Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Comércio Exterior

- Publicada em 04 de Dezembro de 2018 às 01:00

Fatia das exportações na receita das empresas recua

Dólar favorável não conseguiu elevar a competitividade dos brasileiros

Dólar favorável não conseguiu elevar a competitividade dos brasileiros


/ANTONIO SCORZA/AFP/JC
Com a queda do consumo no Brasil, em razão da crise econômica, empresas que atuam tanto no mercado doméstico quanto internacional se viram forçadas a buscar mais negócios no exterior. No entanto, uma pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), feita em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que o esforço parece ter sido em vão. A participação das exportações na receita bruta das companhias, ao invés de subir, caiu entre 2016 e 2018, indicando que nem mesmo o dólar mais favorável foi capaz de elevar a competitividade dos brasileiros.
Com a queda do consumo no Brasil, em razão da crise econômica, empresas que atuam tanto no mercado doméstico quanto internacional se viram forçadas a buscar mais negócios no exterior. No entanto, uma pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), feita em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que o esforço parece ter sido em vão. A participação das exportações na receita bruta das companhias, ao invés de subir, caiu entre 2016 e 2018, indicando que nem mesmo o dólar mais favorável foi capaz de elevar a competitividade dos brasileiros.
Na comparação entre o levantamento desta segunda-feira e o anterior, feito em 2016, nota-se que a proporção de empresas cuja exportação corresponde a menos de 20% da receita subiu de 57,1% para 65,9%. Na outra ponta, o grupo de companhias que fatura mais de 80% com o mercado internacional perdeu espaço e passou a representar apenas 10,5% do total, ante 14,1% há dois anos.
O mercado interno ganhou espaço não porque a economia brasileira cresceu, mas sim porque as empresas tiveram dificuldades de conquistar clientes no exterior. Na avaliação da CNI, essas dificuldades derivam de problemas estruturais do Brasil e do fato de elas ainda não terem incorporado a internacionalização como parte integral de sua estratégia de negócios.
"Os números mostram que as empresas exportam há bastante tempo, mas o seu negócio é ancorado no mercado doméstico. É importante ter um equilíbrio, dividindo as receitas entre o mercado nacional e o internacional, para que as empresas se protejam em momentos de crise", afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi.
O diretor ressalta ainda que, para que a economia cresça de forma sustentada, as empresas precisam colocar o mercado internacional no centro de sua estratégia. "Países como a Coreia do Sul buscaram uma orientação exportadora a partir dos anos 1970 e a China, a partir dos anos 1990. Os números mostram que, além de a internacionalização ser importante para o equilíbrio das empresas, aquelas que exportam inovam mais e pagam melhores salários", diz Abijaodi.
O executivo destacou também que, mesmo com o dólar mais favorável para quem exporta, o mercado internacional não está mais tão demandante como há 10 anos, quando "tinha espaço para todo mundo". "Hoje está muito mais competitivo, então é difícil para as empresas se posicionarem", diz.
Entre as principais dificuldades destacadas, o primeiro lugar é ocupado pelas tarifas cobradas por portos e aeroportos, que consideradas altas demais por 51,8% exportadores que responderam às perguntas, numa escala de criticidade que vai de um a cinco.
Na sequência, outros três entraves considerados críticos por uma quantidade que vai 41% a 43,4% dos exportadores são a dificuldade de oferecer preços competitivos, as taxas cobradas por órgãos anuentes e os custos do transporte doméstico (da empresa até o ponto de despacho das mercadorias).
O estudo da CNI ouviu uma amostra de 589 empresas exportadoras, de todos os setores da economia, não só da indústria.

Tarifas de portos são o pior problema para os exportadores, mostra pesquisa da CNI­

Mais da metade das empresas exportadoras no Brasil avaliam que, hoje, a principal dificuldade que elas enfrentam ao vender seus bens para o exterior são as altas tarifas cobradas por portos e aeroportos. Os custos do transporte e a baixa efetividade do governo para superar os entraves internos também estão no topo da lista de queixas do setor.
As conclusões fazem parte do estudo realizado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em parceria com a FGV. A CNI pretende apresentar o material nos próximos dias para a equipe do futuro governo Jair Bolsonaro.
Os entraves foram elencados pelas empresas por ordem de gravidade. Parte das dificuldades citadas são recorrentes, como os gargalos do transporte doméstico ligados a logística e infraestrutura, o que revela a persistência dos problemas, afirma Constanza Biasutti, gerente de política comercial da CNI.
"Taxa de câmbio é um assunto ao qual as empresas brasileiras são muito sensíveis, mas no contexto atual não é um entrave como tem sido em outros momentos da economia do País", diz Constanza.
As tarifas de portos e aeroportos são consideradas muito impactantes por 51,8% das empresas. Na lista de lamentações aparece a alta cobrança de taxas por órgãos anuentes, como Ministério da Agricultura e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), com ênfase na Receita Federal.
O estudo também captura nuances regionais. No Centro-Oeste, o custo do transporte doméstico, desde a empresa até o ponto de saída do País, aparece como entrave mais crítico, com 73,9% das menções, devido à dificuldade de escoamento da produção agroindustrial. A região é desconectada e tem menor oferta de serviços de transporte. Para o Nordeste, o mais preocupante é o custo a partir da saída do Brasil até o destino.
No fim do mês passado, a CNI foi uma das 75 entidades que enviaram a Bolsonaro uma carta aberta contra o tabelamento do frete, que foi instaurada pelo atual governo após a paralisação dos caminhoneiros em maio e determina preços mínimos para o transporte rodoviário.
Antes mesmo do início do próximo governo, a CNI se decepcionou com a decisão do presidente eleito de submeter o ministério da Indústria à pasta de Economia do superministro Paulo Guedes.