio - A empresa terminou o primeiro trimestre deste ano com um resultado negativo de R$ 157 milhões. Foi impacto da alta cambial?
Salesio Nuhs - Sim, mas o que houve na prática? No último dia de março deste ano, dia 31, ocorreu o pico de alta do dólar daquele período (fechou em R$ 5,19). Então a minha dívida foi transformada em reais no último dia do trimestre, o que é normal, só que pegou o valor mais alto. A nossa receita do primeiro trimestre não acompanhou a alta do dólar. A dívida foi impactada pelo dólar em 33,4%, mas a nossa receita subiu 18%. E o dólar, hoje, segue naquele patamar de março, quando fechamos os resultados. O que acontecerá agora, no fechamento do segundo trimestre? A dívida continuará a mesma e vou receber o impacto do dólar na receita. Então, iremos reverter, no segundo trimestre, o resultado negativo do primeiro. E não estou aqui antecipando nada, é só acompanhar o mercado, o dólar permaneceu alto. E nossa dívida está em dólar porque 85% do nosso faturamento é em dólar.
JC - Em junho, a Taurus renegociou com bancos um total de R$ 123 milhões. Esse movimento tem a ver já com o coronavírus?
Nuhs - Sim. Primeiro, a gente tinha uma parcela da dívida que ia vencer agora em junho. Nós optamos em conversar com os bancos e parcelar essa dívida pelo momento da pandemia. Por quê? A gente preferiu ficar com um caixa mais flexível, menos apertado, até por conta dos nossos fornecedores. O Brasil e o mundo inteiro estão passando por um problema econômico muito grande. Ficamos com receio de que nossos fornecedores tivessem problemas de caixa e não nos entregassem as peças. Preferimos o caixa mais folgado para antecipar pagamento aos fornecedores, caso necessário. Todos nós entendemos que, no atual momento, o dólar está bem estressado. A tendência é reduzir um pouco. E mostra, também, uma confiança dos bancos na atual gestão da Taurus. Isso mostra credibilidade.
JC - As vendas nos Estados Unidos seguem elevadas por uma cultura norte-americana do uso das armas, mas também um temor devido ao coronavírus?
Nuhs - São diversos fatores. Primeiro, estamos em um ano eleitoral por lá. É uma característica do consumidor americano comprar armas em ano de eleição presidencial. As vendas aumentam porque há uma possibilidade de que, ao mudar o governo, mudem as regras, com restrições às armas. Isso é histórico. Já seria um ano bom, no nosso caso, só por este aspecto - mas com a pandemia, aumentou mais ainda. O americano raciocina assim: qualquer ameaça que ele sinta à liberdade dele, ele compra arma. Isso é natural deles. Recentemente, com a questão racial e os distúrbios por lá, aumentou ainda mais.
JC - A fábrica na Georgia é para abastecer o mercado norte-americano ou parte é exportada?
Nuhs - Tudo que produzimos nos Estados Unidos fica lá. E mais 85% da nossa produção no Brasil segue para os Estados Unidos. Hoje, a Taurus é o segundo maior exportador de armas para lá e somos a quarta marca de armas mais vendida nos Estados Unidos.
JC - Essa unidade foi inaugurada ano passado? E é a mesma para onde foi transferida uma linha de produção que ficava em São Leopoldo?
Nuhs - Sim, abrimos no fim do ano passado. No início deste ano, a média diária era de 750 armas na Georgia. Hoje, produzimos 1,5 mil por dia. No Brasil, no primeiro trimestre, a média diária era de 3,5 mil armas, e hoje fabricamos mais de 5 mil armas/dia. Levamos para uma linha de TS-9, de pistolas, e estamos mandando para lá a segunda linha, de G2C, que é a arma mais vendida hoje no mundo. Não estamos diminuindo postos de trabalho aqui em São Leopoldo com essas transferências, pelo contrário. Contratamos mais este ano.
JC - E porque não produzir mais aqui, então?
Nuhs - Estamos estrangulados do ponto de vista de investimentos. Aqui temos uma questão regulatória diferente, temos a questão tributária e não há opção de financiamento. Eu não estou nem falando de benefício fiscal, mas sim de crédito para aumentar a produção no Brasil. Não existe, no meu caso. Ao passo que, lá na Georgia, além do benefício fiscal, o governo do estado investiu US$ 42 milhões na fábrica.
JC - Hoje, a capacidade produtiva atende à demanda por armas, no caso da Taurus?
Nuhs - Não. No atual momento, a demanda é muito maior, e não só para a Taurus, mas todas as empresas. Hoje, produzimos 6,5 mil unidades por dia, juntando as duas fábricas. Já atingimos nosso limite de produção para este ano. E existe uma expectativa grande.
JC - Em relação ao mercado norte-americano?
Nuhs - E o brasileiro também. No primeiro trimestre, nossa receita líquida no mercado interno aumentou 48,5%. As vendas por aqui também estão aquecidas. Claro que o Brasil a gente consegue atender porque são quantidades ainda pequenas se comparadas ao mercado dos EUA.
JC - A Taurus anunciou, também, uma possível joint venture com uma empresa brasileira do ramo automotivo, mas não deu mais detalhes. Seria uma fornecedora?
Nuhs - Temos um acessório metálico, um componente, cuja quantidade de produção é pequena no Brasil e importamos uma quantidade grande. A ideia é, com esse fornecedor, desenvolver uma empresa para atender as necessidades da Taurus, aqui e nos Estados Unidos, e vender o excedente para o mercado civil. É um novo negócio, no qual teremos um controle maior: vamos produzir e com a nossa tecnologia. Poderemos fornecer para terceiros.
JC - A pandemia do coronavírus tem afetado a economia de modo negativo, e as empresas estão se adaptando a este cenário. Como tem sido para a Taurus?
Nuhs - É um desafio enorme. No dia 3 de março, criamos um comitê da Covid-19. Viramos a fábrica aqui de São Leopoldo de pernas para o ar no sentido de distanciamento e de prevenção. Aumentamos o restaurante duas vezes e meia para atender as pessoas, com segurança, durante as refeições. Não tivemos nenhuma transmissão aqui dentro.
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