Afirmando “surpresa” com as medidas de restrição, representantes de entidades lojistas das quatro regiões classificadas com bandeira vermelha no último sábado alegam estar servindo como um “símbolo” na luta contra a pandemia de Covid-19 no Estado. Para a maioria, se as empresas passarem mais tempo de portas fechadas haverá um efeito bastante negativo na economia. “É injusto com o setor, pois não é o comércio que está causando a disseminação do vírus”, avalia o presidente da Associação Gaúcha para o Desenvolvimento do Varejo (AGV), Sérgio Galbinski. Destacando que, mesmo no período de flexibilização o desempenho das vendas já estava abaixo de 50% do que em períodos de normalidade, o dirigente ressalta que os empresários “entendem que aumentou o contágio”, mas o caminho seria “um pacto com a população para que todos seguissem as regras de higiene”.
"Esperamos que recalculem e reconsiderem essa classificação”, destacou a presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Santa Maria, Marli Rigo, antes da decisão do governador Eduardo Leite, à tarde, de levar a cidade para a bandeira laranja. “Fomos prejudicados. Temos mais sete leitos oficiais que não foram lançados na estatística, e se estivessem lá não teríamos entrado na bandeira vermelha.”
A presidente do CDL-Santa Maria afirma que 80% da economia do município depende do comércio, e informa que o fato das atividades terem sido interrompidas por 60 dias já ocasionou desemprego. “Foram fechadas cinco mil vagas e teve várias empresas que já não abriram mais durante a flexibilização. Estamos respeitando as medidas, mas se precisarmos paralisar de fato será um caos sistêmico irreversível.”
“Isso é um baque forte para os lojistas que voltaram a operar”, concorda Galbinski. “Semana passada estava frio e estávamos vendendo, ainda que fosse menos que a metade que do ano passado, mas estávamos operando, mantendo a comunicação com os clientes”, observa. “Se ficarmos mais 15 dias parados depois de 60 dias fechados vai quebrar muita empresa”, completa. O dirigente da AGV observa que faltou criação de leitos hospitalares que sejam suficientes, e que as regras de distanciamento e higiene estavam ocorrendo dentro das lojas.
“Estávamos em um recomeço, em um reinventar, e estava dando certo. De repente esta paralisação de novo causa pavor, medo e pânico, estamos aguardando a revisão dos cálculos”, reforça Marli Rigo, de Santa Maria.
Já o presidente da CDL-Santo Ângelo, José Nilto de Oliveira, comenta que as medidas abalaram o setor. “No final de semana tivemos uma reunião com o comitê de crise da cidade e com o prefeito e estava tudo normal. Aí dois dias depois surge a notícia da bandeira vermelha, o pessoal ficou apavorado”, disse ele – assim como Santa Maria, Santo Ângelo também voltou para a bandeira laranja ontem à tarde.
De acordo com Oliveira, em Santo Ângelo as vendas já estavam baixas. “As pessoas estão evitando sair de casa, o movimento vai custar a voltar ao normal, só os supermercados estão com os negócios mais aquecidos.”
“Será uma catástrofe pelos próximos dois anos, com lojas fechadas e desemprego”, dispara o presidente da CDL de Uruguaiana, João Batista Saldanha. “Ficamos 30 dias fechados, criamos toda uma estrutura, estamos isolados, longe das outras cidades e não há sequer um paciente na internado por Covid-19 no município”, alega o dirigente, lamentando a bandeira vermelha, mantida pelo governo do Estado.
Ao destacar que há um hospital de campanha fechado por falta de pacientes na cidade, Saldanha diz que a “esperança” é que o governador Eduardo Leite revise a classificação de Uruguaiana. “Não somos contra o distanciamento, e estamos cumprindo todos os protocolos mas não podemos estar inseridos em uma região macro, porque estamos sem problema nenhum e somos uma micro região.”