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Economia

- Publicada em 20 de Novembro de 2018 às 17:53

Crise acelerou desigualdade racial no mercado de trabalho

'A desigualdade de renda se reduziu, mas não há nada a celebrar, pois todos estão descendo a escada", diz Lúcia

'A desigualdade de renda se reduziu, mas não há nada a celebrar, pois todos estão descendo a escada", diz Lúcia


GUILHERME DAROIT/ESPECIAL/JC
Guilherme Daroit
Faceta escondida da crise econômica brasileira, iniciada no fim de 2014, a disparidade étnico-racial no mercado de trabalho aumentou na Região Metropolitana de Porto Alegre com a recessão. É o que mostram os dados, divulgados nesta terça-feira (20), da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) compilados de 2011 até 2017, último ano completo do levantamento, encerrado pelo governo gaúcho no início de 2018. No ano passado, o desemprego entre os negros chegou a 18,7% na região, contra 10,2% entre os não-negros (a taxa geral foi de 11,2%).
Faceta escondida da crise econômica brasileira, iniciada no fim de 2014, a disparidade étnico-racial no mercado de trabalho aumentou na Região Metropolitana de Porto Alegre com a recessão. É o que mostram os dados, divulgados nesta terça-feira (20), da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) compilados de 2011 até 2017, último ano completo do levantamento, encerrado pelo governo gaúcho no início de 2018. No ano passado, o desemprego entre os negros chegou a 18,7% na região, contra 10,2% entre os não-negros (a taxa geral foi de 11,2%).
A análise da situação da população negra na década de 2010 mostra dois momentos distintos, segundo Lucia Garcia, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entidade que compilou os dados. Em toda a década, por exemplo, a queda no número de ocupados na região é bastante semelhante: 11% para os negros e 10,4% para o restante da população. Recortando-se apenas o período da crise, entretanto, o descolamento é evidente. Entre 2014 e 2017, a variação na ocupação foi de -8% para os não-negros e de -20,2% para os negros.
“Entre os negros, o movimento foi diferente. Houve uma queda para os não-negros de maneira constante e gradual desde 2013, já para os negros, não, pois tiveram uma melhora até 2014 e, a partir daí, uma forte retração”, comenta Lúcia. A separação é explicada pela diferença no perfil dos empregos. Os não-negros foram atingidos primeiro por conta da desaceleração da indústria e de setores específicos da construção, que antecederam a recessão do País. Os negros passaram a ser mais atingidos quando a crise se espalhou por toda a economia, alcançando também os postos menos privilegiados, como a construção civil, os serviços e o trabalho doméstico, onde a participação da mão-de-obra negra é maior.
O reflexo é sentido também na taxa de desemprego. A distância entre os dois grupos raciais, que chegou aos 8,5 p.p. no ano passado, havia encurtado nos primeiros anos da década, vindo para apenas 3 p.p. em 2014 – 8,5% entre negros e 5,5% entre não-negros. “A dinâmica é de redução nos empregos para todos, mas de forma mais contundente para os negros”, explica Lúcia, que acrescenta ainda que a situação é mais dramática ainda entre as mulheres negras.
Quando segregada por raça e sexo, a taxa de desemprego em 2017 viu seu ápice com as negras, com 21,1% (era de 16,6% em 2016). Entre os homens negros, a taxa foi de 16,5%, contra 15,5% um ano antes. Já entre as mulheres não-negras, a taxa de desocupação foi de 11,1% em 2017, vindo de 10,4% e, entre os homens não-negros, chegou a cair entre os dois anos, de 9,6% em 2016 para 9,4% em 2017.
Proporcionalmente, na renda média real a população negra acabou sendo menos atingida. De 2011 a 2017, a redução nos vencimentos chegou a quase 16% entre os não-negros (de R$ 2.432,00 para R$ 2.047,00), enquanto para os negros o corte foi de 5,5%, de R$ 1.675,00 para R$ 1.583,00. Os patamares são praticamente os mesmos de meados da década de 1990, segundo Lúcia, que diz que a renda caiu mais para quem tinha mais renda para perder.
“A desigualdade de renda, nesse caso, se reduziu, mas não há nada a celebrar, pois todos estão descendo a escada”, continua a economista. “Não é algo de sobe-e-desce, mas sim um processo de decadência econômica do Estado”, afirma Lúcia, lembrando que houve piora em todos os quesitos, seja número de vagas, seja número de participantes do mercado de trabalho ou seja renda.
O estudo sobre a população negra é realizado todos os anos pela PED desde 2006, série que se encerra, para Porto Alegre, com o levantamento sobre 2017. A coleta e análise dos dados eram feitas por meio de convênio entre Dieese, Fundação Gaúcha do Trabalho e Assistência Social (FGTAS) e a extinta Fundação de Economia e Estatística (FEE).
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