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Cultura

- Publicada em 23 de Novembro de 2021 às 20:39

Protagonizado por Antonio Saboia, 'Deserto particular' estreia nesta quinta-feira

Dirigido por Aly Muritiba, representante do Brasil no Oscar já foi premiado no Festival de Veneza

Dirigido por Aly Muritiba, representante do Brasil no Oscar já foi premiado no Festival de Veneza


PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
Lara Moeller Nunes
Em tempos de ódio e intolerância, o amor chega como ferramenta para que, de alguma forma, consigamos construir um mundo melhor. Pensando nisso, o diretor baiano Aly Muritiba deu vida ao filme Deserto particular, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (25). A obra, já premiada no Festival de Veneza, foi a escolhida pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar de 2022 na categoria de melhor filme internacional.
Em tempos de ódio e intolerância, o amor chega como ferramenta para que, de alguma forma, consigamos construir um mundo melhor. Pensando nisso, o diretor baiano Aly Muritiba deu vida ao filme Deserto particular, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (25). A obra, já premiada no Festival de Veneza, foi a escolhida pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar de 2022 na categoria de melhor filme internacional.
No enredo apresentado, o protagonista Daniel (Antonio Saboia) é um policial curitibano afastado do trabalho depois de cometer um erro em serviço. Homem misterioso e de poucas palavras, ele também é o responsável por cuidar do pai idoso que está doente. Um dos únicos prazeres da sua vida é conversar com Sara (Pedro Fasanaro), uma mulher que conheceu na internet através de um aplicativo de celular. Quando ela some sem dar explicações, decide mergulhar em uma viagem de carro até o interior da Bahia para encontrá-la.
A jornada pelo sertão ganha novos rumos quando ele finalmente se depara com a amada e descobre que ela é uma mulher transgênero. Confuso com seus próprios pensamentos e sentimentos, precisa se desamarrar das correntes conservadoras com as quais foi criado para se entregar ao amor e ao afeto que o esperam de braços abertos.
Muritiba conta que esse processo de desconstrução do personagem foi pensado desde o princípio da elaboração do roteiro. "Essa é uma das forças motrizes da história. Ele se insere em uma linha de personagens que venho desenvolvendo há algum tempo: homens cis e héteros com muita dificuldade de lidar com as suas próprias emoções. Essa transformação é muito importante, e se não fosse ela o filme não existiria", pontua. A obra evidencia ainda a importância de enxergar a paixão para além de rótulos  impostos, trazendo o sentimento como força transcendente.
Saboia, que interpreta o protagonista, complementa explicando o que a figura de Daniel representa na sociedade em que estamos inseridos: "A trama fala sobre o que se costuma esperar de um homem e como podemos mudar essa ideia. Daniel está neste lugar, ele vem de uma família tradicional e machista que tem a polícia como base. Sabemos que essa instituição é extremamente violenta aqui. Ele é o tipo de cara que a gente luta contra e não quer ser amigo. Precisei entender, vestir e desconstruir essa figura para dar vida ao personagem". Para o ator, a narrativa funciona em total sincronia com o atual contexto do País.
"Estamos vivendo um período ensurdecedor por aqui, e esse é um filme de escuta. É uma metáfora sobre a desconstrução de todo esse retrocesso que a gente viu acontecer nos últimos três anos. Por isso fiquei possuído pela história. O Brasil está muito polarizado, ninguém escuta o outro e é muito difícil criar diálogos. Fiz esse filme pensando em todos caras que são como Daniel. São eles que eu espero provocar. Quem sabe isso os toque e gere alguma mudança ou reflexão. É na escuta que o amor começa", reflete Saboia.
Tendo como pano de fundo a temática de relacionamentos LGBTQIA+, a preparação para a filmagem do longa também foi pautada na troca e na conversa. "Nos cercamos de pessoas que fazem parte da comunidade, pois para falar de assuntos sensíveis como esse é preciso muita responsabilidade e cuidado. Sempre tendo a trabalhar dessa forma, mas de todas as minhas obras, esta, com certeza, foi a mais dialogal", explica o diretor.
Ele revela ainda que foi muito questionado sobre a real intenção e o verdadeiro significado da produção antes de dar continuidade ao projeto. "A maior dificuldade foi convencer as pessoas de que essa história que eu estava contando era realmente de amor, de afeto e de respeito. Durante muito tempo, não conseguiam compreender a emoção e o sentimento que eu estava tentando expressar. Foi um trabalho quase que de convencimento."
Apesar disso, o que no início pareceu um grande desafio hoje se concretiza com o retorno positivo que a obra tem gerado. A corrida pela indicação ao Oscar já começou, e Muritiba está em Los Angeles acompanhando de perto a campanha de divulgação. "Ter um trabalho como esse em meio a um Brasil tão odioso e conservador é muito paradigmático e bonito. Espero que o filme realmente consiga mostrar sua potência e tocar mais pessoas", finaliza.
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