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Conjuntura Internacional

- Publicada em 21 de Novembro de 2018 às 01:00

Ghosn é suspeito de usar US$ 18 milhões em imóveis

Líder da aliança entre as montadoras Renault, Nissan e Mitsubishi, o executivo Carlos Ghosn é suspeito de ter gasto US$ 18 milhões (R$ 67,5 milhões) de uma subsidiária da Nissan em imóveis de luxo no Rio de Janeiro e em Beirute, segundo o jornal japonês Nikkei.
Líder da aliança entre as montadoras Renault, Nissan e Mitsubishi, o executivo Carlos Ghosn é suspeito de ter gasto US$ 18 milhões (R$ 67,5 milhões) de uma subsidiária da Nissan em imóveis de luxo no Rio de Janeiro e em Beirute, segundo o jornal japonês Nikkei.
Preso na segunda-feira no Japão, Ghosn nasceu no Brasil e fez seus estudos primários no Líbano. Ganhou fama ao arquitetar a união entre Nissan e Renault e tirar a primeira da beira da falência nos anos 2000.
A Nissan disse que Ghosn ocultou sua renda do fisco durante anos, além de ter cometido outros ilícitos, como uso de bens da companhia para fins pessoais. A empresa afirma estar colaborando com as investigações.
Ontem, os governos francês e japonês reafirmaram, em um comunicado conjunto, seu "importante respaldo" à aliança entre os fabricantes de automóveis Renault e Nissan. O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, e o ministro da Economia japonês, Hiroshige Seko, conversaram por telefone, segundo o comunicado divulgado.
A parceria entre as montadoras, que ainda inclui a Mitsubishi, foi colocada em xeque após a prisão do brasileiro.
O presidente-executivo da Nissan, Hiroto Saikawa, afirmou que vai propor ao conselho de administração da empresa a remoção de Ghosn, em reunião que está marcada para amanhã.
Nesta terça, o presidente-executivo da Mitsubishi, Osamu Masuko, chegou a dizer que a aliança entre as empresas será difícil de administrar sem Ghosn.
Antes de ser detido, Ghosn trabalhava para que a aliança Renault-Nissan, que fabrica dez milhões de carros anuais, fosse "irreversível", comentou em nota Kentaro Harada, analista da SMBC Nikko Securities.
"Não podemos excluir a possibilidade de que a aliança se veja debilitada (...) Sobretudo, a questão principal é ver se isso alterará o equilíbrio do poder" entre as partes francesa e japonesa, acrescentou o analista.
O governo francês, que detém 15% das ações da Renault, pediu que a companhia seja assumida por um comando interino.
"Carlos Ghosn não está mais em condições de comandar o grupo", afirmou Le Maire, em entrevista a uma rede de televisão francesa, nesta terça.
O ministro francês, porém, afirmou não estar pedindo a demissão de Ghosn, uma vez que "não há provas" de qualquer irregularidade fiscal por parte do executivo na França.
Segundo investigação interna da Nissan, Ghosn teria reduzido o valor de seus salários em 5 bilhões de ienes (US$ 44,3 milhões) em declarações feitas ao longo de "muitos anos". Ele supostamente contou com a ajuda de um executivo da empresa para cometer a irregularidade.
No ano passado, Ghosn recebeu um total de 962 milhões de ienes (US$ 8,5 milhões) em espécie e ações por suas posições na Nissan e Mitsubishi, segundo dados das empresas. Já a Renault pagou ¤ 7,4 milhões (US$ 8,4 milhões) a Ghosn em 2017.

'Cortador de gastos'

Nascido no Brasil, descendente de libaneses e cidadão francês, Carlos Ghosn, 64, iniciou sua carreira na Michelin na França, onde trabalhou por 16 anos, e se transferiu para a Renault.
Ele chegou a Tóquio em 1999 para recolocar a Nissan nos trilhos, no momento em que a empresa acabava de se unir à francesa Renault. Ele foi nomeado presidente-executivo dois anos depois.
Com cerca de US$ 20 bilhões em dívidas, a Nissan precisou de um tratamento de choque na época. Houve demissões, encerramento de parcerias e fechamento de linhas de produção pouco produtivas.
Apelidado de “cost killer” (“cortador de gastos”), ele transformou um grupo à beira da falência em uma empresa lucrativa. Após o plano de recuperação, a companhia registrou lucros recordes.
Em 2005, o executivo passou a presidir também a Renault, sendo a primeira pessoa a liderar duas montadoras simultaneamente.
Em 2008, Ghosn passou a acumular também a liderança do conselho de administração da Nissan.
Em abril de 2017, passou o bastão para seu herdeiro, Hiroto Saikawa, ainda permanecendo à frente do conselho de administração. Passou a se concentrar mais na aliança da Renault com a Mitsubishi Motors, que ele levou para o topo da indústria automobilística mundial.
No mesmo ano, a empresa havia investido na Mitsubishi, após a companhia ser afetada por escândalo sobre falsificação de dados sobre emissão de poluentes.
A parceria Renault, Nissan e Mitsubishi é, hoje, uma construção de equilíbrios complexos, constituída de distintas empresas ligadas por participações cruzadas não majoritárias.
A Renault detém 43% da Nissan, que possui 15% do grupo do diamante, enquanto a Nissan possui 34% de seu compatriota Mitsubishi Motors. Rumores de fusão vazaram recentemente.
As acusações contra Ghosn, que construiu a aliança sozinho, acumulando funções como nenhum outro executivo até então, são um duro golpe no trio franco-japonês que reivindica o título de primeiro conglomerado automobilístico mundial.
No ano passado, foram 10,6 milhões de carros vendidos pelas montadoras, superando os concorrentes Toyota, ou Volkswagen.