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Sistema financeiro

- Publicada em 24 de Junho de 2020 às 19:33

Tentativas de fraudes aumentam durante a pandemia

Para Jorge Krug, do Banrisul, combater engenharia social é desafio

Para Jorge Krug, do Banrisul, combater engenharia social é desafio


LUIZA PRADO/JC
O período de isolamento social aumentou as tentativas de fraudes no sistema financeiro. Segundo os grandes bancos, além da maior quantidade de aplicativos falsos que surgiram nas lojas dos sistemas Android e Apple durante a quarentena, o número de fraudes por contato presencial, telefônico ou por canais digitais também cresceu nas instituições.
O período de isolamento social aumentou as tentativas de fraudes no sistema financeiro. Segundo os grandes bancos, além da maior quantidade de aplicativos falsos que surgiram nas lojas dos sistemas Android e Apple durante a quarentena, o número de fraudes por contato presencial, telefônico ou por canais digitais também cresceu nas instituições.
Segundo o diretor de segurança private do Itaú Unibanco, Adriano Volpini, a intensificação do uso dos canais digitais tem gerado um maior desafio para os bancos e uma grande oportunidade para os fraudadores.
O movimento intensifica a chamada engenharia social: uma manipulação psicológica na qual o criminoso entra em contato direto com o cliente, o faz acreditar que se trata de um contato do banco, e o incita a passar informações confidenciais, a baixar algum aplicativo ou a realizar transações financeiras em seu nome, por exemplo.
"Isso se materializou de uma forma mais evidente agora, durante a pandemia. Os clientes em casa e diante de uma maior sensibilidade ao tema de isolamento social, estão mais aptos a receber e aceitar propostas de contato físico ou remoto", informou Volpini.
De acordo com o superintendente-executivo de prevenção a fraude do Bradesco, Bruno Fonseca, mesmo os clientes que são nativos digitais - ou seja, que já entraram no banco pelos canais digitais - estão caindo em golpes.
"Esse é o principal desafio que vemos na convergência acelerada para o mundo digital. Infelizmente as fraudes que acontecem acabam sendo bastante seguras porque é o cliente que faz a pedido do fraudador, não há uma invasão de sistemas, por exemplo", afirma.
Entre os exemplos citados pelos executivos de fraudes bancárias que aumentaram durante a quarentena estão: o download de aplicativos falsos, por instrução de fraudadores, que deixam o aparelho do cliente vulnerável; a oferta de ajuda, na qual o fraudador pede dados pessoais e do cartão de crédito; e o contato telefônico ou via Whatsapp, no qual os fraudadores afirmam que o cliente precisa entregar o cartão e até mesmo se oferecem para buscá-lo.
Os executivos dos grandes bancos afirmam que abril foi o mês de maior número de aplicativos falsos nas lojas. O volume chegou a multiplicar 10 vezes no período, afirmaram.
Para o diretor de tecnologia do Banrisul, Jorge Krug, o maior desafio do sistema bancário é o de combater a engenharia social. "Cabe a nós, bancos, combater de forma similar [a engenharia social], conversando com nossos clientes e trazendo-os para o nosso mundo. Talvez seja a parte mais difícil de ser feita, mas é necessário. Toda a parte de tecnologia já está muito bem implementada", informou.
Os executivos afirmam, ainda, que há a necessidade de punição desses criminosos. Segundo Volpini, do Itaú, o sistema financeiro aguarda a provação do PL (projeto de lei) 2638, do deputado Marcelo Ramos (PL/AM), que dispõe da tipificação de furto mediante fraude eletrônica.
"[A aprovação desse PL] é uma necessidade, já que a incerteza da impunidade gera um incentivo e um impulso maior para que o crime aconteça. Seria uma conquista não só para o sistema financeiro, mas para a sociedade, já que quanto mais disciplinada forem as transações, mais todos se beneficiam", afirmou o diretor do Itaú.

Open banking pode ameaçar setor bancário, diz Bradesco

O membro do conselho de administração do Bradesco e ex-vice-presidente de tecnologias e operações do banco, Maurício Minas, disse nesta quarta-feira que o sistema bancário precisa enxergar o open banking de maneira cuidadosa.
O motivo para a cautela, segundo o executivo, seria a regulamentação do modelo que considera um desafio e até mesmo uma ameaça ao setor. Minas não detalhou, porém, quais ameaças enxerga na regulamentação do novo sistema.
"É uma regulação extremamente agressiva e até assimétrica em relação ao banco incumbente [os grandes]. Mas ela está aí e nós precisamos ter técnicas ou estratégias de defesa em relação a isso", afirmou Minas durante o Ciab, congresso de tecnologia bancária promovido anualmente pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Um dia antes, o Banco Central anunciou que aprovou as regras para a estrutura inicial de governança do open banking. A estrutura será dividida em três níveis: estratégico, representado pelo conselho deliberativo do BC; administrativo, formado pelo secretariado, e o técnico, composto pelos grupos técnicos.
O modelo deverá ser formalizado até 15 de julho e deve ser substituído por uma estrutura definitiva até a implementação da última etapa do open banking, em 25 de outubro de 2021.
O open banking, também conhecido como sistema financeiro aberto, consiste na adoção de tecnologia padronizada e permite que clientes decidam como acessar e com quem compartilhar seus dados financeiros. Uma das maiores discussões no mercado para a adoção do sistema aberto, no entanto, é a responsabilização sobre a segurança dos dados.
Apesar de o open banking estabelecer que as informações do cliente pertencem a ele e não às instituições, questões sobre a responsabilidade no transporte de dados (quem responderia no caso de um vazamento de informações, por exemplo), o custo operacional para essa troca de informações e a viabilidade desse preço para adoção por parte das fintechs, e a competitividade que o novo sistema traz foram alguns dos debates no setor financeiro ao longo do tempo.
Segundo Minas, do Bradesco, no entanto, o novo modelo é também uma oportunidade para o mercado bancário. "É uma agenda de ataque onde nós podemos, de fato, desenvolver negócios. E temos que lembrar que nós, os bancos incumbentes, temos um portfólio cheio de produtos, credibilidade, funding, balanço, riscos sob controle e uma experiência adquirida de décadas em segurança. São diversas as coisas que sabemos fazer e que podem ser colocadas no mercado", disse.
Para o diretor de tecnologia da informação do Santander, Marino Aguiar, além de acelerar o processo de digitalização dos bancos, o maior movimento tecnológico também exigiu a criação de experiência mais fluidas entre os canais físicos e digitais.
"Existe toda uma lógica para operar em um ecossistema. É uma iniciativa que está começando, e fica cada vez mais evidente que existe não só vontade, mas instrumentos técnicos e regulatórios necessários para que a economia funcione nesse sistema", disse.
De acordo com o diretor de tecnologia do Itaú, Estevão Lazanha, o sistema aberto acompanha o maior uso dos canais digitais, movimento intensificado pelo momento de crise do coronavírus.
"Quando pensamos em quais outros negócios podem ser gerados, as possibilidades são reflexos da mudança de comportamento e de expectativa que a sociedade tem sobre os canais digitais. O open banking abre uma fronteira e vejo um horizonte bastante promissor", afirmou.
Dentre os demais legados deixados pela crise do coronavírus, os executivos dos principais bancos do país também reforçam a adoção do home office.
Segundo o diretor de tecnologia do Banco do Brasil, Gustavo Fosse, o banco estatal tem o projeto de deixar cerca de 10.000 trabalhadores em home office em um momento pós-pandemia - número que responde a pouco mais de 10% do quadro geral de funcionários.
"Existem muitas coisas que vamos levar para o futuro e, quando falamos de um novo modelo de trabalho, não falamos apenas de home office. As pessoas passarão a trabalhar por objetivo e não por entrega, por exemplo, precisaremos aplicar técnicas ágeis para fluir ideias. O diferencial competitivo são os talentos que eu coloco na empresa", afirmou Fosse.