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reforma da previdência

- Publicada em 03 de Junho de 2019 às 21:48

Para presidente de comissão, aposentadoria rural não muda

Parlamentares e representantes de entidades debateram o tema

Parlamentares e representantes de entidades debateram o tema


/GUILHERME PECH/DIVULGAÇÃO/JC
Alguns itens da proposta de reforma da Previdência Social encampada pelo governo federal já estão "praticamente superados". A análise é do presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PR-AM), que esteve ontem na Capital para audiência pública sobre o tema na Assembleia Legislativa. Entre os itens que não devem ser aprovados, o deputado elenca o regime de capitalização, a desconstitucionalização, e as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), na aposentadoria rural e nas regras para professores.
Alguns itens da proposta de reforma da Previdência Social encampada pelo governo federal já estão "praticamente superados". A análise é do presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PR-AM), que esteve ontem na Capital para audiência pública sobre o tema na Assembleia Legislativa. Entre os itens que não devem ser aprovados, o deputado elenca o regime de capitalização, a desconstitucionalização, e as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), na aposentadoria rural e nas regras para professores.
"É preciso preservar categorias mais sensíveis, que não podem fazer sacrifícios porque já vivem de sacrifícios", argumenta Ramos, que está visitando estados para "construir uma proposta adequada". A projeção do presidente da comissão se dá pelo posicionamento de diversos partidos contrários a essas mudanças, que, na sua conta, eliminam a chance de o governo conseguir os 308 votos necessários para aprovar os itens. "A capitalização não tem chance nenhuma de passar, pois, do jeito que está, é um absurdo, sem contribuição patronal e com contribuição compulsória do trabalhador", afirmou o deputado.
Ramos comentou ainda aguardar que o relatório, a ser produzido pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), seja entregue no início da semana que vem, para que a comissão o vote ainda em junho. "No plenário, é outra história. A Comissão é maioria simples, mas o plenário exige 308 votos. O melhor relatório é o que tem voto, não adianta chancelar governo e não ter voto para aprovar", argumenta o deputado, que se disse surpreso com o alto número de emendas propostas (277 protocoladas), mas satisfeito pela representação da sociedade contida nelas.
Mesmo criticando os pontos, Ramos se mostrou favorável à reforma, usando o próprio Rio Grande do Sul como exemplo. "Por mais nobre que seja, o gasto público, se não couber no orçamento, uma hora a conta vem. Aqui (RS), já veio. Espero que, no Brasil, não deixemos chegar a esse ponto", afirmou.
Ramos criticou aposentadorias do serviço público, mas negou o discurso de que o projeto busca acabar com privilégios. "Também é combate ao privilégio, mas, se fosse só isso, não se discutiria nada para quem ganha menos de dois salários-mínimos", argumentou.
No Teatro Dante Barone repleto de trabalhadores rurais, as mudanças propostas à categoria foram criticadas pelos participantes. Representante do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Jane Berwanger defendeu que a aposentadoria rural possui importância social e econômica, pois leva mais renda a 73% dos municípios do que o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), e criticou argumentos do governo.
Um deles, o de que o sistema é fraudulento, pois, segundo relatório estatal, apenas 1% dos benefícios rurais tem indício de problemas, o que não quer dizer que sejam fraudes comprovadas. Com mecanismos mais eficientes, a arrecadação no campo ainda poderia ser quadruplicada, segundo estudos, relativizando o tamanho do déficit do sistema. No evento, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) entregou ao deputado Marcelo Ramos um abaixo-assinado com mais de 100 mil assinaturas pedindo a retirada dos trabalhadores rurais da reforma.
Jane ainda criticou a proposta de criação do regime de capitalização, utilizando o exemplo chileno. "A experiência mostra que deu tudo errado. Taxas de administração são muito altas, e o restante é jogado no mercado financeiro, e o resultado disso é que 79% dos benefícios são inferiores ao salário-mínimo chileno", defende.
O presidente da comissão especial de Seguridade Social da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS), Tiago Kidricki, ainda acrescentou preocupações com itens que estão fugindo ao debate público, como as aposentadorias especiais e as regras de transição. "É preciso uma reforma que conheça o trabalhador brasileiro, que seja feita pela sociedade brasileira", disse Kidricki, que defende, porém, que o ajuste é necessário, mesmo que não nos moldes propostos.

Governadores pedem estados e municípios na reforma

Os governadores do PSDB se reuniram ontem com o relator da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), para pedir pela manutenção de estados e municípios na reforma da Previdência. Estiveram no almoço os chefes do Executivo do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; de São Paulo, João Doria; e do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, além do líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio.
Os governadores já estão articulando com suas bancadas estaduais na Câmara. "Estamos mobilizando nossas bancadas e vamos ajudar a mobilizar para que a Previdência tenha impacto para estados", disse Leite. O governador de São Paulo emendou: "Não há o menor cabimento em destacar estados e municípios da reforma da Previdência", disse. Azambuja pediu ainda que o líder do PSDB leve o posicionamento para o colégio de lideranças da Câmara.
Se o Congresso retirar os estados da reforma da Previdência, os governadores teriam que votar leis próprias em suas respectivas assembleias, o que aumenta o desgaste político. A preocupação dos partidos do centro é que, ao incluir os estados na reforma, se desgastam com suas próprias bases enquanto governadores de oposição, que mantêm discurso contrário, manteriam seu capital político e, ao mesmo tempo, se beneficiariam fiscalmente com a aprovação das mudanças na Previdência estadual.
Leite minimizou o desgaste político: "Capital político você tem que escolher onde vai colocar. Se lançam para os estados a necessidade de fazer suas reformas, eu não tenho medo. Só que outras mudanças que eu poderia fazer vão ter que ser adiadas ou ignoradas porque teremos que investir capital político em reforma que já deveria estar resolvida em nível nacional", afirmou.
Com a manifestação de apoio dos três governadores, Samuel Moreira fez um apelo para que outros chefes de governos estaduais se posicionem publicamente a favor da inclusão de estados e municípios na reforma. O parlamentar evitou fazer qualquer avaliação sobre as chances de o relatório final apresentar uma reforma restrita ao governo federal.
Moreira disse que o gesto dos tucanos deveria servir de exemplo aos demais governadores. "O déficit da Previdência dos estados e municípios é de R$ 96 bilhões. Se projetarmos esse valor para 10 anos é praticamente a meta que o governo federal pretende economizar com a reforma. Não faz sentido equacionar a Previdência do governo federal e deixar estados e municípios de lado", afirmou o deputado.
O empenho dos governantes tucanos, entretanto, não garante a mobilização suficiente para que estados e municípios sejam incluídos na reforma. Os deputados paulistas, gaúchos e sul-mato-grossenses do PSDB somam apenas 11 votos.