As famílias gaúchas estão mais endividadas, segundo aponta a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) divulgada pela Fecomércio-RS nesta terça-feira (2). Depois de nove quedas consecutivas mensais, o percentual de famílias endividadas voltou a subir e registrou 61,0% ante 59,1% em abril, influenciado pelo grupo de famílias com renda menor que dez salários-mínimos (80,7% da amostra), que tiveram aumento de 61,7% em abril para 65,2% em maio. Os dados foram coletados nos últimos dez dias do mês passado e mostram os efeitos da pandemia do novo coronavírus.
Em um momento em que muitas famílias tiveram redução inesperada de renda, a utilização do crédito é a alternativa para manter momentaneamente o consumo corrente. Na PEIC-RS de maio, o cartão de crédito (tipo de dívida mais comum entre as famílias) teve novo avanço, sendo utilizado por 88,3% dos endividados. Para aqueles que já tinham acesso a esse meio, o resultado pode estar relacionado a um uso maior tanto para permitir a continuidade do consumo de bens básicos momentaneamente, quanto como forma pagamento compras online, sobretudo alimentos e refeições.
A pesquisa destacou também que, com a redução abrupta do consumo de bens e serviços diante do isolamento social, a parcela da renda direcionada a esses itens teve redução, movimento que pode ajudar a explicar a intensificação da queda da parcela de renda correspondente a dívidas, com o comprometimento médio da renda das famílias ficando em 21,0%, menor valor desde janeiro de 2014.
Embora o crédito seja uma alternativa para passar por esse momento, com muitas famílias renegociando e repactuando suas dívidas, a situação financeira para quitar as contas em aberto para uma parcela dos gaúchos tem ficado mais difícil com o impacto da crise sobre a renda e o emprego. A análise do aumento contido nos indicadores de inadimplência da PEIC-RS para todos os entrevistados, percentual de famílias com contas em atraso (27,5% ante 26,6% em abril) e percentual de famílias que não terão condições de pagar suas contas (13,5% ante 12,7% no mês anterior), revela movimentos diferentes entre os grupos de renda, com piora na inadimplência para famílias com renda inferior a dez salários-mínimos. Nesse grupo, 31,3% das famílias relataram estar com dívidas atrasadas (30,0% em abril) e 16,1% referiram não ter perspectiva de regularizar nenhuma parte de suas dívidas em atraso em 30 dias (14,6% em abril).
“A situação para famílias que se viram sem renda do dia para noite em março piorou em abril com o avanço da crise e ainda mais famílias passaram a enfrentar dificuldades. A evolução do quadro de inadimplência que veremos nos próximos meses vai depender do tempo de reação para sair da crise, que tende a ser tanto menor quanto mais efetivas forem as medidas de suporte à renda e ao emprego e quanto mais consistente for a volta gradual das atividades econômicas”, afirmou o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn.