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Indústria Automotiva

- Publicada em 12 de Setembro de 2018 às 16:28

Keko entra com pedido de recuperação judicial

Indústria montou complexo em Flores da Cunha, teve crescimento de 20% ao ano e sentiu peso de dívidas

Indústria montou complexo em Flores da Cunha, teve crescimento de 20% ao ano e sentiu peso de dívidas


JULIO SOARES/KEKO/DIVULGAÇÃO/JC
A Keko, indústria que fornece acessórios para 12 montadoras no Brasil e exterior, é a mais recente empresa com sede no Rio Grande do Sul a entrar com pedido de recuperação judicial. A medida, que deu entrada na semana passada no fórum de Flores da Cunha e foi comunicada no começo desta semana aos 420 funcionários e a clientes e fornecedores, foi buscada, segundo o comando da empresa, devido à evolução do endividamento e a dificuldades de dar conta do passivo de R$ 75  milhões com o fluxo de caixa normal do negócio, que é de R$ 150 milhões ao ano, previsão de 2018.
A Keko, indústria que fornece acessórios para 12 montadoras no Brasil e exterior, é a mais recente empresa com sede no Rio Grande do Sul a entrar com pedido de recuperação judicial. A medida, que deu entrada na semana passada no fórum de Flores da Cunha e foi comunicada no começo desta semana aos 420 funcionários e a clientes e fornecedores, foi buscada, segundo o comando da empresa, devido à evolução do endividamento e a dificuldades de dar conta do passivo de R$ 75  milhões com o fluxo de caixa normal do negócio, que é de R$ 150 milhões ao ano, previsão de 2018.
O juiz Nilton Luís Elsenbruch Filomena, de Flores da Cunha, decidiu pelo processamento da recuperação na segunda-feira (10), sentença liberada nesta quarta no sistema eletrônico do Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS). A Keko terá 60 dias para apresentar um plano de recuperação, que depois será submetido a credores. O presidente e um dos fundadores da indústria, Leandro Mantovani, garantiu que o pedido não afeta a atividade atual nem gera redução de pessoal. Recentemente, a marca obteve um novo contrato de fornecimento de capotas para a Toyota, que passa a colocar o acessório nos modelos que saem do centro de distribuição em Guaíba, vindos de impostações. "Só este contrato são R$ 6 milhões ao ano, mas a Toyota já é a nossa principal cliente", observa Mantovani. 
A Keko é uma empresa de origem familiar, fundada há 32 anos em Caxias do Sul e que depois se mudou para uma nova planta industrial em Flores da Cunha, também na região serrana. Por dez anos, a empresa chegou a ter como sócios investidores ligados a um fundo gerido pela CRP participações, que detinha 16% do capital e fez o desenvestimento em 2017. Um dos grandes movimentos da marca ocorreu em 2011, ao inaugurar um novo complexo fabril que reuniu as unidades que antes estavam separadas em Caxias do Sul.
O crescimento de encomendas do mercado automotivo motivou a mudança, que envolveu aporte de R$ 150 milhões, entre construção, máquinas e recursos para a produção. Entre as fontes estavam R$ 10 milhões do Badesul, que foram quitados, diz o empresário. "Baseamos a nossa decisão em um plano de crescimento de 20% ao ano, que se manteve até começo de 2015 e pelo qual conseguíamos sustentar o custo do investimento", explicou Mantovani. Segundo ele, a receita saiu de R$ 84 milhões ao ano, em 2011, para R$ 155 milhões em 2014.
"A partir de 2015, começamos a sofrer com a restrição de crédito para renovar os financiamentos", lamentou o executivo. "Isso quebrou nosso ciclo. É difícil uma empresa gerar toda a rentabilidade para pagar a dívida", contrastou. Até porque o retorno recuou de 20% para 5%, um descompasso frente ao custo financeiro. O empresário reforça que "o nosso problema não é operacional, mas do financiamento". "Tomamos a decisão de entrar com o pedido de recuperação para reorganizar o fluxo de caixa", justifica. 
A indústria, que tem 20% da receita oriundos de contratos de exportação para 42 países, tentou renovar operações de dívida, buscando melhor condição de pagamento devido a juros anuais de 13% a 14% nesses compromissos. O recurso que é difícil de obter é justamente o mais caro, para capital de giro. Mantovani diz que a empresa esbarrou em dificuldades de repactuar condições em negociações individuais com bancos, cujos débitos representam 85% do passivo total. O retante é de atrasos com fornecedores, que, garante o presidente, não ultrapassam, 90 dias. Maior parte da dívida tem prazo de até um ano.
"Queremos preservar empregos e recuperar a credibilidade com fornecedores e clientes", pontua Mantovani. "Muitos acham que fazer o pedido é estar à beira da falência. Não é o nosso caso, buscamos a recuperação dentro do que a lei permite para fazer a renegociação coletiva", detalha o presidente.
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Mantovani diz que a recuperação servirá para equalizar caixa e dívida. Foto: Keko/Divulgação  
A Keko vinha analisando a possibilidade de ingresso desde o começo do ano. Por dois anos, a operação teve consultoria da KPMG para gerir a dívida e buscou "todas as medidas amigáveis" para uma saída com os bancos. Mantovani diz que conversou com outras empresas que passaram pelo mesmo processo. "É muito difícil de tomar a decisão, mas foi dentro da lei e com ética", reforça o empresário.  
Já se adequando e antevendo o novo estágio, a indústria revisou portfólio de produtos, cortando 400 itens e ficando com mil em carteira. "Ficamos com os mais estratégicos e adotamos um crescimento mais conservador, de 5%, mas sustentável", acrescenta o executivo. No segundo semestre deste ano, a expectativa é de faturar R$ 12 milhões a R$ 13 milhões ao mês, com volume de pedidos que se mantém. Outra meta é apostar na inovação de linhas. Uma das novidades é a capota elétrica, que já atraiu interesse de montadoras, entre elas a Ford. 

Pedidos de recuperação crescem no Estado em agosto

O pedido de recuperação judicial feito pela Keko reforça o uso do expediente legal no Estado. De janeiro a agosto, foram 75 pedidos, ante 99 no mesmo período do ano passado, conforme monitoramento da Serasa. Mas agosto indicou um reaquecimento das solicitações no ano. Foram 15, frente a sete de julho. O número ficou um pouco abaixo de agosto de 2017, que somou 16 pedidos. 
No mesmo levantamento, a Serasa aponta que 59 pedidos foram aceitos pelos juízes para tramitarem, ante 87 de 2017, de janeiro a agosto. Já 13 empresas obtiveram o aval para seus planos de recuperação, que são a etapa em que as operações buscam reverter as dificuldades. O número é quase o dobro das concessões em julho, que foram de sete. As falências também registram elevação, com 14 pedidos e o mesmo número de decretações no mês passado. Em agosto de 2017, nenhuma havia sido solicitada. Já dez chegaram a ser decretadas no mesmo mês de 2017. No ano, o Estado soma 65 pedidos de falências, frente a oito de janeiro a agosto do ano passado. O número de decretações foi mais equilibrado - 61 este ano, e 63 em 2017.   
O presidente da Comissão de Falências e Recuperações Judicias da OAB-RS, João Medeiros de Medeiros, aponta que o maior problema que tem levado empresas para a Justiça é a alta  alavancagem nas instituições financeiras. "Diante da crise econômica e política, a máquina para de girar e este custo financeiro acaba por impactar muito no caixa. O custo financeiro alto acaba por consumir o caixa e a operação se torna deficitária", resume Medeiros. O custo de dívidas com bancos foi a alegação principal para a abertura do ingresso pela Keko. Mas na lista de indústrias nessa condição há ainda as que sofrem com queda na demanda, exemplos de calçadistas, que tiveram decretação de falência, caso da Crysalis, em Três Coroas.