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Logística

- Publicada em 20 de Agosto de 2018 às 01:00

Empresas driblam as regras da Lei do Frete

Em alguns setores, houve elevação de 100% nos gastos com transporte

Em alguns setores, houve elevação de 100% nos gastos com transporte


/MERCEDES-BENZ/divulgação/jc
Três meses após a greve dos caminhoneiros, o tabelamento do frete - principal medida do governo para acabar com a paralisação e que desagradou ao setor produtivo - não está sendo cumprido, de maneira geral, pelas empresas. Entre maio e agosto, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) recebeu 2.850 reclamações de caminhoneiros por descumprimento. O órgão, no entanto, informou que o descumprimento não é passível de multa. Segundo líderes da categoria, o problema ocorre em todas as regiões e em vários setores, como o agronegócio e a indústria.
Três meses após a greve dos caminhoneiros, o tabelamento do frete - principal medida do governo para acabar com a paralisação e que desagradou ao setor produtivo - não está sendo cumprido, de maneira geral, pelas empresas. Entre maio e agosto, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) recebeu 2.850 reclamações de caminhoneiros por descumprimento. O órgão, no entanto, informou que o descumprimento não é passível de multa. Segundo líderes da categoria, o problema ocorre em todas as regiões e em vários setores, como o agronegócio e a indústria.
"Existem muitas empresas que não estão pagando o valor mínimo, e caminhoneiros que não exigem o cumprimento da tabela por medo de ficar sem frete", diz Carlos Alberto Litti Dahmero, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac), de Ijuí (RS). Os empresários alegam que a tabela criada pela ANTT tem distorções e é "inexequível" diante do impacto no custo do transporte rodoviário. Além disso, como o Supremo Tribunal Federal (STF) ainda vai decidir se o tabelamento é constitucional, muitas empresas preferem não segui-lo.
O presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos, Diumar Bueno, espera maior adesão quando uma nova tabela sair considerando, por exemplo, diferentes tipos de carga. Outros dois compromissos do governo com os grevistas não saíram como previstos. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já fez duas tentativas para contratar frete para quase 70 mil toneladas de alimentos e cumprir a reserva de 30% de sua demanda para cooperativas, mas só uma se inscreveu. Já os preços do diesel caíram, em média, só R$ 0,10 nos postos, bem menos que os R$ 0,46 por litro acertados.
Para fugir da alta de custos gerada pelo tabelamento dos fretes, as empresas buscam alternativas. Em alguns setores, o preço tabelado representa aumento de até 100% nos custos com transporte. Por isso, empresários planejam criar frotas própria de caminhões ou alugar veículos para reassumir o controle da logística.
Ainda não é possível dimensionar esse movimento, mas, a depender do julgamento do STF sobre a constitucionalidade do tabelamento no próximo dia 27, a tendência deve ganhar impulso. "Há empresas estudando a compra de caminhões novos, outras estão alugando, e um terceiro grupo está arrendando. Se o STF considerar o tabelamento constitucional, as companhias vão intensificar as compras e o aluguel para fugir do aumento de custos", avalia Edeon Vaz Ferreira, diretor do Movimento Pró-Logística de Mato Grosso.

Gigantes do agronegócio e do varejo se adequam ao novo cenário

A JBS, uma das líderes globais em alimentos, já decidiu comprar 360 caminhões para reforçar sua frota própria - que passa de mil veículos. Em nota, a companhia controlada pelos irmãos Batista (Wesley e Joesley) explicou que a decisão faz parte de uma estratégia para reduzir "os impactos de custo causados pela aplicação do tabelamento do frete rodoviário". Dependendo do setor e da região, o tabelamento provocou alta nos custos entre 30% e 100%. Segundo Maurício Lima, especialista da consultoria Ilos, o setor de cimento é um dos que viram seu custo com frete dobrar.
"Para as cimenteiras, a frota própria pode valer a pena porque o transporte representa 31% do preço do produto. Outra alternativa é alugar caminhões com motoristas próprios ou contratar uma frota dedicada. Neste momento, as empresas ainda estão fazendo as contas. Além de a tabela da ANTT ter problemas, o STF pode invalidar tudo. É difícil tomar decisão agora. Há uma insegurança muito grande."
Produtores de soja e milho estimam um custo extra de US$ 2,4 bilhões (cerca de R$ 9,3 bilhões) sobre as 118 milhões de toneladas que devem ser exportadas neste ano, diz a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec). "Calculamos, por baixo, um custo adicional de US$ 20 (R$ 78,00) por tonelada. Há o risco de o Brasil deixar de ser o segundo maior exportador de milho do mundo por conta do aumento do frete", afirma Sergio Castanho Teixeira Mendes, diretor-geral da Anec.
A Amaggi, maior empresa nacional de comercialização de grãos, cogita comprar entre 300 e 500 veículos novos. Hoje, 100% da frota usada pela companhia são terceirizados. Cada veículo próprio representa um investimento de até R$ 600 mil. A Amaggi precisa de 5 mil caminhões para as movimentações envolvidas em suas operações. Em 2017, movimentou cerca de 10 milhões de toneladas.
A Cargill, gigante do agronegócio, está orçando a compra de mil caminhões. Números da Fenabrave, associação que representa os revendedores de veículos, mostram aumento da venda de caminhões neste ano, com a greve dos caminhoneiros em maio. Entre janeiro e julho, foram vendidas 39.005 unidades, contra 29.981 no mesmo período de 2017.
Já a Via Varejo - que reúne Casas Bahia e Pontofrio - busca outras saídas. Estabeleceu que fabricantes devem entregar mercadorias nos seus centros de distribuição mais afastados, sem passar por suas unidades de São Paulo e Rio de Janeiro, de onde os produtos eram transportados por terceirizados. E fez parceria com a Eu Entrego, rede de aplicativos que conecta entregadores independentes a empresas. O produto pode ser entregue de carro, moto, bicicleta ou a pé. Para isso, a Via Varejo transformou pelo menos 70 lojas em pequenos centros de distribuição, reduzindo a demanda por caminhões. "Reduz custo e a chance de avarias, e a entrega é mais rápida. É uma mudança que já havia começado e ajudou a contornar a greve", diz Edgard Filho, diretor de operações logísticas do grupo.