A pandemia do novo coronavírus derrubou a produção industrial em todo o Brasil no mês de março. Foi a primeira vez em oito anos que todos os 15 locais pesquisados apresentaram queda, segundo o IBGE. O resultado é reflexo direto das medidas de isolamento social que afetaram o processo de produção no Brasil desde meados de março, quando a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretou pandemia do novo coronavírus. Nas semanas seguintes, estados e municípios impuseram restrições à circulação de pessoas.
No formato antigo da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), com 14 locais pesquisados -Mato Grosso entrou na lista apenas em 2012-, a única queda generalizada havia ocorrido em novembro de 2008, por consequência da crise financeira global. Segundo o IBGE, o mais próximo deste resultado aconteceu em maio de 2018, com a greve dos caminhoneiros, que derrubou a produção industrial em 14 dos 15 locais.
Epicentro da Covid-19 no país, com mais de 51 mil casos, e local onde se concentra mais de um terço da indústria nacional, São Paulo foi a região que mais influenciou o resultado nacional (-9,1%), com queda de 5,4%. Em fevereiro e março, o estado acumulou perda de 6,6%, motivado principalmente pela queda nos setores de veículos e bebidas.
O Ceará, que nesta quarta ultrapassou o Rio de Janeiro em número de casos confirmados do novo coronavírus, com mais de 19 mil infectados, e agora ocupa o segundo lugar da lista no Brasil, teve o maior recuo industrial em termos absolutos, com queda de 21,8%. O estado foi pressionado principalmente pela queda no setor de couros e calçados, além de vestuário. A indústria cearense vinha com dois meses de resultados positivos e alcançando um acumulado de 2,4% em janeiro e fevereiro.
Terceiro local em número de casos de Covid-19, o Rio de Janeiro apresentou recuo de 1,3% no setor industrial, também influenciado pela queda no setor de veículos e bebidas. O estado já vinha de retração no mês anterior, acumulando perda de 2,1%. Rio Grande do Sul (-20,1%) e Santa Catarina (-17,9%) foram outros estados que contribuíram para o recuo na média nacional.
Ainda apresentaram recuos mais intensos do que a média nacional o Pará (-12,8%), o Amazonas (-11%) e toda a Região Nordeste (-9,3%). Também caíram os estados de Pernambuco (-7,2%), Espírito Santo (-6,2%), Bahia (-5,0%), Paraná (-4,9%), Mato Grosso (-4,1%), Goiás (-2,8%) e Minas Gerais (-1,2%).
De acordo com o instituto, o desempenho de março de 2020 coloca a produção industrial brasileira no mesmo nível de agosto de 2003. A queda afetou todas as categorias econômicas e 23 dos 26 ramos pesquisados.
Em relação a março de 2019, que teve três dias úteis a menos que o mesmo mês de 2020, a indústria teve queda de 3,8%, com 11 dos 15 locais pesquisados mostrando resultados negativos. As consequências da pandemia ficam ainda mais claras nessa comparação.
"O chamado 'efeito-calendário' foi positivo em março de 2020, que teve 22 dias úteis, três a mais que [março de] 2019", disse o analista da pesquisa, Bernardo Almeida. "O isolamento social teve efeito direto na cadeia produtiva. Os dados de março mostram esses efeitos diretos que afetaram o processo de produção no Brasil", acrescentou o analista.