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Agronegócios

- Publicada em 05 de Março de 2019 às 01:00

Registro de agrotóxicos atinge recorde em 2018

Volume de pedidos encaminhados ainda inviabiliza prazo previsto em lei

Volume de pedidos encaminhados ainda inviabiliza prazo previsto em lei


/VALTRA/DIVULGAÇÃO/JC
Em meio à pressão por mudança nas regras do setor, o total de agrotóxicos liberados para venda no mercado ou para uso industrial têm crescido nos últimos anos. Só em 2018 foram aprovados 450 registros desse tipo de produto, o maior número em, ao menos, 13 anos, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Para comparação, em 2005, foram 91 registros, e, em 2015, 139.
Em meio à pressão por mudança nas regras do setor, o total de agrotóxicos liberados para venda no mercado ou para uso industrial têm crescido nos últimos anos. Só em 2018 foram aprovados 450 registros desse tipo de produto, o maior número em, ao menos, 13 anos, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Para comparação, em 2005, foram 91 registros, e, em 2015, 139.
O avanço, que ganhou impulso nos últimos dois anos, no governo Michel Temer (MDB), tem chamado a atenção de especialistas, que veem a possibilidade de novo aumento na gestão Jair Bolsonaro (PSL). Isso porque representantes do novo governo têm se posicionado de forma mais favorável às demandas do agronegócio e intensificado críticas a algumas políticas ambientais.
Nos dois primeiros meses deste ano, o governo aprovou o registro de 74 produtos ligados a agrotóxicos, pouco mais de um ao dia. Destes, 58 já tiveram o aval formalizado no Diário Oficial da União. Hoje, a análise para liberação de agrotóxicos é dividida entre três órgãos: Agricultura, que avalia a eficácia dos produtos; Anvisa, que avalia a toxicidade; e Ibama, que analisa riscos ao ambiente. Questionado, o Mapa diz que o aumento nos registros se deve a uma maior agilidade da Anvisa nas análises toxicológicas e que as recentes liberações não envolvem novos ingredientes ativos, mas produtos conhecidos do consumidor.
O ministério informa, ainda, que o aumento nos registros não indica um maior uso, mas novas opções para diferentes culturas. Em nota, a Anvisa afirma que uma reorganização de processos de trabalho permitiu maior rapidez nas análises, mas que o volume de pedidos acumulados ainda inviabiliza que o prazo previsto em lei para registro, de até 120 dias, seja cumprido.
Já o Ibama atribui o recorde a pressões judiciais e a maior demanda das empresas por registro nos últimos anos. Só neste ano, em um mês, ao menos 31 novos pedidos foram incluídos na fila. Comemorado por ruralistas, o aumento na liberação de produtos para venda no mercado preocupa movimentos que defendem maior rigor aos agrotóxicos.
Em 2018, o recorde no aval aos produtos ocorreu ao mesmo tempo em que um projeto que flexibiliza as regras de registro avançou no Congresso. O texto, aprovado em comissão especial, tem sido alvo de críticas da Anvisa e do Ibama por retirar atribuições que hoje competem aos dois órgãos.
A comissão era presidida pela deputada federal Tereza Cristina (DEM), hoje ministra da Agricultura. Em audiência no Senado na semana passada, ela voltou a defender mudanças na lei e rebateu críticas sobre o aumento na liberação dos produtos. "Os pedidos estavam estagnados, e, agora, a Anvisa resolveu trabalhar esse assunto, liberando várias moléculas nos últimos dois meses que estavam paradas em uma fila", afirmou. "Era a grande reclamação: 10 anos para se liberar uma molécula", disse Tereza Cristina.
O consultor da Confederação de Agricultura e Pecuária (CNA) Reginaldo Minaré diz que a pressão por mudanças na lei pode ter colaborado para o aumento nos registros. Para ele, no entanto, o processo ainda é lento.
Estimativas do Mapa apontam prazos de espera que variam de oito meses - para produtos biológicos - até cinco anos - para novas marcas de produtos já existentes no mercado -, e 10 anos para novos ingredientes ativos. "Há mais de uma década, o setor vem enfrentando dificuldades no sistema de registro dos defensivos (agrotóxicos). Sempre o volume é aquém do que seria interessante para melhorar a concorrência", diz o consultor.
O problema é que o aumento na aprovação de agrotóxicos não vem acompanhado de ações de controle, afirma o agrônomo Luiz Cláudio Meirelles, pesquisador da Fiocruz e ex-coordenador de avaliação toxicológica da Anvisa.
 

Neste ano, 58 fórmulas já tiveram aval formalizado; 21 são de alta toxicidade

Dos 58 produtos aprovados neste ano e que já tiveram dados divulgados no Diário Oficial da União, 21 são considerados extremamente tóxicos; 11, altamente; 19, mediamente; e sete, pouco tóxicos. Já em relação ao perigo ao ambiente, um aparece como altamente perigoso; 31, como muito perigosos; 24, como perigosos; e apenas dois, como pouco. Os dados dos outros 16 produtos aprovados ainda não foram informados.
"Já existe uma recomendação pela Organização das Nações Unidas (ONU) a nível internacional para que agrotóxicos altamente perigosos sejam retirados do mercado", diz Luiz Cláudio Meirelles, pesquisador da Fiocruz e ex-coordenador de avaliação toxicológica da Anvisa. "O Brasil precisava efetivar substâncias de menor risco, e não as altamente perigosas." Ele cita como exemplo a atrazina, agrotóxico proibido na Europa, mas usado amplamente no Brasil.
Há outros produtos cuja liberação divide especialistas e membros do setor. É caso do sulfloxaflor, ingrediente ativo liberado no fim de 2018 e alvo de restrições recentes nos Estados Unidos por causa de seu potencial de impactar a população de abelhas. Atualmente, tanto Anvisa quanto Ibama dizem priorizar a análise de pedidos de registro de produtos biológicos, considerados de menor toxicidade.
O problema, dizem os órgãos, é que a demanda para registro desses produtos ainda é baixa. Em 2018, de 450 registros, apenas 52 eram biológicos, ou cerca de 11%. Para Meirelles, o ideal seria que houvesse mais critérios que priorizem o interesse público. "Por que vou registrar um produto classe 1, que é extremamente tóxico, se tenho outro que tem a mesma função e é classe 3?", compara. "Enquanto na Europa se proíbe pulverização aérea e se fala em moratória para alguns produtos, aqui é 'libera geral'", critica Fernando Carneiro, do grupo de trabalho de saúde e ambiente da Abrasco.