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Indústria

- Publicada em 20 de Abril de 2020 às 03:00

Escassez de EPIs gera corrida no mercado

No Clínicas, EPIs fazem parte da rotina já na triagem dos pacientes

No Clínicas, EPIs fazem parte da rotina já na triagem dos pacientes


Hospital de Clínicas/Divulgação/jc
O aumento acelerado de óbitos e de pessoas infectadas pela Covid-19 tem pressionado sistemas de saúde ao redor do mundo e impulsionado a aquisição de equipamentos de proteção individual (EPIs), bem como respiradores e leitos de UTI, colocando o Brasil em fila de espera e gerando risco para parte dos profissionais da saúde.
O aumento acelerado de óbitos e de pessoas infectadas pela Covid-19 tem pressionado sistemas de saúde ao redor do mundo e impulsionado a aquisição de equipamentos de proteção individual (EPIs), bem como respiradores e leitos de UTI, colocando o Brasil em fila de espera e gerando risco para parte dos profissionais da saúde.
São atendentes, técnicos de enfermagem, médicos e enfermeiros que não trabalham em áreas específicas de tratamento do coronavírus nos hospitais e que estão dependendo da sorte para escapar da doença. A vice-presidente do Sindisaúde-RS, Claudete Miranda, técnica de enfermagem do Grupo Hospitalar Conceição, em Porto Alegre, afirma que, no seu posto de trabalho - que não está na linha de frente da pandemia -, três pacientes positivaram para a doença.
"Esse é um exemplo claro da importância do uso de EPI em qualquer área de um hospital, seja da linha de frente ou não." Claudete se refere ao fato de que, por conta da escassez de equipamentos de proteção, principalmente máscaras, a maioria das instituições tem precisado racionar o uso de EPIs.
A iniciativa obedece a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma vez que a demanda por equipamentos de proteção ocasionou uma interrupção na cadeia de suprimentos, acarretando escassez de estoque em todo o mundo. A ordem é que, para garantir a prevenção de contágio dos profissionais de saúde que lidam diariamente com o atendimento de infectados, esses materiais sejam usados de forma racional. Fato é que os que circulam por outras áreas hospitalares estão trabalhando com medo, uma vez que uma série de mortes (principalmente entre enfermeiros) vem sendo registrada com frequência. 
De acordo com o órgão, há relatos também de solicitação para que profissionais adquiram seus próprios materiais de segurança e reutilizem materiais descartáveis. 

Brasil tem capacidade de produzir 40 milhões de máscaras por mês

Vendas à China desestabilizaram o mercado doméstico de máscaras

Vendas à China desestabilizaram o mercado doméstico de máscaras


/MARCO QUINTANA/JC
Se dependesse da capacidade produtiva da indústria brasileira, um dos equipamentos de proteção individual com maior escassez no mercado, a máscara N95, poderia estar chegando aos hospitais sem maiores dificuldades. No entanto, até pouco mais de um mês atrás, os fabricantes nacionais estavam desarticulados, devido à estratégia de compra na China, que vende os produtos por preço mais baixo.
"Não foi uma boa ideia transferir para o exterior a produção de um segmento tão importante, que é o EPI, deixando a indústria brasileira ociosa por uma questão de menor preço. Isso, agora, está custando vidas", sentencia o presidente da Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg), José Geraldo Brasil. "Estamos trabalhando para que os fabricantes nacionais coloquem suas linhas de produção para atender aos hospitais e para que, passada a pandemia, o País não se descuide novamente de um produto tão estratégico, que é o EPI."
Conforme o dirigente, o problema se agravou por haver uma demanda reprimida no mês de abril. "Mas a expectativa é que, em maio, a indústria nacional consiga suprir a demanda." Nos últimos dois meses, os associados da Animaseg vêm trabalhando com sua capacidade máxima para direcionar EPIs para hospitais e demais instituições da área da saúde. As empresas estão doando 1 milhão de máscaras para o Ministério da Saúde, previstas para serem entregues nos próximos 90 dias.

Parcerias aumentam possibilidade de abastecimento

Voluntariamente, empresas como a Lojas Renner estão montando estrutura para colaborar com essa corrida contra o tempo nos hospitais. A varejista tem realizado uma série de doações para o Sul e o Sudeste, a exemplo de 30 mil aventais impermeáveis e 200 mil máscaras N95 que foram entregues recentemente à direção do Grupo Hospitalar Conceição. "Contamos com as doações de várias empresas, como a Taurus, que doou protetores faciais para nossas equipes", comenta o diretor administrativo e financeiro da rede hospitalar, Cláudio Oliveira.
Maior força de trabalho dos hospitais, os profissionais de enfermagem somam 2,2 milhões em todo o País. Destes, 50% estão atuando na linha de frente de atendimento à Covid-19 nos serviços de saúde, informa o coordenador do Comitê Gestor de Crise no Confen, Walkirio Almeida. Nessas instituições, atualmente, o que mais faltam são justamente as máscaras N95", comenta. "O Confen também está tentando comprar da China, mas está difícil. A meta é comprar mais 1 milhão de máscaras, e nosso setor de compras está indo atrás", destaca.
De acordo com Almeida, ainda nesta semana devem chegar outras 100 mil máscaras adquiridas pelo Conselho de Enfermagem junto a uma fabricante nacional. "Ainda estamos fechando parcerias com universidades para produzir protetores faciais. São meios que estamos buscando para minimizar, mas sabemos que não vai resolver por completo", lamenta o gestor.
Contando com 9 mil funcionários, o Grupo Conceição - que agrega os hospitais Conceição, Fêmina, Cristo Redentor, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e 12 unidades básicas de saúde na Zona Norte - utiliza de 10 a 12 mil máscaras por dia. O diretor administrativo e financeiro da rede hospitalar, Cláudio Oliveira, comenta que, desde que foi declarada a pandemia pela OMS, no dia 11 de março, a instituição vem trabalhando "incessantemente para a aquisição de vários EPIs". "Estamos conseguindo. Desde o começo da semana passada, já fechamos compra de máscaras, aventais, jalecos, protetores faciais, entre outros."
Referência no tratamento à Covid-19, o Hospital de Clínicas tem estoque de EPIs sendo avaliado diariamente, informa o médico infectologista e coordenador-executivo da equipe de preparação para o combate ao coronavírus dentro do hospital, Rodrigo Pires dos Santos. "Temos estoque e compra de equipamentos de proteção individual sendo realizadas com prazos de entregas estimadas, mas precisamos que sejam cumpridos", pondera Santos, que é coordenador do Controle de Infecção Hospitalar no Clínicas.

Custos também estariam provocando racionamento

De acordo com informações do Confen, um agravante é o fato de que há locais onde não é ofertado nenhum tipo de EPI, "porque simplesmente não tem". "Não temos referência de que isso ocorra em hospital de grande porte, mas há muitos relatos de unidades hospitalares menores, onde os funcionários precisam improvisar com materiais que não protegem em nada", destaca o coordenador do Comitê Gestor de Crise no Confen, Walkirio Almeida.
Segundo ele, em outros casos "tem tudo, mas estão racionando, fazendo os profissionais utilizarem os materiais um número de vezes maior do que o recomendável pelos fabricantes". O gestor acredita que o fato de o produto estar sendo vendido a preços elevados (uma máscara que custava R$ 1,00, hoje, está sendo vendida por até R$ 9,00) também não há garantia que será possível repor os estoques. "Por isso, tentam prolongar ao máximo o uso dos EPIs", avalia.
Outro problema citado pelas denúncias no Confen é que muitos aventais estão sendo feitos com TNT ou matéria-prima com gramatura que não impede a passagem de líquidos para a roupa dos profissionais de saúde.