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Economia

- Publicada em 12 de Julho de 2018 às 01:00

Opinião econômica: O lado mais fraco

Laura Carvalho é professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP

Laura Carvalho é professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP


/KEINY ANDRADE/fOLHAPRESS/JC
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em meio à recuperação lenta da economia, a inflação em junho foi a maior para o mês desde 1995.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em meio à recuperação lenta da economia, a inflação em junho foi a maior para o mês desde 1995.
A variação de 1,26% no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é em parte o reflexo da paralisação dos caminhoneiros iniciada em 21 de maio, que acabou afetando preços de alimentos e combustíveis no início do mês seguinte. Somados à alta do dólar, tais choques reforçaram as expectativas de aumento da taxa de juros básica pelo Banco Central (BC).
O Indicador de Inflação por Faixa de Renda divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revela que a alta da inflação se abateu mais sobre os mais pobres do que sobre os mais ricos. Enquanto o índice que se baseia na cesta de consumo das famílias de renda alta passou de 0,38% em maio para 1,03% em junho, a inflação sentida pela faixa de renda muito baixa subiu de 0,41% para 1,5%.
No caso das famílias de renda alta, o peso maior foi dos transportes, que contribuíram com aumento de 0,4 ponto percentual no índice. Em particular, os combustíveis respondem por 8% do orçamento das famílias mais ricas, ante 2% do orçamento das famílias mais pobres.
A gasolina subiu 5% em junho - ao contrário do diesel, que sofreu redução de 5,66% em seu preço como consequência das negociações do governo em meio à paralisação.
Da inflação total que atingiu as famílias de renda muito baixa, 0,76 ponto percentual referiu-se à alta no preço dos alimentos, que foi de 2,03% no mês, em parte pelos efeitos da crise de abastecimento.
Além disso, o reajuste de 7,93% nas tarifas de energia elétrica e de 4,08% no preço do gás de botijão também afetou relativamente mais as famílias mais pobres.
"Em um curto espaço de tempo colocamos a economia em ordem, saímos da recessão e temos as taxas de juros mais baixas dos últimos anos", afirmou o presidente Michel Temer no dia 24 de dezembro de 2017, em pronunciamento de fim de ano veiculado em rede nacional de TV e rádio.
"Já conseguimos baixar os preços dos alimentos e aumentar o poder de compra dos brasileiros. Está mais barato para comer, para vestir, para morar. Está mais barato para viver", acrescentou. Quem dera.
A apenas alguns meses do processo eleitoral de 2018, os choques inflacionários se abateram mais justamente sobre aqueles que já vinham sendo mais afetados pelo desemprego, o crescimento lento dos salários e os cortes no Orçamento, ou seja, a população mais vulnerável.
Será impossível convencer essas famílias de que a culpa toda é da mobilização dos caminhoneiros, que, aliás, só durou tanto tempo porque contou com o apoio dos que já rejeitavam o atual governo e sua política econômica.
Não à toa, até a plataforma do pré-candidato do PSDB Geraldo Ackmin passou a tentar desassociar-se da agenda econômica de Temer por meio de críticas à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do teto de gastos e de defesas de uma reforma tributária progressiva.
Em meio à desilusão crescente da população com a política, não é só a centro-esquerda que enfrenta dificuldades. Para quem apoiou a derrubada da ex-presidente Dilma Rousseff em nome de uma melhora na economia, 2018 também não está nada fácil.
Professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, autora de "Valsa Brasileira: do Boom ao Caos Econômico".
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