Em meio a discussões sobre sua privatização, a Eletrobras prepara a divulgação de seu plano de negócios para os próximos cinco anos, que trará como meta ser a terceira maior empresa de energia renováveis do mundo. Para isso, a companhia deve mirar investimentos também fora do Brasil.
As afirmações foram feitas pelo presidente da companhia, Wilson Ferreira Junior, em almoço na Associação Comercial do Rio de Janeiro nesta terça-feira (10). "A Eletrobras, no momento em que for privada, deve olhar para a América Latina como uma região onde ela tem características distintas para investir", disse o executivo.
O projeto de privatização foi entregue pelo governo ao Congresso no início de novembro. No momento, o foco é em encontrar um relator para a proposta. Ferreira Junior disse esperar que o texto seja aprovado no primeiro semestre de 2020, permitindo a privatização no segundo semestre.
A ideia é oferecer ao mercado novas ações da companhia, reduzindo a participação do governo federal, que hoje é de 40,99% (mas com 51% das ordinárias, que dão direito a voto). O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem outros 15,99%.
O projeto limita a 10% a fatia máxima de investidores privados no capital votante, para evitar que a companhia tenha um novo controlador. A ideia, segundo o governo, é ter uma corporação com capital pulverizado --isto é, sem acionista majoritário.
"As 20 maiores empresas do mundo são corporações [empresas com capital pulverizado]. No setor de energia, das 50 maiores, 80% são corporações", argumentou o presidente da Eletrobras. As principais empresas do setor, disse, são gigantes globais.
O governo defende que a injeção de recursos com a venda de ações dará capacidade de investimento para que a estatal amplie suas operações -hoje, a empresa tem cerca de 1/3 da capacidade de geração de energia do país e metade da capacidade de transmissão.
Na sexta (6), em evento no BNDES, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a falta de capacidade para investir está condenando a Eletrobras à morte. "A Eletrobras precisa investir R$ 16,5 bilhões por ano para manter a fatia de mercado. Hoje ela tem capacidade máxima de R$ 3,5 bilhões", disse.
Ferreira Junior evitou dar maiores detalhes sobre o novo plano de negócios, mas disse que vem com o objetivo de chegar à terceira posição entre as empresas de energia -hoje, disse, é a 21ª- e trará investimento sem tecnologia e modernização das redes da empresa.
O crescimento, disse, se dará com investimentos para ampliar a capacidade brasileira de geração e em possíveis negócios no exterior. Segundo ele, a empresa já analisa projetos de integração energética na América do Sul, tanto em geração quanto em transmissão de energia.
A Eletrobras deve concluir até o fim do ano seu processo de venda de ativos, negociando 38 participações em companhias de geração e transmissão de energia. Com a conclusão de dois parques eólicos, praticamente encerra também seu estoque de novos projetos de investimento -restando apenas a usina nuclear Angra 3.
O projeto foi incluído no PPI (Programa de Parcerias e Investimentos) que analisa em conjunto com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) um modelo de atração de sócios privados para complementar as obras.
A companhia deve fechar o ano com Ebitda (medida que sinaliza a geração de caixa de uma companhia) superior a R$ 10 bilhões -ou cerca de cinco vezes mais do que o valor registrado quando o executivo assumiu a estatal, há três anos.