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Economia

- Publicada em 29 de Setembro de 2019 às 21:17

'O maior desafio é explicar o Brasil para o mundo', diz embaixador na China

Estivallet prevê expansão do relacionamento econômico e político

Estivallet prevê expansão do relacionamento econômico e político


/ministério das relações exteriores/divulgação/JC
O diplomata gaúcho Paulo Estivallet assumiu, no final de 2018, a embaixada brasileira na China, maior parceiro comercial do Brasil. O país celebra, nesta terça-feira, os 70 anos da fundação da República Popular da China. A cerimônia, no Centro de Pequim, no entorno da praça Tiananmen, onde fica a chamada Cidade Proibida, promete ganhar os holofotes do mundo. Serão mais de 15 mil militares desfilando, 160 aeronaves serão utilizadas na parte aérea do evento, quando o presidente Xi Jinping anunciou que também serão apresentados ao público novos equipamentos militares dotados de muita tecnologia. A celebração deverá ter um final apoteótico: serão soltos 70 mil balões coloridos e 70 mil pombas brancas para marcar as sete décadas do Partido Comunista no comando da segunda maior economia do mundo. Nesta entrevista, Estivallet respondeu a questões como a guerra comercial travada com os Estados Unidos, o potencial de diversificação das exportações brasileiras para o gigante asiático e os desafios de estar à frente de uma das mais importantes embaixadas brasileiras.
O diplomata gaúcho Paulo Estivallet assumiu, no final de 2018, a embaixada brasileira na China, maior parceiro comercial do Brasil. O país celebra, nesta terça-feira, os 70 anos da fundação da República Popular da China. A cerimônia, no Centro de Pequim, no entorno da praça Tiananmen, onde fica a chamada Cidade Proibida, promete ganhar os holofotes do mundo. Serão mais de 15 mil militares desfilando, 160 aeronaves serão utilizadas na parte aérea do evento, quando o presidente Xi Jinping anunciou que também serão apresentados ao público novos equipamentos militares dotados de muita tecnologia. A celebração deverá ter um final apoteótico: serão soltos 70 mil balões coloridos e 70 mil pombas brancas para marcar as sete décadas do Partido Comunista no comando da segunda maior economia do mundo. Nesta entrevista, Estivallet respondeu a questões como a guerra comercial travada com os Estados Unidos, o potencial de diversificação das exportações brasileiras para o gigante asiático e os desafios de estar à frente de uma das mais importantes embaixadas brasileiras.
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Jornal do Comércio - A China completa 70 anos de sua República Popular. Como o senhor descreveria o país hoje?
Paulo Estivallet - A China é uma das civilizações mais antigas do mundo ainda existente. A história e as tradições milenares da China inspiram respeito e admiração nas demais nações. O mundo inteiro acompanha, há décadas, o impressionante crescimento chinês e o desenvolvimento da sociedade. Apesar da história milenar, a China, hoje, é um país moderno, sobretudo nas grandes cidades. O país tem mais de 150 cidades com população superior a 1 milhão de habitantes - incluindo as metrópoles globais Xangai, Pequim e Hong Kong -, número que deve chegar a 200 nos próximos anos. Seus habitantes desfrutam de um padrão de vida inimaginável há até pouco tempo, que não deve nada em termos de conforto, entretenimento e praticidade às grandes cidades do mundo Ocidental. O estrangeiro que chega na China pela primeira vez normalmente se impressiona com o tamanho das cidades e com a eficiência dos transportes e do sistema de pagamentos por smartphone em uso no país, para citar dois exemplos bem marcantes.
JC - Qual o grande desafio de estar à frente da embaixada junto ao maior parceiro comercial do Brasil e segunda maior economia do mundo?
Estivallet - O principal desafio está relacionado a umas das funções essenciais da diplomacia, que é "explicar" o Brasil para o mundo e, ao mesmo tempo, "traduzir" para áreas relevantes no Brasil os países em que servimos. No caso da China, esse desafio é, como tudo aqui, superlativo. É um país milenar, cujos hábitos, estrutura política e cultura de negócios são muito diferentes dos nossos. Cabe à Embaixada ajudar o governo e os empresários brasileiros a melhor compreender como funciona a China, para que eles possam aproveitar as vantagens e as oportunidades disponíveis para quem estiver disposto a romper as barreiras da distância, da língua e dos costumes. Da mesma forma, é importante explicar para o lado chinês as principais características brasileiras para gerar boa vontade e facilitar a cooperação.
JC - E quais os maiores pontos positivos desse desafio?
Estivallet - É interessante notar que as mesmas características que geram os desafios agem, também, em benefício do relacionamento entre o Brasil e a China, sobretudo no aspecto comercial. A China é o maior parceiro comercial do Brasil e, cada vez mais, um investidor importante em nosso País. Isso se explica, em grande medida, por causa das nossas diferenças, pois cada país produz e exporta produtos distintos. Nesse caso, portanto, as diferenças se transformam em complementaridade. O Brasil é o país com o maior potencial exportador agrícola do mundo e tem, ainda, grande potencial para exportar minérios e petróleo. A China, por sua vez, tem 20% da população mundial e uma enorme demanda por esses produtos. Além disso, o Brasil necessita de capital para desenvolver sua infraestrutura, e a China é, hoje, o principal fornecedor de capital e tecnologia nessa área.
JC - Como avalia a guerra comercial entre China e EUA?
Estivallet - Neste momento, somos, infelizmente, testemunhas de um conflito comercial entre as duas maiores economias do mundo, com implicações para o sistema multilateral de comércio. Esperamos que China e EUA possam chegar a um acordo e restabelecer a confiança mútua o mais rapidamente possível. Uma vez que tenhamos espaço para recriar essa confiança e o diálogo visar a algo mais amplo, em particular o funcionamento normal e a reforma da OMC, que também é algo essencial e no qual tanto a China quanto os EUA têm papel fundamental, o Brasil estará disposto a contribuir e a participar.
JC - E como esse conflito entre os dois maiores parceiros comerciais do Brasil afeta as economias e os negócios entre esse "triângulo"?
Estivallet - Para o Brasil, não se trata de um jogo de soma zero, nem de uma questão de escolha. Queremos e acreditamos ser possível ter as melhores relações possíveis em todas as áreas com a China e com os EUA, e elas já são muito boas em ambos os casos. Portanto, não vemos isso pela ótica de um suposto "equilíbrio" do Brasil entre as duas potências, porque isso daria a impressão de que, se aumentarmos de um lado, reduziremos do outro lado. Esperamos melhorar nossas relações com os EUA e, ao mesmo tempo, levar nossas relações com a China a um nível ainda mais alto. Esperamos, também, que esse conflito seja resolvido o quanto antes, porque ele gera incertezas que não são boas para os negócios.
JC - Que balanço faz de seu primeiro ano no país?
Estivallet - Tem sido um ano muito positivo, cheio de desafios, mas também de alegrias e descobertas. Para o Brasil, o relacionamento com a China é benéfico e continua a se expandir, tanto do ponto de vista econômico quanto do político. Apesar de estarmos ainda no primeiro ano da nova administração no Brasil, de janeiro para cá houve um grande número de visitas nos mais altos níveis de ambos os lados.
JC - O que recomenda aos empresários brasileiros que querem vender para a China? E para quem quer comprar?
Estivallet - A China é um mercado de grandes dimensões e altamente competitivo em praticamente todos os setores. A renda do consumidor chinês tem crescido, tornando-o cada vez mais exigente. Existem inúmeras oportunidades para quem oferecer um produto competitivo, principalmente em termos de qualidade, e estiver disposto a fazer o investimento necessário para ingressar neste mercado. A preocupação com qualidade é fundamental: foi-se o tempo em que se podia vender de tudo por aqui. Em termos de cultura de negócios, deve-se ter presente que, assim como em outros países da Ásia, o relacionamento pessoal é muito importante e deve ser cultivado com atenção.
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