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Siderurgia

- Publicada em 03 de Março de 2019 às 01:00

Presidente da Vale se afasta da companhia

Schvartsman decidiu após críticas devido ao desastre causado pelo rompimento de barragem

Schvartsman decidiu após críticas devido ao desastre causado pelo rompimento de barragem


MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL/JC
O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, e três diretores da mineradora apresentaram, nesta sexta-feira, cartas ao Conselho de Administração da empresa solicitando o afastamento temporário do comando da companhia. O conselho se reuniu no sábado à tarde por teleconferência e aceitou os pedidos.
O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, e três diretores da mineradora apresentaram, nesta sexta-feira, cartas ao Conselho de Administração da empresa solicitando o afastamento temporário do comando da companhia. O conselho se reuniu no sábado à tarde por teleconferência e aceitou os pedidos.
A decisão foi tomada por causa das pressões de integrantes da força-tarefa que investiga o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que deixou 186 mortos e 122 pessoas desaparecidas. Um documento com o pedido de afastamento deles da direção da empresa, assinado por representantes do Ministério Público Federal (MPF), do Ministério Público Estadual de Minas Gerais (MP-MG) e da Polícia Federal foi entregue na sexta-feira a advogados da empresa.
A força-tarefa pedia, ainda, que empregados não compartilhassem nenhuma informação profissional com as pessoas cuja saída da Vale foi recomendada. Além do presidente, também integram o grupo citado pela força-tarefa o diretor executivo de ferrosos e carvão, Gerd Peter Poppinga; o diretor de planejamento, Lúcio Flávio Gallon Cavalli; e o diretor de operações do corredor sudeste, Silmar Magalhães Silva.
Na carta, Schvartsman afirma: "Tomei a decisão, nesta hora, em benefício da continuidade das operações da companhia e do apoio às vítimas e a suas famílias, de solicitar a esse conselho, respeitosamente, que aceite o pedido de meu afastamento temporário das funções de diretor-presidente da Vale".
Os integrantes da força-tarefa dizem que a atuação dos executivos junto aos empregados estaria atrapalhando as investigações. Além disso, a divulgação pela empresa do acordo para pagamento do auxílio emergencial para os atingidos como uma iniciativa da empresa provocou desconforto. De acordo com o promotor de Justiça do MP-MG André Sperling, a empresa pretendia pagar o auxílio apenas aos moradores das duas localidades mais atingidas - Parque da Cachoeira e Córrego do Feijão -, mas foi obrigada a estender a indenização para todos os moradores de Brumadinho. "Não foi bem uma questão de aceitação da Vale. A Vale viu-se compelida a fazer isso. Ela queria (pagar para os moradores) Parque da Cachoeira e Córrego do Feijão", disse o promotor.
Um trecho da carta de renúncia dos três diretores, preparada pelo mesmo advogado diz: "Estou convencido de que nesse momento de polarização, o melhor que tenho a fazer, tanto para mim como para a Vale, é solicitar o afastamento temporário de minhas funções, até que as autoridades concluam suas investigações e possam apurar, independentemente do meu cargo, de forma técnica, legal e imparcial, as causas e circunstâncias do rompimento da barragem".
Com a saída do grupo, a Vale será conduzida, interinamente, pelos diretores remanescentes, sob o comando do diretor executivo de metais básicos, Eduardo Bartolomeo. Fontes dizem que não há movimentação no mercado, neste momento, em busca de um substituto. A mudança definitiva só deve ocorrer em abril, após a Assembleia Geral Ordinária de acionistas, quando também são esperadas mudanças no Conselho de Administração da companhia, com a redução do peso da Previ, que, hoje, ocupa quatro assentos no conselho, e o aumento da presença de conselheiros ligados ao setor de mineração.
Em nota, a Vale confirmou o afastamento de Schvartsman e dos três diretores. Além de Bartolomeo, que será o presidente interino da mineradora, a companhia confirmou que Claudio de Oliveira Alves vai assumir a área de ferrosos e carvão e Mark Travers ficará na função de diretor executivo de metais básicos.

Empresa sofre pressão de agências de risco e de investidores do mercado

Tragédia ocorrida em 25 de janeiro já contabiliza 166 pessoas mortas

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DOUGLAS MAGNO/AFP/JC
Na semana passada, a pressão sobre a Vale aumentou também no campo das finanças. A agência de avaliação de risco Moody's rebaixou a nota da empresa, que perdeu o grau de investimento.
Um segundo rebaixamento, que pode vir da agência Standard & Poor's, poderia obrigar muitos fundos de investimentos estrangeiros a se desfazerem de ações da empresa.
O papel da mineradora já perdeu cerca 25% de seu valor desde 25 de janeiro, quando aconteceu a tragédia em Brumadinho. A Defesa Civil de Minas Gerais contabiliza, até o momento, 186 mortos e 122 desaparecidos.

Novo dirigente tem uma década de atuação na mineradora

O sucessor de Fabio Schvartsman no comando da Vale - após ele ter se afastado temporariamente no sábado - é um executivo com passagem de uma década pela mineradora e que chegou a ser cotado para a presidência da companhia em 2017. Como presidente interino, caberá a Eduardo de Salles Bartolomeo restabelecer a normalidade nas operações da maior produtora de minério de ferro no mundo e recuperar a confiança dos investidores, depois de o estouro de uma barragem em Brumadinho (MG) ter deixado, pelo menos, 186 mortos há um mês - 122 pessoas ainda estão desaparecidas.
Bartolomeo se fez como executivo em dois gigantes do capitalismo brasileiro: a Ambev, na qual ficou de 1994 a 2004 e chegou a diretor de operações, e a própria Vale. Na mineradora, foram duas passagens. Na primeira, entre 2004 e 2012, atuou como diretor do Departamento de Operações Logísticas e como diretor executivo. A segunda passagem começou em janeiro de 2018, quando assumiu a diretoria executiva de metais básicos. Bartolomeo estava morando no Canadá, onde, em meados do ano passado, coordenou investimento de US$ 1,7 bilhão em mina de níquel, metal que passa por boom nos mercados internacionais por conta da demanda crescente por baterias de carros elétricos.
De acordo com fato relevante divulgado sábado, Bartolomeo será substituído por Mark Travers, que, hoje, dirige as áreas jurídicas, de relações institucionais e de sustentabilidade de metais básicos na mineradora.
Antes de voltar à Vale, Bartolomeo foi diretor-presidente (de 2013 a 2015) do Brazilian Hospitality Group (BHG), empresa do setor de hotelaria, e diretor-presidente da Nova Transportadora do Sudeste (NTS), rede de gasodutos vendida pela Petrobras a consórcio liderado pela Brookfield, da qual era consultor. Desde 2016, ele também preside o Conselho de Administração da firma de logística Log-In.
Quando Murilo Ferreira estava para deixar o comando da Vale, em 2017, Bartolomeo - que, à época, atuava como consultor da canadense Brookfield e era conselheiro da mineradora, indicado pelo Bndes - era um dos cogitados para sucedê-lo. Entre 2016 e 2017, o executivo também foi membro do Comitê Estratégico da Vale.
Bartolomeu se formou em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 1988 e possui MBA pela Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, e pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Seu primeiro emprego foi na Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), em Saltos, em 1988.