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Cultura

- Publicada em 24 de Novembro de 2021 às 20:05

Festival Kino Beat apresenta trilhas da cultura indígena em Porto Alegre

Painel com arte rupestre pintado no Instituto Goethe faz parte da exposição de Denilson Baniwa

Painel com arte rupestre pintado no Instituto Goethe faz parte da exposição de Denilson Baniwa


/MARCELO FREY/DIVULGAÇÃO/JC
Lara Moeller Nunes
Explorando diferentes formatos e cultivando a herança dos povos originários do Brasil, o artista indígena Denilson Baniwa inaugura em Porto Alegre neste sábado (27) a sua primeira exposição individual na cidade, Inípo: Caminho de transformação. A mostra terá exibição fragmentada em três locais físicos: Goethe-Institut Porto Alegre (24 de Outubro, 112), Margs (Praça da Alfândega, s/nº) e Casa de Cultura Mario Quintana - CCMQ (Andradas, 736).
Explorando diferentes formatos e cultivando a herança dos povos originários do Brasil, o artista indígena Denilson Baniwa inaugura em Porto Alegre neste sábado (27) a sua primeira exposição individual na cidade, Inípo: Caminho de transformação. A mostra terá exibição fragmentada em três locais físicos: Goethe-Institut Porto Alegre (24 de Outubro, 112), Margs (Praça da Alfândega, s/nº) e Casa de Cultura Mario Quintana - CCMQ (Andradas, 736).
O trabalho integra a extensa programação do Festival Kino Beat, que neste ano tem como base um conto ficcional da autora norte-americana Ursula K. Le Guin sobre a poética e a linguagem dos animais. "A partir dessa premissa, reescrevemos a ideia da obra incluindo outros reinos e repensando o conceito de natureza. Começamos a investigação na ficção para, então, passar pelas cosmologias ameríndias e afrocentradas", conta o curador Gabriel Cevallos.
Pensando na multiplicidade de estilos que constroem a identidade do Kino e na possibilidade de explorar o inusitado e o desconhecido, a produção de Denilson foi incluída na programação do evento. As obras expostas, além de apresentarem a técnica e a produção artística em si, exibem também o contexto identitário da cultura Baniwa. "O que nós vemos como ficção e mitologia eles enxergam como forma de viver."
O ponto de partida para a escolha do repertório foi o próprio acervo de materiais produzidos por Denilson, em especial a série de gravuras digitais que estará exposta nas Salas Negras do Margs. Em Aquela gente que se transforma em bicho, o artista traz humanos híbridos através da visão cosmológica de que em alguns momentos somos animais, e em outros somos pessoas. Dois vídeos também serão exibidos no local abordando a questão indígena no contexto urbano.
No Instituto Goethe, um grande painel de 11 metros de superfície foi pintado com elementos da arte rupestre. Os desenhos, feitos em base escura com tinta fluorescente, serão iluminados com luz negra para que a magia presente na cultura ganhe destaque. O Jardim Lutzenberger da CCMQ também abriga uma instalação da mostra. Com a ideia de inserir a floresta no meio do concreto, diversos lambe-lambes foram espalhados pelo local, em meio às plantas, trazendo a figura de um pajé soprando de seu cigarro-sagrado diferentes espécies de animais.
O formato exposição-percurso, que constrói um trajeto entre as três instituições artísticas, parte de um dos principais mitos presente nessa comunidade. Nele, uma canoa/serpente percorre o Rio Negro e, cada vez que para em um local sagrado e de reza, um novo povoado é criado. "Transformamos de maneira simbólica essa ideia de circuito para construir uma rota entre os espaços da mostra. É uma jornada de transformação e conhecimento", explica o curador.
Para ele, abordar essa temática em uma cidade metropolitana é como abrir uma janela para que possamos aprender mais com a cultura indígena. "Eles podem nos ensinar muito sobre como lidar com a casa comum que a gente compartilha. Isso que hoje conhecemos como espaço urbano um dia foi a terra deles. Fazer esse resgate é uma forma de homenageá-los e de estar junto."
Denilson complementa dizendo que a importância da mostra também se dá na representatividade e nas oportunidades que podem surgir a partir dela. "Tudo isso tem um significado cultural, educativo e de fomento muito grande. Sinto que é um meio de conectar esses lugares tão distantes geograficamente em um ponto onde a arte consegue criar relações de afinidade. Além disso, ela também abre espaço para que outros artistas indígenas possam expor seus trabalhos. Eu sou um só, mas existem muitos outros."
A participação no festival possibilita ainda a quebra de estigmas e a difusão de uma cultura pouco conhecida pela maioria da população. "Inseridas dentro da cidade, as obras provocam a imaginação e a especulação sobre o que existia naquele espaço antes do concreto. Elas convidam o espectador a refletir sobre o que perdemos quando uma floresta é destruída e servem como uma tentativa de rever a construção colonial que, por muito tempo, apagou nossa história", enfatiza.
O filtro digital interativo Yawareté, que também integra a mostra, está disponível para uso através do Instagram oficial do evento (@kinobeatfestival). A pintura no Instituto Goethe poderá ser conferida até 28 de fevereiro, e as outras duas exposições ficarão abertas até o dia 9 de janeiro. Em razão do falecimento do artista indígena Jaider Esbell, os trabalhos do Margs estarão enlutados e cobertos de preto até o dia 3 de dezembro.
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