Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Transportes

- Publicada em 08 de Agosto de 2019 às 03:00

Caminhoneiros criticam mudança na tabela de frete apresentada pela indústria

Entidades ligadas à categoria também estão descontentes com as negociações feitas com o governo

Entidades ligadas à categoria também estão descontentes com as negociações feitas com o governo


MARCELO CAMARGO/ABR/JC
Líderes dos caminhoneiros criticaram a proposta apresentada pela indústria ao governo de transformar a tabela que define o piso mínimo para o frete em uma referência, sem obrigatoriedade de uso. Parte do grupo também aponta irritação em relação às negociações travadas entre a categoria, as empresas e o governo para reformulação do sistema e defende o abandono das tratativas e uma maior pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF), que deve discutir o tema no próximo mês.
Líderes dos caminhoneiros criticaram a proposta apresentada pela indústria ao governo de transformar a tabela que define o piso mínimo para o frete em uma referência, sem obrigatoriedade de uso. Parte do grupo também aponta irritação em relação às negociações travadas entre a categoria, as empresas e o governo para reformulação do sistema e defende o abandono das tratativas e uma maior pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF), que deve discutir o tema no próximo mês.
Marcelo da Paz, caminhoneiro do porto de Santos e que está em Brasília para participar das reuniões, diz que a proposta não foi bem recebida e defende que a categoria deixe as negociações.
Uma ameaça de paralisação no mês passado levou o governo a suspender a atualização dos valores praticados com base na tabela, definidos a partir de estudos da Esalq-Log, Grupo de Pesquisa e Expansão em Logística da Universidade de São Paulo (USP).
A tabela suspensa, segundo caminhoneiros, contemplava apenas os custos do frete, sem levar em conta uma margem de ganhos para os trabalhadores. Nas reuniões, governo e categoria discutiam ajustes para tratar da remuneração da categoria.
Paz defende que a categoria se mobilize até o dia 4 de setembro, quando a constitucionalidade da tabela será julgada pelo STF. "Se der que a tabela é inconstitucional, o País para outra vez", afirma.
A ação tem entre seus autores as confederações da indústria e da agricultura. Marconi França, líder de caminhoneiros de Recife, também afirma ter deixado as negociações e que a categoria deverá se concentrar no julgamento do Supremo. "Não vamos dar mais crédito para esse governo, que só faz empurrar com a barriga."
França foi um dos caminhoneiros que receberam contato direto do ministro Tarcísio de Freitas para confirmar a suspensão da atualização da tabela em julho. Entre as demandas de França está a implantação obrigatória do Código Identificador da Operação de Transporte (Ciot), sistema eletrônico para controle do frete que, segundo os caminhoneiros, garantiria o cumprimento da tabela, outra das promessas do ministro no telefonema que fez ao caminhoneiro.
Ele afirma que um julgamento da tabela como inconstitucional pelo Supremo seria uma irresponsabilidade do tribunal. "Vamos invadir Brasília no dia 4 de setembro, mostrar que não vamos desistir de nossa lei, única garantia que caminhoneiros conseguiram com muita luta."
A tabela do frete foi criada pelo governo Michel Temer (MDB), como resposta à paralisação ocorrida em maio de 2018.
Nelson Junior, o Carioca, de Barra Mansa, também critica a proposta de tornar a tabela referencial e afirma ainda aguardar definição de data para reunião com o governo.
Ele diz que o encontro deveria acontecer até esta quarta-feira, mas não houve confirmação da agenda. O líder caminhoneiro diz que, caso a reunião não aconteça até esta sexta-feira, irá deixar a capital federal. "Nós estamos tentando não fazer paralisação, levar as coisas no diálogo, mas está ficando difícil."
Questionado, o Ministério da Infraestrutura afirma que uma nova reunião com os caminhoneiros está mantida e acontecerá até esta quinta-feira.
Wanderlei Alves, o Dedéco, um dos líderes da paralisação de 2018, diz que a proposta da indústria não será aceita, mas defende a manutenção do diálogo com o governo. "Não vamos aceitar, claro, mas está na mesa de negociação enquanto o governo estiver de portas abertas."

Tabela é 'aberração' e tem de 'morrer naturalmente', diz ministro

Freitas não vê risco de nova greve e considera questão um problema econômico e não de infraestrutura

Freitas não vê risco de nova greve e considera questão um problema econômico e não de infraestrutura


ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL/JC
Envolvido diretamente nas negociações entre o governo e os caminhoneiros, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, afirma que a tabela de frete, instituída no País após a greve de caminhoneiros de 2018, é uma "aberração" e é preciso que ela deixe de existir. Segundo ele, para resolver o problema, é preciso "desmamar" o setor e deixar que a tabela "morra naturalmente".
"Também não adianta chegar um governo novo e falar que amanhã não tem mais tabela. Não pode ser assim", disse o ministro durante jantar na noite de terça-feira em Brasília.
Freitas afirmou não ver risco de nova greve e que se trata de um problema econômico e não de infraestrutura, foco de sua pasta. "A causa do problema é a política industrial errada. O Produto Interno Bruto (PIB) e a frota sempre caminham juntos. O que aconteceu no Brasil? O PIB caiu e a frota subiu. O caminhoneiro está lá morrendo e não consegue perceber que é por causa do excesso de oferta. Aí me manda mensagem: 'Ministro, nós estamos morrendo'. Estão mesmo", disse.
Segundo Freitas, com a retomada do crescimento, será possível reequilibrar novamente oferta e demanda. Até lá, a solução passa por fazer um trabalho de "formiguinha", facilitando acordos entre os agentes de cada setor.
"Se fizermos vários acordos, a gente torna a vida do próprio Supremo Tribunal Federal mais fácil. A carga de responsabilidade diminui. Imagino que o Supremo deve estar com medo: se eu decido pela inconstitucionalidade, será que o Brasil para amanhã?", afirmou o ministro.