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indústria

- Publicada em 05 de Julho de 2018 às 21:50

Embraer e Boeing fazem parceria de US$ 4,75 bilhões

Joint-venture não inclui as divisões de Defesa e de Jatos Executivos

Joint-venture não inclui as divisões de Defesa e de Jatos Executivos


EMBRAER/DIVULGAÇÃO/JC
Após meses de expectativa, a Embraer e a Boeing anunciaram, nesta quinta-feira, que fecharam um acordo em que a companhia norte-americana terá 80% de uma nova empresa de aviação comercial e a brasileira, os outros 20%. A joint-venture terá capital fechado, e a Embraer poderá exercer direito de venda da sua fatia para a Boing ao longo dos próximos 10 anos. O acordo não inclui o setor de defesa.
Após meses de expectativa, a Embraer e a Boeing anunciaram, nesta quinta-feira, que fecharam um acordo em que a companhia norte-americana terá 80% de uma nova empresa de aviação comercial e a brasileira, os outros 20%. A joint-venture terá capital fechado, e a Embraer poderá exercer direito de venda da sua fatia para a Boing ao longo dos próximos 10 anos. O acordo não inclui o setor de defesa.
O memorando de entendimentos assinado pelas duas empresas inclui tanto a fabricação de aeronaves quanto os serviços de aviação comercial. A transação está sendo avaliada em US$ 4,75 bilhões. Assim, a norte-americana vai pagar US$ 3,8 bilhões pela fatia de 80% na nova empresa, que terá em seu portfólio de aeronaves de 70 a 450 lugares.
O acordo é não vinculante, ainda sujeito à aprovação oficial do governo brasileiro, que detém poder de veto sobre algumas transações da Embraer (golden share), e dos demais acionistas da companhia. O governo tem 30 dias para se manifestar. Enquanto isso, as duas empresas vão discutir detalhes do acordo, como quanto dos US$ 3,8 bilhões será distribuído aos acionistas da Embraer e quanto será reinvestido na companhia, que foi mantida em separado.
"Sobre os recursos, eles vão incluir pagamento de dividendos, desalavancagem, novos investimentos e possivelmente um programa de recompra de ações. Mas a forma de usá-los ainda será decidida", afirmou o presidente da Embraer, Paulo César de Souza e Silva, em teleconferência com analistas.
Na teleconferência, Souza e Silva afirmou que os 20% que a Embraer terá na nova empresa devem ter também ganhos em forma de dividendos. "Com o crescimento futuro da empresa do setor comercial, a Embraer vai ter mais dividendos", disse.
A Embraer, que é a joia da coroa da indústria brasileira, continuará com o capital aberto e vai permanecer com as unidades de Defesa e Aviação Executiva. O formato foi fundamental para convencer o governo brasileiro a dar aval prévio para a operação.
Segundo fontes, foram três as premissas estabelecidas pelo governo: preservação da soberania nacional (a unidade de defesa não poderia ser alvo de acordo com a Boeing), sustentabilidade financeira da Embraer (daí a importância de se definir o volume de recursos que será reinvestido na empresa) e capacidade e transferência de tecnologia para a Embraer.
A nova joint-venture será uma subsidiária integral da Boeing, que vai controlar sua gestão. O comando da empresa vai se reportar diretamente à fabricante norte-americana. Mas a sede, a diretoria e a linha de montagem dos aviões permanecerão no Brasil.
Segundo uma fonte, a própria Boeing era favorável a essa estrutura, pois não queria perder a equipe de engenheiros e técnicos da Embraer, com uma eventual transferência da unidade. A Embraer terá direito a uma cadeira no Conselho de Administração da nova empresa.
Além de negócios em aviação comercial, as duas empresas vão criar uma outra joint-venture para promover e desenvolver novos mercados para produtos e serviços na área de defesa, especialmente a aeronave KC-390. Essa joint-venture ficará sob o guarda-chuva da Embraer. Os percentuais de cada sócia não foram definidos ainda. A criação dessa joint-venture foi o caminho encontrado para atender às preocupações do governo brasileiro de manter a soberania nacional e aos anseios da Embraer para ampliar o mercado para o KC-390.
As empresas esperaram que o acordo seja finalizado nos próximos meses. Se for aprovado por autoridades regulatórias nos EUA e no Brasil, a transação pode ser fechada até o fim de 2019, preveem analistas. Com isso, poderá gerar ganhos para as duas empresas já em 2020. A expectativa é que haja sinergia anual de custos de US$ 150 milhões até o terceiro ano.
O início das conversas entre Embraer e Boeing foi confirmado oficialmente em dezembro do ano passado pelas duas companhias, poucas semanas depois de a Airbus anunciar a compra do projeto de jatos comerciais C-Series da canadense Bombardier. Boeing e Airbus disputam a liderança do mercado mundial de aviação comercial, enquanto a Bombardier é a maior rival da Embraer no segmento de jatos de médio porte.
"Com essa parceria estratégica, estamos em uma posição ideal para gerar valor significativo para os clientes, empregados e acionistas de ambas as companhias, e para o Brasil e os Estados Unidos. Esta importante parceria se alinha claramente com a estratégia de longo prazo de investir em crescimento orgânico e retorno de valor para os acionistas, complementada por arranjos estratégicos que possam acelerar nossos planos de crescimento", afirmou, no comunicado, o presidente do conselho e diretor executivo da Boeing, Dennis Muilenburg.

Bndes diz que acordo é positivo; metalúrgicos pedem ao governo que vete o negócio

 O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), Dyogo Oliveira, avaliou como positiva a parceria entre a brasileira Embraer e a norte-americana Boeing. "É uma solução positiva para uma situação inexorável, que é o fato de que, dadas as mudanças no mercado, a Embraer precisa se posicionar", disse Oliveira, nesta quinta-feira, em Brasília. Segundo afirmou, anteriormente, a Embraer competia com empresas de tamanho semelhante e, com a aquisição de parte da Bombardier pela Airbus, houve um desequilíbrio no mercado.
O Bndes tem cerca de 5% de participação na Embraer. O presidente do banco explicou que o banco não terá participação na nova empresa criada com a parceria com a Boeing. O Bndes continuará como sócio da Embraer apenas. "Tudo isso que está sendo feito é visando preservar a capacidade de ter desenvolvimento de aeronaves no Brasil", destacou. Segundo Oliveira, o Bndes participou de algumas discussões sobre a parceria, mas não teve acesso prévio a detalhes.
Diante do anúncio do acordo, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região divulgou nota informando que vai defender que o governo e o Congresso barrem a operação. "O governo federal, detentor da ação 'golden share', tem a obrigação de vetar a negociação", diz o texto.
Segundo o sindicato, "a operação coloca em risco a soberania nacional e milhares de empregos do setor aeronáutico". Só em 2018, teriam sido demitidos cerca de 300 funcionários da Embraer, de acordo com estimativas do sindicato.
"Ao contrário do que afirmou a Embraer em comunicado, esta junção não trará benefícios para o Brasil e, muito menos, para os trabalhadores brasileiros. (...) O governo federal e o Congresso Nacional têm o papel de defender os interesses do Brasil e, portanto, não podem ser coniventes com esse crime de lesa-pátria", afirma o comunicado.
O sindicato argumenta que "a joint-venture entre Embraer e Boeing não é um negócio qualquer". "A empresa brasileira é a terceira maior exportadora do Brasil. Está atrás apenas da Vale e Petrobras. Trata-se do único setor de tecnologia intensa que possui superávit na balança comercial brasileira", destaca.
Em São José dos Campos (SP), sede da Embraer, funcionários dizem ter muitas dúvidas sobre o futuro da empresa após o acordo com a Boeing. Segundo trabalhadores ouvidos, há diversas questões em aberto, sobretudo em relação à manutenção da área de Suprimentos - já que a Boeing dispõe de um departamento robusto do tipo nos Estados Unidos - e também sobre eventuais demissões.
"Não houve anúncio prévio, nem fomos convocados para nenhuma reunião extraordinária. Soubemos da fusão pela imprensa e pelo blog na nossa intranet, que é o canal oficial de comunicação com os colaboradores", disse um funcionário, que pediu para não ser identificado.
Para outro trabalhador, da área de Aviação Comercial, as dúvidas são mais frequentes entre os seus pares do que entre os colegas da área de Defesa, já que este segmento ficou fora da negociação com a Boeing e continuará sob comando do Brasil. O sentimento de incerteza também afeta os terceirizados. Uma funcionária da área de Eventos, que foi contratada há três meses, disse que sabia do risco de demissão