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Mercado Digital

- Publicada em 28 de Julho de 2019 às 20:31

Empresas devem pensar nos efeitos dos produtos que criam, afirma pesquisador

Prestes defende que tecnologias sejam pensadas para promover qualidade de vida

Prestes defende que tecnologias sejam pensadas para promover qualidade de vida


Arquivo Pessoal/ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Um dos motivos que levou o Instagram a começar a ocultar o número de curtidas no feed, segundo a rede social, é ajudar a fazer com que as pessoas não sintam mais que estão em uma competição por likes, comportamento que vem sendo apontado como um grande motivo de ansiedade mundo afora. Para Edson Prestes, pesquisador do Instituto de Informática da Ufrgs e membro do The High-level Panel on Digital Cooperation, da Organização das Nações Unidas (ONU), que debate temas como tecnologia e humanidade, as empresas precisam, de fato, começar a se responsabilizar pelos efeitos éticos dos produtos e soluções que desenvolvem.
Um dos motivos que levou o Instagram a começar a ocultar o número de curtidas no feed, segundo a rede social, é ajudar a fazer com que as pessoas não sintam mais que estão em uma competição por likes, comportamento que vem sendo apontado como um grande motivo de ansiedade mundo afora. Para Edson Prestes, pesquisador do Instituto de Informática da Ufrgs e membro do The High-level Panel on Digital Cooperation, da Organização das Nações Unidas (ONU), que debate temas como tecnologia e humanidade, as empresas precisam, de fato, começar a se responsabilizar pelos efeitos éticos dos produtos e soluções que desenvolvem.
Jornal do Comércio – Quais os efeitos que as redes sociais podem causar no bem estar das pessoas?
Edson Prestes – Um efeito colateral é a depressão. As pessoas veem as postagens desse mundo dito perfeito e começam a se questionar sobre valor da sua própria vida. O simples fato de curtir ou descurtir algo pode ter um impacto gigantesco na vida de quem não tem personalidade bem formada. O Instagram deve ter começado a pensar por esse lado. A rede social tem um poder muito grande de mudar concepções, opiniões. Sem falar na questão do uso que está sendo feito da informação. Quando você vê os tais influenciadores digitais postando um conjunto de informação, como modelos promovendo dieta da moda para se atingir determinado padrão de beleza, temos que pensar no preparo que as pessoas têm ou não para ler e filtrar isso corretamente. Se uma postagem destas começa a ter muitos likes, por exemplo, muitos podem tomar esses dados como sendo confiáveis. E isso pode ser arriscado.
JC – Como você avalia a decisão do Instagram de ocultar o número de likes da sua rede social?
Prestes – Acredito que o grande objetivo do Instagram com essa decisão não é estimular que as pessoas produzam posts de maior qualidade, e sim a preocupação com os efeitos negativos que esse tipo de mídia social tem tido na autoestima das pessoas. Isso acontece porque os indivíduos tendem a mostrar uma visão irreal das suas vidas nestes ambientes digitais. Ninguém tem uma vida perfeita, mas ali parece que sim. E tem o lado oposto ao de mostrar só coisas boas, que é o das pessoas que colocam todos os seus problemas ali. Os indivíduos parecem incapazes de resolver as suas questões do cotidiano, como no trabalho ou em casa, e as expõem nas redes sociais esperando que os outros apresentem uma solução. Que efeito isso tudo será na personalidade das pessoas, especialmente as mais jovens? Será que vamos criar indivíduos capazes de lidar com rejeições e enfrentar as situações do dia a dia? São questionamentos que precisam ser feitos.
JC – Estamos errando no momento da concepção das novas tecnologias, por não pensar em tudo isso?
Prestes – Essa é uma discussão profunda. Colocar o ser humano no centro é fazer com que a tecnologia consiga promover qualidade de vida das pessoas, e isso passa pelo bem estar físico e psicológico. Um caminho interessante que eu vejo é o que já está sendo feito por algumas empresas é o conceito das sand boxs. Ou seja, ao invés de espalhar a tecnologia de forma ilimitada, elas criam uma espécie de caixas de areia, um ambiente simulando o universo macro para que as pessoas possam experimentar os produtos. A partir disso, as corporações podem tentar avaliar o impacto e como resolver antes que o produto ou serviço comece a gerar consequências. É importante testar a tecnologia antes de abrir ela amplamente. Sei que isso parece impossível, pelo ritmo acelerado com que os lançamentos precisam chegar ao mercado, mas é preciso começar a avaliar os aspectos éticos dos produtos que estão sendo criados. O que é desenvolvido não é pensado com um viés maldoso, para criar dependência, mas é que as pessoas de tecnologia geralmente não têm conhecimento de sociologia. Mas as áreas de humanas precisam caminhar lado a lado tecnologia.
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