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Conjuntura Internacional

- Publicada em 13 de Agosto de 2018 às 22:16

Dólar se aproxima de R$ 4,00 com crise turca

Lira turca (foto) afundou 8,23%, seguida pelo peso argentino (-3,81%)

Lira turca (foto) afundou 8,23%, seguida pelo peso argentino (-3,81%)


/YASIN AKGUL/AFP/JC
Depois de bater R$ 3,93 nesta segunda-feira, o dólar reduziu o avanço sobre o real, mas fechou na maior cotação em mais de um mês, conforme a crise cambial na Turquia contaminava os mercados globais e, sobretudo, os países emergentes. O dólar comercial ganhou 0,53%, a R$ 3,888.
Depois de bater R$ 3,93 nesta segunda-feira, o dólar reduziu o avanço sobre o real, mas fechou na maior cotação em mais de um mês, conforme a crise cambial na Turquia contaminava os mercados globais e, sobretudo, os países emergentes. O dólar comercial ganhou 0,53%, a R$ 3,888.
Das 31 principais divisas do mundo, 26 se desvalorizavam em relação à moeda americana. A lira turca afundou 8,23%, seguida pelo peso argentino (-3,81%) e rand sul-africano (-2,88%).
Com a volatilidade nos mercados atingindo o Brasil, as negociações no Tesouro Direto foram suspensas às 11h05min e novamente às 14h10min. As transações foram normalizadas por volta das 15h30min.
Nos últimos dias, as atenções de investidores se voltaram para uma disputa entre os Estados Unidos e a Turquia, aliada dos americanos há mais de 60 anos. O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou, na sexta-feira passada, que autorizou o Departamento de Estado do país a dobrar as tarifas sobre aço e alumínio importados da Turquia, em retaliação à detenção, pelas autoridades turcas, de um pastor evangélico da Carolina do Norte.
A medida aprofundou a crise cambial em que se encontrava a lira turca. "O fato de a Turquia estar em uma situação fragilizada pode sugerir que as economias emergentes também estão. Isso desencadeia no mercado como um todo o sentimento de aversão a risco", diz Leandro Ruschel, sócio-fundador do Grupo L&S.
Lá fora, as bolsas mundiais fecharam no vermelho. Em Wall Street, o Dow Jones, principal índice de Nova Iorque, caiu 0,5%, enquanto o S&P 500 perdeu 0,40%. Na Europa, os maiores mercados fecharam em baixa, pressionados em boa parte pelas ações de bancos.
O BCE (Banco Central Europeu) se preocupa com a exposição das instituições financeiras do bloco, grandes financiadoras do governo e das empresas turcas, à lira. Com a desvalorização da moeda, o temor é que eles não sejam capazes de arcar com obrigações junto aos bancos.
"A Turquia é um dos emergentes que mais tem dívida externa das empresas em dólar. Essa dívida se torna impagável conforme a lira vale cada vez menos. Seu enfraquecimento pode gerar uma quebradeira geral entre empresas e efeito dominó no sistema financeiro europeu", diz Ruschel.
Por aqui, a bolsa brasileira viveu um dia de altos e baixos, mas mostrou resiliência e se firmou em alta ao final do pregão. O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas, subiu 1,28%, a 77.496 pontos.
"Estamos um pouco descolados porque não temos uma correlação tão direta com a Turquia. É diferente do que acontece em relação à China, por exemplo, com quem temos um nível de negociação muito maior. O efeito da Turquia no Brasil é via emergentes de uma forma geral", diz Aldo Moniz, da Um Investimentos.
O Banco Central (BC) turco anunciou nesta segunda-feira medidas para tentar conter o derretimento da moeda local, que perdeu mais de 40% no ano em relação ao dólar. Istambul se comprometeu a fornecer liquidez ao mercado, revisando os índices de reservas obrigatórias que bancos precisam manter no BC turco, o que proporcionaria ao sistema financeiro quase 10 bilhões de liras, US$ 6 bilhões e o equivalente a US$ 3 bilhões em ouro.
Economistas esperavam, no entanto, um aumento nos juros - para controlar a inflação, que anualizada atingiu 16% em julho, e reduzir o déficit em conta-corrente do país -, mas o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, é fortemente contra mexer nas taxas porque diz que elas são "uma ferramenta de exploração que torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres".
"Parece um movimento muito pequeno do Banco Central turco em relação ao tamanho do problema. Mas essa é uma crise política também. A decisão de Erdogan é mais para demonstrar que tem mão forte e tentar reativar sua economia interna do que lutar para conter a desvalorização da lira, que deveria ser a preocupação agora", diz Ruschel.
No ano passado, Erdogan venceu um referendo e expandiu muito seus poderes presidenciais, que passaram a vigorar assim que ele conquistou um novo mandato presidencial, em junho. O presidente chegou a afirmar nesta segunda-feira que "terroristas econômicos" conspiravam para prejudicar o país ao divulgarem informações falsas e que os responsáveis irão enfrentar a plena força da lei, à medida que autoridades começaram a investigar suspeitos.
No sentido contrário da Turquia, a Argentina, que também enfrenta dificuldades no front cambial, anunciou nesta segunda-feira a elevação de sua taxa básica de juros para 45% ao ano, ante 40%.
 

Entenda a crise da moeda da Turquia e como ela afeta o Brasil


KAYAN OZER/AFP PHOTO/JC
Por que a lira turca cai?
Há diversas razões. Nos últimos dias, as atenções se voltaram a uma disputa entre os EUA e a Turquia, aliada dos americanos há mais de 60 anos, porque o Departamento de Estado americano impôs sanções ao país em razão da detenção, pelas autoridades turcas, de um pastor evangélico da Carolina do Norte.
O problema todo é o pastor?
Não. O país prosperou com o fluxo de capital estrangeiro, conforme países ricos (tidos como mais seguros) mantinham juros baixos, encorajando investidores a buscar retornos mais altos na Turquia e em outros emergentes, que pagam taxas mais elevadas como "prêmio" pelo risco maior. Agora, com a alta das taxas nos EUA, ficou mais difícil para a Turquia (e outros emergentes, como o Brasil) obter os fundos de que necessita. O déficit em conta-corrente turco, de 5% do PIB, é considerado muito alto - no Brasil, o indicador ronda 0,5%.
Qual o papel de Erdogan na crise?
Economistas sugerem ações para frear economia, como a alta dos juros, para controlar a inflação, que atingiu 16% em julho, e reduzir o déficit - com menor consumo, as importações cairiam e, assim, a dependência de capital externo diminuiria. No entanto, o presidente Recep Tayyip Erdogan, o mais poderoso líder da Turquia desde Mustafa Kemal Ataturk, não parece convencido de que haja necessidade de corrigir o equilíbrio da economia.
O que BC da Turquia anunciou nesta segunda-feira?
O Banco Central turco não mencionou taxas de juros, mas se comprometeu a fornecer liquidez ao mercado. A autoridade monetária revisou os índices de reservas obrigatórias que bancos precisam manter no BC e informou que proporcionaria ao sistema financeiro quase 10 bilhões de liras, US$ 6 bilhões e o equivalente a US$ 3 bilhões em ouro.
Por que a situação afeta o Brasil?
A crise turca sinaliza para o mercado a existência de fragilidades nos mercados emergentes como um todo, incluindo o Brasil. Avessos a esse risco potencial, investidores preferem tirar capital dessas praças e buscar segurança em outros mercados, como o americano.