O último dia da estada da maior parte da comitiva presidencial em Davos foi repleto de reuniões bilaterais com países de menor importância comercial para o Brasil ou sem maior envergadura no xadrez geopolítico. Parte deles integra o grupo anti-imigração da Europa, governos que têm causado polêmica por rejeitar a entrada de estrangeiros em seus territórios.
O presidente Jair Bolsonaro se encontrou na manhã de quinta-feira (24) com o primeiro-ministro da República Checa, Andrej Babis. O país eslavo responde por 0,035% das exportações brasileiras. Em 2018, as vendas de bens para lá totalizaram US$ 84 milhões, montante que posiciona os tchecos em 98º lugar no ranking de compradores.
O primeiro-ministro tcheco insistiu que ele e Bolsonaro "compartilham das mesmas ideias sobre imigração". Na Europa, Babis tem sido alvo de duros ataques por sua posição, considerada até mesmo xenófoba por parte da UE e de outros líderes. Ele é um dos líderes do Grupo de Visegrad (V4), formado por Polônia, Hungria e Eslováquia, além da República Checa. O bloco tem se oposto a qualquer abertura para receber estrangeiros, inclusive refugiados sírios.
Babis avalia que o Bolsonaro é da mesma opinião e quer o brasileiro na cúpula do grupo, no segundo semestre do ano, em Praga. "Trocamos impressões sobre migração e temos a mesma opinião. No V4, em especial eu e Viktor Orbán (chefe de governo húngaro), estamos lutando na Europa contra a imigração ilegal", disse.
Bolsonaro teve um encontro com o presidente polonês, Andrzej Duda. Para o país em que o discurso anti-imigração e as investidas contra a independência dos Poderes crescem com força, o Brasil exportou no ano passado US$ 857 milhões (0,36% do total). Duda indicou que acredita que Bolsonaro compartilhe os "mesmos valores" de seu governo. O presidente polonês é criticado duramente pela UE por violações no quase refere à separação de Poderes e criou polêmica ao passar uma lei em que passa a ser proibido dizer que houve cumplicidade da Polônia durante o Holocausto.
Segundo ele, há um interesse por parte de Varsóvia por uma ampliação do comércio com o Brasil e um acordo para evitar bitributação. Os outros europeus também sinalizaram que querem ampliar o comércio com o País, em especial no setor de defesa.
Já o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se reuniu com David Zalkaliani, titular da pasta de Negócios Estrangeiros da Geórgia, para onde foram em 2018 US$ 203 milhões em produtos brasileiros, o equivalente a 0,085% do montante vendido para fora.
Antes de deixar o hotel em que estava hospedado rumo a Zurique, de onde tomaria o voo de volta para o Brasil, Bolsonaro esteve também com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Os dois países integram o consórcio de emergentes Brics, cuja presidência temporária Pretória está entregando a Brasília.
A exceção na agenda foi a Holanda do primeiro-ministro Mark Rutte, que ocupa a quarta posição na classificação das vendas brasileiras para o exterior (US$ 13 bilhões, ou 5,45%). Artigos ligados à exploração de petróleo e produtos alimentícios encabeçam as compras holandesas.
A agenda de compromissos de quinta foi fechada com bilaterais com a Coreia (encontro entre chanceleres) e a Colômbia (presidentes). O país asiático comprou US$ 3,4 bilhões do Brasil em 2018 (1,43%, 13º lugar).
O país sul-americano, além de parceiro regional incontornável em termos políticos, é o 19º que mais adquire produtos brasileiros (US$ 2,8 bilhões, ou 1,17% do total), com destaque para partes automotivas.
Ernesto Araújo é o único ministro que ficará mais um dia em Davos. Ele volta ao Brasil nesta sexta-feira (25), depois de participar de um evento da OMC (Organização Mundial para o Comércio).
Na quinta-feira, nenhum integrante do alto escalão da comitiva brasileira quis dar entrevista à imprensa antes da saída do hotel em que o presidente e alguns ministros estavam hospedados. Após desmarcar a coletiva de quarta-feira (23) e limitar-se a responder os repórteres com um "bom dia, Brasil!", Bolsonaro deixou Davos sem nenhuma declaração ou entrevista à imprensa brasileira, nem mesmo acerca de sua participação no evento. Abriu exceção apenas para uma entrevista gravada para a Rede Record.