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Economia

- Publicada em 17 de Setembro de 2018 às 01:00

Dólar pode repetir 2002 e demorar a ceder

Moeda segue em perspectiva de alta em função do cenário eleitoral

Moeda segue em perspectiva de alta em função do cenário eleitoral


/KAREN BLEIER/AFP/JC
A consolidação de um nome para a presidência da República nas urnas em outubro pode não ser suficiente para fazer ceder a pressão do dólar sobre o real. Especialistas afirmam que, a exemplo de 2002, o mercado pode continuar na defensiva após outubro e que a moeda norte-americana não voltaria de imediato a um patamar pré-volatilidade eleitoral, mais próximo dos R$ 3,50 que dos R$ 4,00.
A consolidação de um nome para a presidência da República nas urnas em outubro pode não ser suficiente para fazer ceder a pressão do dólar sobre o real. Especialistas afirmam que, a exemplo de 2002, o mercado pode continuar na defensiva após outubro e que a moeda norte-americana não voltaria de imediato a um patamar pré-volatilidade eleitoral, mais próximo dos R$ 3,50 que dos R$ 4,00.
Levantamento feito com dados da última eleição turbulenta para o mercado, em 2002, mostra que, mesmo com os esforços da chapa eleita naquela época para mostrar que seguiria uma política econômica aliada ao mercado, o dólar custou a ceder e só voltou ao patamar anterior no fim de abril de 2003.
No período eleitoral que culminou no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio do Planalto, o dólar saiu de R$ 2,3040, no fechamento do dia 2 de janeiro de 2002, para R$ 3,6280 em 2 de dezembro - alta de 57,4%. A aceleração se consolidou em maio, e o câmbio saltou de patamar definitivamente - de R$ 2,00 para R$ 3,00 - no fim de julho. O dólar só voltou a fechar abaixo de R$ 3,00 novamente em 28 de abril de 2003, 117 dias após Lula assumir o Palácio do Planalto. Naquele dia, o dólar fechou cotado a R$ 2,9620.
Em 2018, o dólar rompeu a barreira dos R$ 4,00 (para o fechamento) em 21 de agosto, quando bateu em R$ 4,0414. E entrou em setembro a R$ 4,1506, com perspectiva de alta diante do cenário eleitoral incerto. Para o ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da consultoria Tendências Gustavo Loyola, o mercado está "claramente na defensiva" e só vai começar a reverter essa tendência quando os agentes perceberem que o próximo presidente vai prosseguir com as reformas.
No momento, os investidores estão embutindo dois riscos: o de que o próximo presidente possa não ter governabilidade e o de que o ajuste fiscal não vai avançar. "Pode haver uma melhora dos preços quando e se o mercado tiver uma avaliação mais positiva do próximo presidente, principalmente sobre a questão fiscal", diz Loyola.
A despeito de o País ter uma economia mais madura hoje que há 16 anos, o próximo governante terá que fazer uma série de reformas para garantir o reequilíbrio das contas públicas. Há um consenso entre os especialistas que a situação fiscal atual é frágil e pode se deteriorar ainda mais caso as medidas adequadas não sejam tomadas.
Os analistas da consultoria inglesa Capital Economics ressaltam que o tamanho do desafio que o Brasil tem pela frente para resolver seu problema fiscal é tão grande que mesmo a vitória de um candidato "amigável ao mercado" terá dificuldades para estabilizar o crescimento da dívida pública. O mercado quer garantir, primeiro, que o novo presidente terá governabilidade para votar medidas impopulares no Congresso.
O economista-chefe da Capital Economics para mercados emergentes, William Jackson, avalia que o dólar pode se valorizar ainda mais no mercado doméstico, a ponto de chegar aos
R$ 4,50 em 2019. "Parece que o mercado começou a precificar o risco político apenas nas últimas semanas", ressalta. Para a casa, além das reformas - como a da Previdência - serem impopulares, dois dos nomes que despontam nas pesquisas - Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) - tendem a adotar políticas populistas, mais um fator para manter os preços dos ativos pressionados.
O ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas afirma que, diferentemente de 2002, quando estava certa a direção que as eleições tomariam, consolidando a vitória de Lula, neste ano, o cenário é completamente incerto. Além de não haver definições, mesmo a menos de um mês das eleições, a avaliação do economista é que os candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto para assumir a presidência da República em 2019 ainda são, majoritariamente, incógnitas ao mercado em termos de direção para política econômica.
"Em situações como essas, o mercado prefere agir como São Tomé: é preciso ver para crer", aponta Freitas, completando: "A mesma coisa se repetirá agora, com alguma diferença. Em 2002, a partir de julho, ficou claro que Lula era o ganhador. O medo era do Lula. Hoje, não tem ganhador certo. Ainda é difuso. O mercado fica em dúvida. Com exceção do (Geraldo) Alckmin (PSDB), os outros (no topo das pesquisas) são desconhecidos do mercado".
"Hoje, a situação está toda embolada", ressalta o ex-diretor do BC Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Capital. Sem referências mais claras, os preços dos ativos embutem mais risco. Figueiredo é mais otimista e avalia que os preços dos ativos podem começar a ter certo alívio quando o quadro para o segundo turno ficar mais claro e se souber a linha dos dois candidatos.
Para Freitas, o próximo presidente terá que se esforçar para mostrar, ainda neste ano, a que veio. Sobretudo se o ganhador tiver um viés de esquerda. Em junho de 2002, o então candidato Lula publicou a "Carta ao Povo Brasileiro", na tentativa de aliviar o estresse do mercado. Com o documento, o dólar chegou a ceder, indo de R$ 2,8400 para R$ 2,7800, mas, rapidamente, recuperou o movimento de escalada.
Freitas deixa claro, no entanto, que, ao contrário de 2002, a instabilidade cambial não representa uma crise propriamente no País e destaca que o BC tem meios adequados e suficientes para lidar com a volatilidade.
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