O clima econômico no Brasil deu um salto em janeiro, descolando-se da América Latina e do resto do mundo. Sondagem da FGV (Fundação Getulio Vargas) elaborada em conjunto com o instituto alemão Ifo mostra que o Brasil foi um dos poucos países da América Latina a registrar melhora no ICE (Indicador de Clima Econômico), que saiu de 33,9 pontos negativos em outubro de 2018 - data da última pesquisa - para 3,6 pontos positivos em janeiro, pesquisa mais recente. A próxima sai em abril.
A recuperação é explicada pelo forte aumento das expectativas, de 25,9 pontos para 88 pontos no período. Já a percepção sobre a situação atual melhorou, mas se mantém no nível negativo (de -77,8 pontos para -56 pontos).
O Indicador de Clima Econômico é composto pelo ISA (Indicador da Situação Atual) e o IE (Indicador de Expectativas), que tratam, respectivamente, da situação econômica geral do país no momento e do que se espera para os próximos seis meses. Os indicadores vão de -100 a 100, sendo zero o ponto de inflexão.
O Brasil foi o único país que melhorou a avaliação da situação atual e das expectativas, influenciando a melhora do indicador de toda a América Latina. Ainda assim, o indicador atual brasileiro em 3,6 pontos está bem longe do pico ao redor de 50 pontos alcançado entre 2009 e 2010. "Apesar da melhora, o nível atual do clima econômico ainda é bastante instável, muito associado às promessas feitas pelo governo Bolsonaro, como a reforma da Previdência", diz Lia Valls, pesquisadora associada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.
Segundo ela, a manutenção do bom clima econômico vai depender dos próximos passos do governo. Em toda a América Latina, o indicador passou de -10,7 pontos para -9,1 pontos, ainda em zona desfavorável.
No mundo, as expectativas pioram. Desde abril de 2013, o clima econômico no mundo era melhor do que na América Latina, resultado que se inverteu na sondagem atual. Globalmente, o Índice de Clima Econômico (ICE) caiu e segue em zona desfavorável influenciado pela queda tanto dos indicadores que medem a situação atual quanto das expectativas.
O indicador de situação atual caiu de 12,2 pontos para 2,2 pontos. Já o indicador de expectativas, que já era desfavorável desde julho 2018, registrou uma nova queda e atinge em janeiro -2,7 pontos.
Nos EUA, por exemplo, a avaliação da situação atual foi positiva, mas piorou em relação a outubro de 2018, enquanto às expectativas tiveram forte deterioração com o indicador passando de -14 pontos para -49,2 pontos.
Na União Europeia, o cenário se repete. As grandes economias estão ainda experimentando uma conjuntura favorável, mas as expectativas não são boas.
Na América Latina, além do Brasil, o clima econômico melhorou na Argentina e na Bolívia. A Argentina, porém, se mantém em nível desfavorável. Na outra ponta, a Venezuela registra o pior clima econômico possível (-100).
Entre os países que forma o grupo dos Brics, o ICE da China caiu em consequência de uma piora das avaliações sobre a situação atual e expectativas, que se mantiveram em terreno negativo, em -38,8 pontos. O mesmo ocorreu na África do Sul (-33,7 pontos). Rússia (-22,1 pontos), Índia (+10,4 pontos) e Brasil registram melhora na avaliação do clima econômico, mas apenas os dois últimos países estão na zona favorável do ICE. Observa-se que a Índia registra ICE positivos, desde outubro de 2013, o que sinaliza um período sustentado para um crescimento favorável, ressaltou a FGV.
A sondagem é feita com base em informações prestadas a cada três meses por especialistas nas economias de seus respectivos países. Em janeiro, foram consultados 138 especialistas econômicos em 15 países da América Latina.