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relações internacionais

- Publicada em 26 de Julho de 2018 às 01:00

Guerra EUA-China pode atingir também o Brasil

Quantidade de empresas transnacionais americanas justifica temor dos especialistas em comércio exterior

Quantidade de empresas transnacionais americanas justifica temor dos especialistas em comércio exterior


/JOHANNES EISELE/AFP/JC
A guerra comercial entre os Estados Unidos e China pode atingir o Brasil e prejudicar as próprias empresas norte-americanas, segundo avaliação dos especialistas que participaram ontem de um fórum sobre o tema promovido pela Câmara Americana de Comércio.
A guerra comercial entre os Estados Unidos e China pode atingir o Brasil e prejudicar as próprias empresas norte-americanas, segundo avaliação dos especialistas que participaram ontem de um fórum sobre o tema promovido pela Câmara Americana de Comércio.
"Nenhum país tem tantas empresas transnacionais quanto os Estados Unidos, então, isso vai machucar, no médio prazo, as estruturas de custos das empresas norte-americanas. Vai fazer com que os executivos americanos precisem de mais tempo para repensar espacialmente a sua organização, e isso, no limite, vai acabar machucando o balanço patrimonial e a performance das bolsas norte-americanas", destacou o pesquisador especialista em Brics, da Universidade de Columbia, Marcos Troyjo.
Nas últimas semanas, o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou uma série de sobretaxas a produtos chineses com o argumento de que a balança comercial entre os dois países é prejudicial aos Estados Unidos. Como retaliação, a China também aumentou os tributos para entrada de diversas mercadorias dos EUA.
Para Toyjo, em países como os Estados Unidos, com muitas empresas com filiais no exterior, a análise simples da balança comercial pode ser enganosa para tomar decisões como a que motivou a disputa comercial. "Porque os déficits comerciais podem ser mais do que compensados pela remessa de dividendos e pelo fluxo de investimento estrangeiro direto", ponderou.
No entanto, o professor destacou que há uma tendência global de se incentivar determinados setores das economias nacionais com subsídios ou tarifas protecionistas. "É como se o mundo inteiro estivesse, hoje, crescentemente aplicando medidas de substituição de importações", disse. Por outro lado, disse o especialista, os danos que a disputa pode causar às próprias empresas norte-americanas e dependência mútua entre as grandes economias são indicativos que a atual guerra comercial pode ser um fenômeno passageiro. "Os Estados Unidos são principal destino do investimento direto chinês. O principal polo irradiador de investimentos diretos para a China são os Estados Unidos", exemplificou.
A professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Cristina Pecequilo destacou que apesar dos possíveis benefícios a curto prazo, o Brasil corre risco de ser atingido pela disputa entre as potências econômicas. "Uma polarização bilateral Estados Unidos-China, em qualquer área, gera fechamento de espaços no comércio internacional e na estrutura do sistema internacional de uma forma geral", disse.
"Eu lembro a vocês inúmeros contenciosos entre Brasil e Estados Unidos, entre Brasil e União Europeia. Já foi lembrado as dificuldades de negociar um acordo entre Mercosul e União Europeia. Essas inúmeras variáveis mostram para gente que as avaliações otimistas de curto prazo não se sustentam", acrescentou.
 

Restrições prejudicam a economia mundial, aponta OMC

O secretário-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, pediu ontem que os países se manifestem a favor do livre-comércio e alertou sobre diversas consequências negativas de uma possível guerra comercial após as tarifas do governo de Donald Trump impostas aos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos.
Azevêdo, que se recusou a citar nomes de países, mas afirmou que "essa dinâmica restritiva ao comércio poderia prejudicar a economia mundial se perdurar". A repórteres em Genebra, o secretário-geral da OMC comentou que está convocando todos para a crença de que "o comércio é uma força do bem". O silêncio, disse ele, "é tão prejudicial quanto qualquer ação que leve a uma guerra comercial".
Azevêdo também alertou sobre o "pior cenário" de um mundo sem regras de comércio, dizendo que "a lei da selva teria consequências devastadoras para o crescimento e o emprego".
 

México e Canadá reafirmam acordo trilateral do Nafta

Autoridades mexicanas e canadenses reafirmaram o compromisso com um acordo trilateral do Tratado Norte-americano de Livre Comércio (Nafta), explicando que reuniões bilaterais entre os diferentes membros fazem parte do processo de negociação. "O Canadá acredita muito no Nafta como um acordo trilateral e isso é simplesmente uma declaração da realidade", disse a ministra de Relações Exteriores canadense, Chrystia Freeland.
Após reunião com os ministros mexicanos Luis Videgaray e Ildefonson Guajardo, Freeland disse, ainda, que "estamos muito comprometidos em modernizar o Nafta como um acordo trilateral". Guajardo, que é o principal negociador do México nas conversas sobre o Nafta, disse que reuniões bilaterais como a que o México planeja em Washington na quinta-feira fizeram parte do processo de renegociação, que já dura um ano. Ele observou que Freeland também se encontrou recentemente com o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer. "Não vamos ficar confusos. Está claro que é apenas um método e não está indo em nenhuma direção que não seja um acordo trilateral", afirmou Guajardo.
A questão sobre se o Nafta continuará como um pacto de três membros veio após comentários do presidente dos EUA, Donald Trump, na semana passada. Ele sugeriu que Washington poderia estar próximo de chegar a um acordo com o México e que negociações bilaterais com o Canadá poderiam vir depois. Autoridades mexicanas apontaram que estão comprometidas em concluir um acordo para retrabalhar o pacto comercial de 24 anos este ano se possível, mas Guajardo e Freeland expressaram sua contínua oposição à proposta americana para uma cláusula de expiração sob a qual o Nafta expiraria em cinco anos a menos que fosse renovado pelos membros.
Guajardo disse que os executivos com os quais ele conversou dizem que poderiam fazer um grande esforço para aumentar o conteúdo regional em automóveis e melhorar as condições de trabalho na indústria automobilística, como os EUA exigiram, mas desejam certeza a longo prazo para isso. "É um esforço factível, desde que não haja incerteza no horizonte. Você não pode pedir à indústria automobilística que projete um novo modelo de negócio ao mesmo tempo em que diz que, daqui a cinco anos, pode mudar de opinião", afirmou o mexicano.
Freeland ecoou essas opiniões e apontou que o Canadá acredita que essa cláusula iria "contra toda a ideia e propósito da modernização do Nafta".