Puxadas para baixo pela soja, as exportações do agronegócio gaúcho tiveram queda de 3,1% em 2019 no comparativo com 2018, somando US$ 11,8 bilhões em negócios, US$ 384 milhões a menos do que no ano anterior. A retração é fruto de 14% menos soja embarcada e 23% menos dólares captados. Sozinha, a soja retirou da balança comercial do Estado quase US$ 1,5 bilhão no ano passado, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (6) pela Secretaria Estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag).
Segundo o estudo elaborado pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE/Seplag), os números negativas da oleaginosa decorrem do elevado volume comprado em 2018 pela China, e não repetido em 2019. Além de ter retomado parcialmente as compras dos Estados Unidos no ano passado, a ocorrência da Peste Suína Africana reduziu a demanda chinesa pela soja, um dos principais insumos para a alimentação do plantel. E as perspectivas para 2020 não são das melhores, já que o recente acordo firmado entre as duas maiores economias mundiais prevê prioridade na compra do grão norte-americano a partir de agora.
China segue dominante na lista dos países compradores. Fonte: DEE/Seplag/Reprodução/JC
A boa notícia, e fator que pode levar à expansão dos negócios com a soja em 2020, é o mercado interno, explica Rodrigo Feix, economista responsável pelo estudo juntamente com Sérgio Leusin Jr. Isso porque o momento é favorável para o esmagamento da soja em unidades no mercado interno, em função dos incentivos do RenovaBio, que amplia a mistura de biodiesel no combustível a partir de março. Além disso, a demanda externa de carnes estimula a indústria nacional de rações. Uma vez que o Estado é grande produtor de aves e suínos, o consumo local deve ser ampliado.
É no item carnes, por sinal, que está uma das maiores altas nas exportações em 2019, de acordo com estudo da Seplag. E deve subir ainda mais em 2020 a partir das novas habilitações de frigoríficos gaúchos pela China nos últimos meses. A venda de proteína animal foi ampliada de US$ 1,247 bilhão em 2018 para US$ 1,684 bilhão em 2019 - 35,1% a mais, agregando US$ 437,4 milhões à balança. Outros dois itens positivos na pauta e que ajudaram a amenizar a perda de divisas com a soja foi a elevação nos negócios do fumo (13,9% a mais, de US$ 1,55 bilhão para US$ 1,77 bilhão) e dos produtos florestais (alta de 46%, de U$ 1,05 bilhão para U$ 1,54 bilhão). O fumo também ganhou mercado com os consumidores chineses, comenta Feix.
“Ao contrário do que ocorre aqui em muitos países, onde o consumo de cigarro cai, os chineses estão fumando mais. O volume exportado pelo Rio Grande do Sul para lá é o maior ao menos desde 2009”, destaca o economista.
Se o Estado vem ganhando participação na venda de tabaco para exportações, perde na industrialização, no entanto. De acordo com o economista, com o atrativo de impostos menores fora daqui e a proximidade maior com o mercado consumidor (o Sudeste), a fabricação de cigarros vem registrando queda no Estado.
“Um exemplo é a Souza Cruz, que vem reduzindo a fabricação aqui para priorizar a produção em outras unidades, como fez ao encerrar a produção em Cachoeirinha”, exemplifica Feix.
Com essa migração, o número de empregos gerados pela fumicultura no Estado encolheu significativamente. Ao contrário de 2018, quando teve um saldo positivo de 119 vagas, em 2019 perdeu 488 postos. A geração de trabalho formal no agronegócio gaúcho foi bastante tímida e muito aquém do visto em outros Estados.
RS agregou 331 empregos formais no setor em 2019. Fonte: DEE/Seplag/Reprodução/JC
O Rio Grande do Sul agregou apenas 331 empregos formais no setor em 2019, ante 9,6 mil em Santa Catarina e 7 mil no Mato Grosso, por exemplo. Ainda que tenha ficado positivo em comparação com o Paraná, por exemplo, que teve queda de 2,6 mil vagas, o Estado gera bem menos empregos no agronegócio do que os paranaenses: 321 mil aqui ante 423,8 mil lá. Ao todo, a produção agrícola e pecuária teve um saldo positivo de quase 40 mil vagas de trabalho criadas entre 2018 e 2019.
“O setor de carnes gera muitos postos, e por isso o destaque de Santa Catarina, forte nesse segmento. Mas podemos ter alguma mudança no setor a partir de 2021. A JBS anunciou que irá colocar uma unidade produtiva na Arábia Saudita, um grande comprador de carnes do Brasil ”, alerta Feix.
Outros dados do estudo
- Se com a soja o movimento foi de queda, os setores de fumo, carnes, produtos florestais e de cereais, farinhas e preparações tiveram incremento expressivo nas vendas.
- Considerando os destinos das exportações, a China segue dominante na lista dos países compradores. O gigante asiático foi o principal parceiro do RS, responsável por 45,4% do valor total comercializado. União Europeia (14,6%), Estados Unidos (4,6%), Arábia Saudita (2,8%), Coreia do Sul (2,3%) e Irã (1,8%) seguem o ranking dos principais destinos.
- A queda nas vendas de máquinas e implementos agrícolas foi a principal causa para a redução no comércio com a Argentina (menos US$ 111,3 milhões; -36,4%), a segunda maior queda em valores absolutos no ano, atrás apenas da União Europeia (menos US$ 154,9 milhões; -8,2%).