Sem poder contar com altas taxas de juros para multiplicar seu patrimônio, os investidores brasileiros começam a se movimentar em direção a ativos mais arriscados em busca de maiores ganhos. O fenômeno é observado, por exemplo, no aumento de pessoas físicas com ações na B3, número que atingiu 1,1 milhão em maio, último dado disponível.
De acordo com especialistas, muito desse crescimento é explicado pela tentativa em compensar a queda da rentabilidade obtida com a renda fixa, já que a Selic, em 6,5% ao ano, está no menor nível histórico. Se em outros anos era possível ganhar quase 1% ao mês sem correr grandes riscos, hoje o rendimento com os juros mal fica acima da inflação.
"Estamos vivendo o que o americano e o europeu viveram 30 anos atrás. Eles tinham um bom retorno com aplicações em títulos de governo e de bancos. Com a estabilidade econômica, você tem um fenômeno de valorização do mercado de capitais. Claro que lá há investimentos em títulos hoje, mas grande parte é em ações", afirma o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira.
"No Brasil, durante muitos anos, a bolsa só tinha grandes investidores, a classe média ficava nos juros, acomodada com o alto retorno. Agora os juros menores vieram para ficar, vamos conviver com taxas mais baixas", avalia o diretor da Anefac.
A busca por mais risco pode ser verificada até mesmo dentro da renda fixa: os chamados pós-fixados, papéis cuja remuneração acompanha a Selic, como o Certificado de Depósito Bancário (CDB) ou o Tesouro Selic (antiga LFT), têm perdido espaço para os que pagam taxas prefixadas. Em maio de 2018, o papel mais volátil entre os títulos públicos, o Tesouro IPCA (antiga NTN-B), representava uma fatia de apenas 28% dos papéis vendidos pelo Tesouro Direto, plataforma de negociação dos títulos do governo.