Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Conjuntura

- Publicada em 22 de Abril de 2019 às 21:24

Projeção de expansão do PIB de 2019 cai para 1,71%

Instituições financeiras reduziram pela oitava vez seguida a projeção para o crescimento da economia brasileira este ano. A estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) - a soma de todos os bens e serviços produzidos no País - agora caiu de 1,95% para 1,71% este ano.
Instituições financeiras reduziram pela oitava vez seguida a projeção para o crescimento da economia brasileira este ano. A estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) - a soma de todos os bens e serviços produzidos no País - agora caiu de 1,95% para 1,71% este ano.
Para 2020, também houve redução: de 2,58% para 2,50%. Essa foi a quinta redução consecutiva. As estimativas de crescimento do PIB para 2021 e 2022 permanecem em 2,50%.
Os números constam do boletim Focus, publicação semanal do Banco Central (BC) elaborada com base em estimativas de instituições financeiras sobre os principais indicadores econômicos.
A estimativa de inflação, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi ajustada de 4,06% para 4,01% este ano. Para 2020, a previsão segue em 4%. Para 2021 e 2022, também não houve alteração: 3,75%.
A meta de inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é 4,25%, com intervalo de tolerância entre 2,75% e 5,75%. A estimativa para 2020 está no centro da meta: 4%. Essa meta tem intervalo de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Para 2021, o centro da meta é 3,75%, também com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. O CMN ainda não definiu a meta de inflação para 2022.
Para controlar a inflação, o BC usa como principal instrumento a taxa básica de juros, a Selic. Para o mercado financeiro, a Selic deve permanecer no seu mínimo histórico de 6,5% ao ano até o fim de 2019.
Para o fim de 2020, a projeção segue em 7,50% ao ano. Para o fim de 2020 e 2021, a expectativa permanece em 8% ao ano.
A Selic, que serve de referência para os demais juros da economia, é a taxa média cobrada nas negociações com títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, registradas diariamente no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).
A manutenção da Selic este ano, como prevê o mercado financeiro, indica que o Copom considera as alterações anteriores nos juros básicos suficientes para chegar à meta de inflação. Ao reduzir os juros básicos, a tendência é diminuir os custos do crédito e incentivar a produção e o consumo.
Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de ficar acima da meta de inflação. Quando o Copom aumenta a Selic, a meta é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
A previsão do mercado financeiro para a cotação do dólar subiu de R$ 3,70 para R$ 3,75 no fim de 2019 e de R$ 3,78 para R$ 3,80 no fim de 2020.
.

Frustração precoce com o governo retarda a retomada da economia

A economia brasileira caminha para registrar mais um ano perdido. Ao menos é essa a visão de especialistas, caso o crescimento fique mesmo próximo de 1%, como indica a onda de revisões feitas por instituições financeiras nas últimas semanas.
Economistas falam em crescimento medíocre ou frustrante, levado por um novo componente: os riscos ligados à política econômica. "Qualquer crescimento mais próximo de 1% representa um ano perdido e traz uma sensação muito próxima ao de uma parada súbita", diz Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O governo, afirma a economista, precisa criar um ambiente favorável ao investimento, reduzir a incerteza política e - fato inesperado, que não estava no radar dos especialistas há algumas semanas - evitar riscos à política econômica. "Qual vai ser o preço do diesel? A reforma sai quando?", questiona Silvia, para exemplificar as preocupações que despontam.
Silvia prevê crescimento econômico entre 1,5% e 2% em 2019, mas avisa: o risco é para baixo. Segundo a economista, crescer 1% em 2018 foi compreensível, considerando a baixa popularidade de Michel Temer, a paralisação dos caminhoneiros, o mau humor externo em relação aos emergentes e o turbulento processo eleitoral. "Repetir isso em 2019 é inaceitável. Não há o que culpar."
Os indicadores já conhecidos não são bons. A indústria patina influenciada pelo efeito da crise argentina sobre o setor automotivo somado a uma piora da demanda interna identificada a partir março. Nas contas do Ibre, um indicador importante do apetite por investimentos que mede a demanda por máquinas e equipamentos deve crescer apenas 1% no primeiro trimestre sobre igual período de 2018 - algo pífio diante da queda acumulada de cerca de 30% do investimento na economia durante a recessão.
Essa falta de ânimo para investimentos se traduz em fraqueza do emprego, cuja reação ainda se dá pela informalidade. Economistas até esperam que o consumo das famílias cresça um pouco acima do PIB em 2019, mas em ritmo insuficiente para fazer girar com mais força a economia.
A percepção é que o otimismo, que deu o tom na virada do ano, se reverte de modo profundo e rapidamente. Samuel Pessôa, sócio da consultoria Reliance e pesquisador da FGV, afirma que houve frustração precoce com o governo de Jair Bolsonaro porque se imaginava que a reforma da Previdência seria encaminhada rapidamente e o País voltaria a andar. "A política é muito ruim, o que não é de surpreender, porque Bolsonaro avisou. Ele não entende que um governo de coalização compartilha poder para negociar um projeto de país", diz Pessôa.
"Temos um governo com sinais muito ambíguos", diz Marcos Lisboa, presidente do Insper. "Ele aprovou benefícios para a Sudam e a Sudene (autarquias de desenvolvimento regional), restrição ao comércio de leite e de banana, regras de conteúdo nacional. Que agenda liberal é essa?". Outro exemplo dúbio, afirma Lisboa, foram as idas e vindas em relação ao preço do diesel. "Foi um ruído desnecessário que revela falta de conhecimento das práticas de gestão de uma empresa estatal."
Da parte dos empresários, o desconforto se reflete nos principais indicadores de confiança da FGV. Após uma recuperação na virada do ano, o sinal se inverteu de forma generalizada. A queda da confiança ocorre em razão da imaturidade do governo, diz Júlio Cesar Lobato, presidente do grupo Trasmontano. Para Lobato, o mais preocupante são as intervenções na economia. "Paulo Guedes aguenta isso até onde? O casamento vai até quando? Se ele sai, acaba de vez o governo."
Carlos Santa Cruz, presidente da fabricante de embalagens Bemis América Latina, aponta a desaceleração do mercado em março, mas se diz ainda otimista. "Depende muito do foco do governo como um todo."