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Saúde

- Publicada em 03 de Maio de 2020 às 22:14

Crise nos hospitais deve provocar demissões

Redução drástica das consultas e procedimentos eletivos afeta caixa das instituições de saúde

Redução drástica das consultas e procedimentos eletivos afeta caixa das instituições de saúde


HOSPITAL TACCHINI/DIVULGAÇÃO/CIDADES
Colocados na linha de frente do combate à pandemia do novo coronavírus, os hospitais gaúchos sofrem, além dos riscos de infecção de membros de suas equipes de saúde, a ameaça de colapso financeiro e demissões de funcionários. No momento em que foram forçados a realizar dispendiosos investimentos para se adequar às necessidades de contenção da doença e tratamento dos contaminados pela Covid-19, as instituições de saúde do Estado viram desaparecer boa parte de suas fontes de renda, com a ausência de pacientes devido ao isolamento social. As contas simplesmente não fecham.
Colocados na linha de frente do combate à pandemia do novo coronavírus, os hospitais gaúchos sofrem, além dos riscos de infecção de membros de suas equipes de saúde, a ameaça de colapso financeiro e demissões de funcionários. No momento em que foram forçados a realizar dispendiosos investimentos para se adequar às necessidades de contenção da doença e tratamento dos contaminados pela Covid-19, as instituições de saúde do Estado viram desaparecer boa parte de suas fontes de renda, com a ausência de pacientes devido ao isolamento social. As contas simplesmente não fecham.
Com a população deixando de realizar consultas e procedimentos eletivos (atendimentos que não são de urgência ou emergência), as receitas dos hospitais sofreram uma queda vertiginosa desde março. De acordo com a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul (Fehosul), a média de ocupação de leitos no Estado em abril estava em apenas 50% da capacidade das instituições. Já o faturamento das instituições teria sofrido quedas de 50% a 70% desde o início do isolamento social. "Neste momento, os hospitais estão se desmantelando", alerta Cláudio José Allgayer, presidente da Fehosul.
Como medida para enfrentar essa crise, os hospitais estão fazendo cortes de despesas, como o fechamento de alas sem ocupação para reduzir gastos de manutenção. No entanto, os efeitos mais duros devem ser sentidos na força de trabalho.
Um exemplo foi o Hospital Regina, de Novo Hamburgo, que, no dia 20 de abril, demitiu 132 funcionários, a grande maioria da área administrativa e de apoio. A instituição justificou a necessidade da medida diante dos impactos financeiros sofridos pela paralisação dos procedimentos ambulatoriais, cirurgias eletivas, explosão nos preços dos equipamentos de proteção individual (EPIs) e da baixa ocupação de leitos.
O Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa) alerta que, na capital gaúcha, onde a média de queda de arrecadação dos hospitais filantrópicos e particulares foi de 60% a 70% da receita entre março e abril, algumas instituições devem começar a realizar demissões e suspensões de contratos a partir deste mês de maio.
Os cortes podem chegar de 30% a 40% das equipes administrativas e de apoio e recepção, segundo Henri Siegert Chazan, presidente do Sindihospa.
De acordo com Chazan, muitos hospitais não terão condições de honrar todos os salários. "Um hospital não pode fechar portas, ainda mais neste momento de pandemia. Mas os fornecedores cobram, os trabalhadores têm que receber, e as instituições precisam fazer algo. Às vezes é preciso amputar um membro para salvar o corpo inteiro", destaca.
"A população precisa dos hospitais, mas estamos seguindo um caminho preocupante", afirma Allgayer. Para o dirigente da Fehosul, a crise gerada pela pandemia do coronavírus deverá deixar como legado uma rede hospitalar mais empobrecida. "Até o fim deste cenário negativo, deixaremos uma parcela significativa de colaboradores pelo caminho", lamenta.
 
 

Equipamentos de proteção sofrem alta de até quase 5.000% nos valores

Máscaras de proteção passaram de R$ 0,10 a unidade para R$ 5,00

Máscaras de proteção passaram de R$ 0,10 a unidade para R$ 5,00


/ANDREW MILLIGAN/AFP/JC
O aumento de custos deve-se principalmente à compra de materiais para atender à possível demanda dos contaminados pela Covid-19 e para proteger as equipes hospitalares. De acordo com a Fehosul, uma média de 55% a 60% dos custos das instituições hospitalares gaúchas correspondem à folha de pagamento. Já 25% a 30% dos gastos mensais são relativos a materiais e medicamentos. Somente neste grupo, as despesas subiram cerca de 30%. "Isso é resultado da necessidade de uso maciço de equipamentos de proteção individual (EPIs) pelas equipes", explica Cláudio José Allgayer, presidente da Fehosul.
Alguns desses materiais chegaram a ter altas de quase 5.000% com a pandemia, segundo Henri Siegert Chazan, presidente do Sindihospa. "Máscaras de proteção individual, que eram compradas até R$ 0,10 a unidade, hoje, chegam a custar R$ 5,00, um aumento de 50 vezes. Um galão de álcool em gel de cinco litros, que custava R$ 5,00, hoje, se encontra a R$ 200,00", exemplifica.
 

Saúde de pacientes piora com atendimento adiado

Falta de diagnósticos precoces afeta a população, diz Trindade

Falta de diagnósticos precoces afeta a população, diz Trindade


/MARCO QUINTANA/JC
A restrição de consultas e procedimentos eletivos imposta no início do isolamento social, uma medida planejada tanto para reduzir o contágio entre pessoas como para aumentar o número de leitos de UTIs livres nos hospitais, pode ter gerado uma piora das condições de saúde de parte da população. Problemas que seriam mais facilmente tratáveis estão se agravando sem atendimento, alertam médicos e hospitais.
"A população tem buscado menos assistência, fazendo consultas mais tardiamente", destaca o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Eduardo Neubarth Trindade. "Como os diagnósticos precoces não estão acontecendo, isso gera um impacto nas condições de saúde com o passar do tempo", explica.
Essa situação é confirmada pelos hospitais. "Está acontecendo um aumento expressivo de infartos e AVCs dentro das casas. Muitas pessoas não estão vindo para as emergências, e, quando vêm, já chegam em situação grave", afirma o superintendente-executivo do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini.
Os perigos desse adiamento de consultas também são lembrados por Rafael Cremonese, diretor operacional do Hospital Mãe de Deus. "As pessoas estão postergando cuidados equivocadamente. Recebemos pacientes que sofreram infartos onde havia ruptura de músculo cardíaco a ponto das cavidades se comunicarem. Isso é algo que era normal nos 1970, mas não hoje, com a estrutura de saúde que temos. É um sinal de que os pacientes estão chegando muito tarde aos hospitais."
"Muitos deixaram de fazer acompanhamentos metódicos de suas condições. Tem pessoas que estão interrompendo até tratamento de câncer", alerta o presidente da Fehosul, Cláudio José Allgayer. Para o dirigente, a expectativa é de que haja um retorno tímido dos pacientes às clínicas e hospitais a partir de maio.
Allgayer lembra que, em abril, o governo do Estado liberou a realização de procedimentos eletivos e consultas pela rede de prestadores de serviços de saúde, SUS e privados, respeitando as regras de distanciamento e higienização. Apenas cirurgias estéticas e bariátricas seguem restritas. "Ainda assim, achamos necessário que, da mesma forma como foi incentivado que as pessoas não fossem aos hospitais e clínicas, agora, deveria ser feita uma campanha de conscientização para que voltem a fazer consultas, exames e procedimentos", afirma o presidente da Fehosul.

Setor hospitalar busca soluções junto aos governos para garantir recursos

As entidades representativas do setor hospitalar têm buscado, junto aos governos federal e estadual, soluções para amenizar a crise financeira. Uma delas foi obtida no dia 23 de abril, quando foi sancionada a Lei nº 13.992, que suspende por 120 dias, a contar de 1º de março de 2020, a exigência de metas quantitativas e qualitativas estabelecidas em contratos de prestadores de serviços no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O texto tem origem no Projeto de Lei nº 805/20, do deputado federal gaúcho Pedro Westphalen (PP).
Hospitais filantrópicos contam com isenção de tributos se prestarem serviços de saúde como consultas, exames e procedimentos de média e alta complexidade (cirurgias, por exemplo) ao SUS. Esses serviços são aferidos segundo parâmetros de quantidade e qualidade para que as mantenedoras possam contar com a isenção.
Devido às dificuldades financeiras, esses hospitais não conseguirão cumprir essas metas. Com a lei, o repasse integral dos valores financeiros, previstos em contrato, aos prestadores de serviço do SUS, fica garantido, mesmo sem o alcance das metas. O texto também determina que será mantido o pagamento da produção do Fundo de Ações Estratégicas e Compensação (Faec), com base na média dos últimos 12 meses. "Com isso, resolvemos a questão dos recursos provenientes do SUS", comenta o presidente da Fehosul, Cláudio José Allgayer.
Agora, o objetivo dos hospitais é conseguir uma solução semelhante para os repasses IPE-Saúde às instituições gaúchas. Segundo o presidente da Fehosul, o governo do Estado já garantiu um repasse mensal de R$ 185 milhões aos prestadores de serviços. No entanto, a quantia não atende às demandas atuais dos hospitais. "Queremos que seja adotado um posicionamento semelhante ao do SUS, pagando aos hospitais pela média histórica, sem necessidade de metas", explica Allgayer.
Atualmente, o IPE-Saúde apresenta uma dívida de R$ 600 milhões com os prestadores de serviços. Entre março e abril, o instituto repassou R$ 95 milhões aos hospitais credenciados, medida extraordinária para viabilizar e fortalecer a capacidade de atendimento durante o enfrentamento do coronavírus. Entretanto, a Fehosul lembra que a demora para pagar valores apresentados pelos serviços prestados já é de mais de 100 dias.

Hospital Moinhos tem queda de 40% na receita

Hospital está reativando consultórios e centro cirúrgico

Hospital está reativando consultórios e centro cirúrgico


/LEONARDO LENSKIJ/DIVULGAÇÃO/JC
O Moinhos de Vento foi o primeiro hospital do Estado a montar, ainda em fevereiro, uma estrutura para atender pacientes com sintomas, bem como a suspender procedimentos eletivos e não urgentes e fechar consultórios. Para Mohamed Parrini, superintendente-executivo do Hospital Moinhos de Vento, apesar das consequências econômicas, a decisão foi a mais correta.
"Estamos orgulhosos, mesmo perdendo dinheiro. Poderia ter havido um colapso da saúde, como está ocorrendo em outras cidades do Brasil", destaca Parrini. "Quem não parou por vontade própria sofreu igual, pois os pacientes, para se preservarem, não apareceram", acrescenta.
Segundo Parrini, o Moinhos de Vento teve uma perda de 40% de sua receita entre março e abril em comparação com o mesmo período de 2019. "Isso é um impacto brutal, considerando-se que a operação de um hospital, em média, tem uma margem líquida de apenas 5%", explica.
No final de abril, o Moinhos reabriu 25% dos horários dos consultórios e 30% do centro cirúrgico. Entretanto, as perdas sofridas não terão recuperação, alerta Parrini. "O grande problema do setor hospitalar é que ele tem custos fixos elevados. Mas a renda está menor, as contas não estão fechando, e não podemos deixar de atender. É como ter um avião parado na pista, sem passageiros, mas com pilotos e equipe lá dentro e consumindo combustível", destaca
Para Parrini, será preciso negociar soluções com as operadoras de planos de saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). "Os planos também tiveram queda na sinistralidade (relação entre custos e prêmio da operadora), ou seja, os clientes estão gastando menos. Neste momento de crise será preciso a colaboração de todo o setor para defender instituições que preservam os profissionais que vão defender a população", afirma.

Santa Casa estima perda de R$ 90 milhões até agosto

Furo de caixa do grupo pode chegar a R$ 20 mi mensais

Furo de caixa do grupo pode chegar a R$ 20 mi mensais


/MARCO QUINTANA/JC
A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, um dos maiores grupos hospitalares filantrópicos do Brasil, estima que, até agosto, deve sofrer uma perda de R$ 90 milhões devido à redução de pacientes. De acordo com o diretor financeiro da Santa Casa, Ricardo Englert, desde 15 de março, quando foi imposto o isolamento social, a receita do grupo sofreu uma queda de 50%.
"Quando começou a restrição, os pacientes eletivos pararam de ir ao hospital. Isso deve gerar um furo de caixa em torno de R$ 20 milhões por mês enquanto durar a crise", explica Englert.

Segundo o diretor financeiro, a maior parte da queda se deu nas receitas não provenientes do SUS, que incluem pacientes de convênios e até estacionamentos. Essas são justamente as fontes próprias da Santa Casa. "De cada
R$ 100,00 de nossas despesas, R$ 60,00 recebemos do SUS e R$ 40,00 bancamos com recursos próprios", explica.

Para enfrentar a crise, a Santa Casa já está postergando investimentos que planejava realizar com caixa próprio, como reformas e troca de equipamentos. "Nossa prioridade, agora, é manter os hospitais funcionando", afirma Englert.
Além da busca de mais crédito junto a instituições financeiras, a Santa Casa também está negociando com o governo do Estado para receber o pagamento de R$ 42 milhões em repasses atrasados do IPE-Saúde. "Só esse valor já resolveria metade do problema em termos de fluxo de caixa", destaca o diretor financeiro.
Com 60% de ocupação nos leitos da Santa Casa, Englert afirma que o movimento de pacientes já está retornando aos poucos. "As equipes estão entrando em contato com quem tinha procedimentos agendados para que os realizem. Quem tem algum tipo de doença não deve deixar virar uma emergência", alerta.

Cirurgias eletivas diárias caem 95% no Mãe de Deus

Ocupação no HMD é de apenas 50% da capacidade

Ocupação no HMD é de apenas 50% da capacidade


/MARCO QUINTANA/JC
Com uma queda de 50% na ocupação de leitos e de 70% no atendimento de emergência, a previsão do Hospital Mãe de Deus (HMD) é de uma de receita de 50% em abril. Somente nas cirurgias eletivas, de uma média de 100 por dia no hospital do bairro Menino Deus e mais 50 na unidade da avenida Carlos Gomes. Agora, o número caiu para apenas 10 no total, uma redução de quase 95%, destaca Rafael Cremonese, diretor operacional da instituição.
Os custos também se elevaram para a administração do hospital. Em alguns insumos, como máscaras, as despesas chegaram a aumentar 30 vezes, afirma Cremonese.
O diretor afirma que o sistema de saúde trabalha em crise há muito tempo. No caso do HMD, já havia sido realizado um planejamento administrativo de cinco anos, levando em conta as dificuldades de manutenção de receitas e a necessidade de eficiência para baixar custos. "Desligamos alguns funcionários e fechamos a emergência obstétrica, mas era algo que já pretendíamos fazer." Cremonese lembra que a emergência obstétrica era subutilizada, com apenas 14 partos mensais. Mas o HMD também segue com investimentos. Foram aumentados em 20% os leitos de UTI para atendimentos a pacientes não contaminados com o coronavírus. Nesta segunda-feira (4), também foi inaugurado um pronto-atendimento ortopédico na unidade da avenida Carlos Gomes.
Para Cremonese, a crise da Covid-19 deverá trazer mudanças na gestão de hospitais. "Nem tudo o que está se instalando é ruim. Alguns processos de segurança serão perenes, não devemos abandonar. Mas também teremos novos custos." Uma inovação citada é a telemedicina, que o HMD está disponibilizando para algumas especialidades e esclarecimentos sobre coronavírus. "É um produto que veio para ficar e foi incentivado pela crise."