Está todo mundo de olho no desfecho das eleições de 2018, ainda mais os bancos. O vice-presidente do Bradesco, segundo maior banco do País, Eurico Ramos Fabri, aponta a turbulência nos mercados como efeito principalmente da indefinição sobre quem vai vencer. Fabri espera que a situação se acomode no pós-eleição e previne: "ninguém governa com uma agenda econômica ruim". O executivo, que assumiu o posto no começo do ano, vindo de carreira no banco, acredita que, independentemente das propostas, quem vencer vai "ter de abraçar as agendas da sociedade". Fabri aponta, ainda, a melhora das condições do setor, com queda da inadimplência e mais demanda por crédito, que se refletiu no desempenho da instituição, que teve um segundo trimestre com lucro de R$ 4,5 bilhões, alta de 15,77% sobre o mesmo período de 2017 e um dos melhores da história. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o vice-presidente destaca que a instituição responde ao avanço das fintechs com programas para desenvolver projetos com as próprias startups financeiras.
Jornal do Comércio - Como está o desempenho do banco neste cenário da economia?
Eurico Fabri - O cenário depende um pouco do resultado da eleição, que vive uma incerteza. Mas o mercado vem bem, com a queda na inadimplência (ficou em 3,9% para 90 dias, de acordo com o balanço do segundo trimestre, um ponto percentual abaixo do primeiro trimestre que estava em 4,9%). Os novos créditos entram com performances melhores que os anteriores. O endividamento das famílias vem caindo, e esperamos que continue em queda até o fim do ano e o começo do ano que vem, tanto na pessoa física como na jurídica. Muito dessa queda se deve à melhoria no processo de crédito. Se compararmos a crise de 2009 com a atual, essa de agora tem proporção muito maior, se olharmos os indicadores de desemprego e PIB. Já o pico da inadimplência acumulada daquilo que é massificado ficou em um patamar inferior ao de 2009, porque tem o efeito da melhoria no processo de modelagem de crédito nesse período. Acreditamos que vamos capturar mais oportunidades neste ano e no próximo.
JC - O desemprego ainda é um problema para melhorar mais o desempenho?
Fabri - O desemprego parou de crescer, arrefeceu um pouco, mas não na velocidade que gostaríamos. O contingente que estava empregado quando teve crédito e perdeu o emprego estancou e reduziu. O endividamento das famílias reduz e já abre espaço para conceder crédito a quem tem capacidade para pagar. Também crescemos em produtos prioritários, como o crédito imobiliário, o consignado e o financiamento de veículos. Nossa produção na carteira comercial cresce 40% e chega a 70% a 80% em alguns segmentos. No imobiliário, assumimos a liderança de desembolsos de pessoa física e jurídica nos primeiros sete meses do ano, incluindo o uso de recursos do FGTS. É uma liderança inédita!
JC - Qual é o perfil de renda que está voltando a tomar crédito imobiliário?
Fabri - Temos um aquário muito grande para pescar onde estão os nossos próprios correntistas. Melhoramos muito os nossos processos e a interação entre gerentes e clientes, além disso, ganhamos produtividade, sem flexibilização de crédito e mantendo a mesma política, mas com performance melhor que a anterior e com maior produtividade. Penetramos mais na nossa base de clientes e em todas as faixas de renda.
JC - Dá para dizer que o setor imobiliário vive uma retomada?
Fabri - É uma retomada que reflete dois movimentos. A pessoa jurídica ficou, nos dois últimos anos, praticamente sem nenhum lançamento, só vendendo estoques, e, agora, retoma a produção. Enquanto ocorria esse comportamento do mercado, o banco trabalhou a pessoa física que comprava esse estoque disponível. Agora, estamos com a engrenagem funcionando muito bem e retomando os dois grupos.
JC - Até outubro, vai ter mais turbulência devido ao cenário eleitoral?
Fabri - Em todas as eleições, existe um nível de especulação. Alguma movimentação de mercado é de se esperar em período pré-eleitoral, ainda mais quando há uma indefinição muito grande sobre quem vai ganhar. Mas as agendas econômicas estão postas sobre a mesa. Independentemente do candidato que vencer, ele vai ter de abraçar as agendas da sociedade. No período pós-eleição, acreditamos que a situação vai se acalmar e entrar no eixos para que o País siga adiante.
JC - Alguns candidatos estão propondo a taxação de dividendos recebidos por pessoas físicas, hoje isentos. Como isso afetaria os bancos?
Fabri - As agendas mudam muito pré e pós-eleição. Uma vez no governo, por mais que o discurso seja diferente, o fato converge. Uma vez eleito o candidato, as agendas convergem para uma racionalidade maior. Uma vez no poder, tem de cumprir aquilo que é melhor e mais apropriado para a agenda econômica do País. E ninguém governa com uma agenda econômica ruim. É óbvio que têm diferenças. Antes da eleição, a disparidade é maior, mas, após a eleição, a convergência é maior da agenda real, e não daquela pré-eleição. Quando está no poder, tem o que é viável e o que não é viável.
JC - O banco vê possibilidades de ampliar o crédito para investimento em infraestrutura?
Fabri - Somos grande players em financiamento de infraestrutura e queremos continuar. Obviamente que esse tipo de financiamento depende muito da área governamental, e esperamos que o próximo governo retome devido ao déficit que o País tem em investimentos diretos. É crucial para o bom andamento da economia que essa agenda seja retomada e ampliada. Vamos estar bem posicionados para capturar essa oportunidade quando ela acontecer.
JC - Como o senhor explica ao cidadão comum o crescimento forte dos bancos enquanto a crise é grande? São dois Brasis?
Fabri - É importante entender que todo mundo perde quando a economia vai mal e todo mundo ganha quando vai bem. Não somos indiferentes a isso, mas temos um negócio diversificado. Não é uma coisa só, são diversas áreas. O setor agrícola, por exemplo, cresce mesmo na crise, e o banco está nesse setor e cresce junto. A diversificação do banco, em certa medida, traz uma acomodação dos momentos de crise. Temos nichos de mercado que podemos explorar um pouco mais ou menos e que geram resultados. Agora, não ganhamos com a crise, mas com a prosperidade, como toda a população e a sociedade. O nosso negócio é fazer a carteira de crédito crescer e penetrar mais na população com oportunidade de ter mais acesso aos recursos.
JC - Quais as estratégias diante do avanço das fintechs?
Fabri - O banco tem uma estratégia bem diversificada. Temos o banco de tijolo (físico), o digital e o open bank, que atua com fintechs, com ambiente que estimula a inovação e acolhe esses empreendedores e investe em alguns deles. No InovaBra, incubamos essas empresas e criamos oportunidades para se desenvolverem, pois as vemos como parceiras. Temos um aplicativo feito por fintechs para microempreendedores que complementa nossos serviços, no qual o Microempreendedor Individual (MEI) abre uma conta em menos de um dia e recebe um serviço de finanças e contabilidade para suas movimentações diárias. Ou seja, é tudo tecnologia embarcada de parceiros. Criamos viabilidade para o produto desses parceiros e agregamos valor.