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Agronegócios

- Publicada em 27 de Janeiro de 2019 às 22:11

Pesticidas colocam apicultura em xeque no Rio Grande do Sul

Perdas estimadas de 6 mil colmeias superam prejuízos da temporada passada, de 4 mil colmeias

Perdas estimadas de 6 mil colmeias superam prejuízos da temporada passada, de 4 mil colmeias


PHILIPPE HUGUEN/AFP/JC
Cada vez mais frequentes, os casos de colmeias inteiras encontradas mortas preocupam os apicultores gaúchos. Segundo estimativas dos produtores, as perdas na virada de 2018 para 2019 devem ultrapassar 6 mil colmeias, número maior do que o visto na temporada passada, quando chegaram a 4 mil. Para os apicultores, o motivo tem a ver com o uso incorreto de pesticidas nas lavouras de soja, que afetam abelhas comerciais e nativas, diminuem o valor do mel e, por conta disso, ameaçam até o futuro do setor no Estado.
Cada vez mais frequentes, os casos de colmeias inteiras encontradas mortas preocupam os apicultores gaúchos. Segundo estimativas dos produtores, as perdas na virada de 2018 para 2019 devem ultrapassar 6 mil colmeias, número maior do que o visto na temporada passada, quando chegaram a 4 mil. Para os apicultores, o motivo tem a ver com o uso incorreto de pesticidas nas lavouras de soja, que afetam abelhas comerciais e nativas, diminuem o valor do mel e, por conta disso, ameaçam até o futuro do setor no Estado.
"É muito difícil trabalhar em uma situação como essa", afirma o coordenador da Câmara Setorial da Apicultura e Meliponicultura no Rio Grande do Sul, Aldo Machado dos Santos, que vê muitos apicultores abandonando a produção por conta dos problemas enfrentados nos últimos anos. Atualmente, a estimativa é de que hajam 34 mil apicultores no Estado, com um total de 493 colmeias.
Um dos principais motivos para a desistência, segundo Santos, é a morte das colmeias. Em dezembro e janeiro, foram oito os casos que chegaram à Secretaria da Agricultura, que ainda aguarda o resultado das análises para determinar a causa. Quase todos - exceto um, em Barracão, no Nordeste - em municípios da Metade Oeste gaúcha.
Aos apicultores, há pouca dúvida sobre a razão para as mortes. "Alguns defensivos são usados em épocas que não deveriam e causam esses danos às abelhas e ao restante do ambiente", assegura o presidente da Federação Apícola do Estado, Anselmo Kuhn. O principal acusado é o fipronil, inseticida utilizado em lavouras de soja, mas há pelo menos outras três substâncias neonicotinoides com o mesmo potencial destrutivo às colmeias, segundo o técnico da Emater, Sanderlei Pereira.
Como os casos já se somam desde os primeiros anos da década, a Câmara Setorial chegou a instituir um grupo de trabalho que, por um ano, estudou o uso dessas moléculas e aprovou o pedido de proibição de todas, solicitação protocolada ainda em 2017. "Mesmo com doses ultra baixas elas já matam as abelhas", assegura Pereira. O crescimento dos casos de mortandade é atribuído ao avanço da sojicultora pelo território gaúcho, alcançando, justamente, as regiões da Metade Sul e Fronteira-Oeste onde estão sendo relatadas as perdas de colmeias atualmente.
"Perde-se tudo, leva dois, três anos para recuperar, e quem não tem outra atividade não tem como se manter", afirma o coordenador da câmara sobre a desistência de vários apicultores em seguir com a produção. Outro fator é a perda de rentabilidade com o mel. Por conta da presença de agroquímicos no produto, como o glifosato, muitos apicultores não têm mais conseguido o certificado de mel orgânico, tendo de vender o produto como convencional, que vale até 40% a menos no mercado.
Por ano, o Estado produz de 7 mil a 10 mil toneladas de mel. Nesse ano, pelos problemas também com o excesso de chuvas de janeiro na Região Oeste, que é a de maior produção no outono, é possível que a oferta esteja mais perto do limite inferior. A quebra na região afetada deve chegar a 40%, segundo Santos.
Para além da produção comercial, porém, o efeito é sentido da mesma forma nas espécies nativas. "São mais de 20 espécies que também estão morrendo, algumas com ameaça de extinção. Uma vez extinta, nunca mais se reverte", defende Pereira. Caso chegue a esse ponto, o dano pode ser muito maior. Há frutas, como o maracujá, cuja polinização é exclusivamente feita por abelhas (a mamangava, no caso) segundo o coordenador da Câmara Setorial, que também estão sendo afetadas pelo uso dos inseticidas. 

Produtores defendem coexistência com sojicultores

Críticas ocorrem em relação às fases de aplicação de produtos para combater pragas

Críticas ocorrem em relação às fases de aplicação de produtos para combater pragas


DEISE FROELICH/EMATER/DIVULGAÇÃO/JC
Ainda que cravem o uso de pesticidas como o motivo das mortes das colmeias, os apicultores não rejeitam, necessariamente, a utilização das moléculas. “O fipronil, por exemplo, é dos melhores que existe para pragas, e o produtor de soja dificilmente vai conseguir produzir sem isso. Mas tem que ser usado de forma correta”, defende o coordenador da Câmara Setorial da Apicultura e Meliponicultura, Aldo Machado dos Santos, que aposta em ações de conscientização sobre o uso adequado dos pesticidas.
As principais críticas são referentes ao período de uso, inclusive na própria semeadura, segundo o presidente da Federação Apícola do Estado, Anselmo Kuhn. “Durante todo o ciclo da planta, quem atacar vai morrer”, comenta o dirigente. Outra fase crítica é na floração, período em que as abelhas visitam as plantas. Santos acrescenta que, por o pesticida ser de ação lenta e atuar por ingestão e contato, uma abelha contaminada chega a causar a morte de outras 700.
“Sendo a soja um produto de importância econômica, devia ser negociado a sobrevivência das duas atividades, que deveriam se proteger, pois são autodependentes”, acrescenta o técnico da Emater, Sanderlei Pereira. Há estudos que mostram que há variedades de soja com aumento de 56% de produtividade por conta da polinização de abelhas, segundo o técnico, o que justificaria a cooperação entre as partes.
Pereira ainda defende que já há alternativas às moléculas problemáticas, como os tratamentos biológicos, e que, com o avanço dos anos, aparecerão outras mais. “Não é salutar para ninguém a briga, não vai a bom caminho. Melhor sentar e conversar para que se ache uma solução”, continua o técnico.
Santos afirma ainda que há esforços nesse sentido, com ações de empresas e do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) atuando na capacitação quanto ao uso correto dos pesticidas. “Está começando a acontecer, mas no ritmo muito lento”, defende o coordenador da Câmara Setorial, criticando, porém, a falta de fiscalização e de ação do sistema judiciário.