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ARTES VISUAIS

- Publicada em 10 de Maio de 2022 às 19:30

Resgatando as origens indígenas, exposição de Xadalu chega à Fundação Iberê

'Antes que se apague: territórios flutuantes' tem abertura oficial neste sábado (14)

'Antes que se apague: territórios flutuantes' tem abertura oficial neste sábado (14)


XADALU TUPÃ JEKUPÉ/REPRODUÇÃO/JC
Lara Moeller Nunes
Pensados e projetados inicialmente em rodas de fogueira, os trabalhos de Xadalu Tupã Jekupé expostos na mostra Antes que se apague: territórios flutuantes chegam à Fundação Iberê (Av. Padre Cacique, 2.000) neste sábado (14), com curadoria de Cauê Alves. Mais do que arte, as produções resgatam a cultura e questionam o apagamento dos costumes indígenas da região Oeste do Rio Grande do Sul, onde diversas etnias foram dizimadas ao longo da história. Em cartaz até o dia 31 de julho, essa é a primeira exposição individual do artista na instituição.
Pensados e projetados inicialmente em rodas de fogueira, os trabalhos de Xadalu Tupã Jekupé expostos na mostra Antes que se apague: territórios flutuantes chegam à Fundação Iberê (Av. Padre Cacique, 2.000) neste sábado (14), com curadoria de Cauê Alves. Mais do que arte, as produções resgatam a cultura e questionam o apagamento dos costumes indígenas da região Oeste do Rio Grande do Sul, onde diversas etnias foram dizimadas ao longo da história. Em cartaz até o dia 31 de julho, essa é a primeira exposição individual do artista na instituição.
Nas quintas-feiras, a visitação acontece de forma gratuita, das 14h às 18h, conforme lotação máxima do local. Nas sextas, sábados e domingos, no mesmo horário, a entrada é mediante agendamento pelo Sympla, com ingressos entre R$10,00 e R$30,00.
Apesar de ter começado sua produção artística dentro de uma área específica, Xadalu transita hoje entre diferentes técnicas para dar vida a suas criações. "Conheci esse universo durante a adolescência, através da serigrafia, mas sem ter noção de que aquilo era realmente arte. Na época eu também trabalhava com reciclagem, então acabava passando muito tempo na rua. Isso fez com que eu começasse a me questionar a respeito da arte como instrumento de reivindicação no espaço público. A partir daí, comecei a usar a minha inquietação para inserir a figura do índio nas ruas", conta.
Por não fazer parte da academia, nunca sentiu-se inclinado a se enquadrar nos estilos e nas delimitações impostas pelas instituições, aproveitando essa liberdade para experimentar métodos novos que estivessem ao seu alcance. "Dentro de espaços como esses, muitas vezes os artistas são quase que domesticados para seguirem uma linha específica. Eu nunca gostei disso e sempre procurei ser livre. Consegui ser muito bem sucedido nesse sentido, circulando com obras que vão de fotografia e costura até instalações, gravuras e pinturas."
Natural de Alegrete, o artista compartilha em seus trabalhos memórias da infância e recordações da sua mãe, avó e bisavó, que viveram na Terra Indígena Ararenguá, na beira do Rio Ibirapuitã. Dessa forma, ele consegue construir uma ponte entre todos os relatos da família com as situações que ele mesmo vê, ouve e experiencia. "Ao longo da nossa vida passamos por muitos lugares diferentes, seja física ou espiritualmente. Esses territórios ficam dentro da gente e flutuam no nosso interior. Acumulamos uma bagagem e uma lembrança de cada canto por onde passamos, e precisamos fazer com que essas histórias circulem por aí."
É em volta do fogo, e acompanhado de membros da comunidade, que Xadalu consegue externalizar suas ideias, transformando em arte a cosmologia Guarani. "São momentos cheios de luz para mim. Eu fecho o olho e consigo ver além do alcançável. É como sonhar acordado", explica.
Das 19 produções que integram Antes que se apague: territórios flutuantes, 14 foram desenvolvidas especificamente para a exposição. Na Fundação, elas são organizadas de modo a formar uma narrativa que tem como ponto de partida a formação do universo. Na sequência, seguem em uma linha do tempo até chegar na atualidade, fazendo um paralelo com a situação em que os povos indígenas se encontram nos dias atuais.
Xadalu diz que sempre houve uma grande tentativa de apagamento e aniquilação da cultura indígena e que, com o atual cenário político, isso é ainda mais catastrófico. "A falta de diálogo e a carência de educação resumem bem o problema. As pessoas não conseguem reconhecer a existência de indígenas e, quanto se fala em território e pertencimento, acham que nunca vivemos aqui e que não temos direitos. Se voltarmos na história conseguimos ver muito bem que vivemos em cima de grandes sítios arqueológicos que comprovam e reforçam a existência do nosso povo."
Para ele, assim como o Iberê, muitas outras instituições também se mostram abertas para receber o seu trabalho e levantar essa discussão. No entanto, ele acredita que, antes de qualquer coisa, sua produção deve ser - sempre que possível - legitimada primeiro pelas pessoas na rua, para só depois ser colhida pelos espaços formais. "A arte não pode se limitar à estética. Precisamos usar ela como forma de repovoar os espaços urbanos da nossa cidade."
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