As enchentes que devastaram a Fronteira Oeste gaúcha em janeiro trouxeram perdas consideráveis para a produção arrozeira do Rio Grande do Sul. Ainda assim, os produtores de arroz orgânico do Estado esperam colher 16 mil toneladas do grão na safra 2018-2019 e conquistar novos mercados dentro e fora do País, aproveitando a onda de maior procura por alimentos com selo agroecológico.
Mesmo amargurando perdas, a colheita do grão foi aberta com otimismo nesta sexta-feira (15), durante a 16ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico, em Nova Santa Rita, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA).
Os municípios de Manoel Viana e São Gabriel foram os mais prejudicados pelas chuvas do início do ano. "Além do baque emocional, temos o baque econômico. Foi uma perda de 600 hectares e cerca de três mil toneladas de arroz orgânico", estima Emerson Giacomelli, coordenador do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, uma quebra de 16%. Com isso, a produção deste ano ficará abaixo da colheita da safra 2017-2018, que somou 20 mil toneladas de arroz. O movimento trata com órgãos públicos a possibilidade de acionar seguros para ajudar as famílias atingidas.
O arroz sem agrotóxicos é produzido no Estado por 363 famílias de assentamentos ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) que completam duas décadas de cultivo. A produção gaúcha é a maior da América do Sul, conforme o Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga), e se concentra em 15 assentamentos e 13 municípios gaúchos, sendo Viamão, Eldorado do Sul, Nova Santa Rita e Manoel Viana os maiores produtores.
Os programas de alimentação, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), ainda são o maior destino da produção orgânica. De acordo com Giacomelli, houve um crescimento expressivo nas vendas para a alimentação escolar. Este ano a estimativa é de alta entre 25% a 30% neste mercado, que abastece, além do Rio Grande do Sul, os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
No Rio Grande do Sul, o movimento trabalha para retomar os negócios com o governo do Estado, que foram enxugados na gestão de José Ivo Sartori (MDB), entre 2015 e 2018. As tratativas com o governador Eduardo Leite (PSDB) envolvem as compras da produção da agricultura familiar, que tem como principal destino os presídios. O fornecimento às escolas é feito na relação direta do próprio MST com as instituições de ensino, já que as compras de merenda não são centralizadas pelo Estado.
Produtores buscam exterior e redes de varejo
Mas os novos mercados vão além da fronteira nacional. As exportações dos assentamentos começaram em 2008. No ano passado, somaram 3 mil toneladas enviadas para diversos países. "Tínhamos um mercado bem interessante na Venezuela, mas os negócios têm se tornado cada vez mais difíceis diante da crise política e econômica que enfrenta o país", justifica Giacomelli.
Há negociações com países como Grécia, Portugal, Argentina, China e Emirados Árabes, e a meta para 2019 é ampliar para 5 mil toneladas o volume embarcado para fora do Brasil. "As exportações são interessantes, mas estamos buscando uma diversidade de negócios para não criar dependência", diz o coordenador.
Além do arroz polido (branco), integral e parboilizado, os agricultores apostam na estreia do arroz orgânico integral parboilizado, que só tinha na versão do branco, e que começou a ser beneficiado. Hoje são duas marcas que os consumidores podem encontrar nos canais de distribuição: a Terra Livre e Coopan.
"Estamos inserindo o produto aos poucos. A aceitação tem sido excelente pelos consumidores", garante Giacomelli, que sinaliza que o mercado atual está "bastante aquecido" pela grande quantidade de marcas que abriram linhas de orgânicos.
O grupo busca também posicionar as marcas do grão em redes de varejo, uma cadeia de venda que é mais sofisticada. Os preços variam conforme a qualidade e buscam ser competitivos levando em conta o modelo produtivo que carregam, com origem em cooperativas agroecológicas.
Todo o processo produtivo, industrial e comercial é coordenado pela Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), a partir da produção das famílias de mais três entidades: a Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Tapes (Coopat), Cooperativa de Produção Agropecuária de Charqueadas (Copac) e a Cooperativa dos Produtores Orgânicos da Reforma Agrária de Viamão (Coperav).