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Cultura

- Publicada em 08 de Agosto de 2021 às 20:08

Crescendo no balé da Alemanha, Lorenzzo Fernandes mostra que nunca é tarde para sonhar

Natural de Porto Alegre, Lorenzzo Fernandes passa a integrar a maior companhia de balé de Berlim

Natural de Porto Alegre, Lorenzzo Fernandes passa a integrar a maior companhia de balé de Berlim


/Kasia Matejczuk/DIVULGAÇÃO/JC
Lara Moeller Nunes
Com uma trajetória intensa, e ainda curta, dentro do mundo da dança, o porto-alegrense Lorenzzo Fernandes cruzou o Oceano Atlântico em busca de seus sonhos. Em solo germânico há três anos e com o ensino superior já completo, o jovem de 21 anos passa a integrar a partir de setembro a principal companhia de balé de Berlim, a Staatsballett Berlin.
Com uma trajetória intensa, e ainda curta, dentro do mundo da dança, o porto-alegrense Lorenzzo Fernandes cruzou o Oceano Atlântico em busca de seus sonhos. Em solo germânico há três anos e com o ensino superior já completo, o jovem de 21 anos passa a integrar a partir de setembro a principal companhia de balé de Berlim, a Staatsballett Berlin.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, ele conta que o encanto pela prática surgiu a partir de uma brincadeira descontraída com amigos durante a adolescência. Enquanto dançavam e se divertiam juntos aos embalos do vídeo game Just Dance, ele foi questionado sobre a possibilidade de ingressar em aulas de balé na escola Vera Bublitz, que na época estava à procura de meninos para integrarem a equipe. "Achei que não iria conseguir conciliar tudo pois estava no último ano da escola, mas depois de fazer a primeira aula meu interesse foi aumentando e, pouco a pouco, fui percebendo que aquilo não seria apenas um hobby: minha vontade era fazer todos os dias."
Ao contrário do caminho seguido pela maioria dos bailarinos, ele decidiu que queria se dedicar profissionalmente à modalidade apenas aos 17 anos, idade já considerada tardia no meio. "Eu fiquei na dúvida durante um tempo entre fazer vestibular ou realmente investir na dança, e acabei optando pela segunda opção. Tirei um ano inteiro para me dedicar intensamente a isso porque precisava dar o meu melhor para recuperar o tempo perdido. A universidade continuaria ali, mas eu tinha consciência de que com o balé eu não teria outra chance", relata ele.
Explicar aos pais as possibilidades de carreira foi outro desafio que enfrentou na época, pois, no Brasil, as oportunidades na área são pequenas e poucas pessoas conhecem os caminhos possíveis para concretizar a profissão. "Eu sabia que, se eu quisesse dar continuidade e levar isso como emprego, eu teria que acabar saindo do país. Aqui não se tem a cultura de ir ao teatro para assistir espetáculos e o incentivo ainda é muito pequeno. No exterior, por outro lado, as pessoas realmente vivem disso e recebem bem."
Totalmente focado e com uma rede de apoio, Fernandes se preparou para alcançar o seu novo objetivo. Foi através do Festival Internacional de Dança de Porto Alegre de 2018, organizado pela sua escola, que ele conseguiu o convite de duas escolas, na Alemanha e na Suíça, para um período de testes e avaliações de admissão. A ida à Europa resultou na aprovação em ambas instituições, com bolsas de estudo, mas, por preferir a linha mais clássica, acabou escolhendo o instituto alemão, que se encaixava melhor com aquilo que queria.
De lá para cá foram três anos na Staatliche Ballettschule Berlin até concluir a formação em bacharelado, com aulas práticas e disciplinas teóricas que complementavam o aprendizado na área. Apesar de realizado, ele ressalta que o balé é muito difícil não só como dança, mas também como exercício mental: "Há muita comparação e exigência pela perfeição nesse meio, então precisamos trabalhar o emocional junto com o corpo. É muito difícil, eu diria que é 50% cabeça e 50% corpo".
Em busca do equilíbrio e trabalhando internamente todas essas questões, Fernandes concluiu sua passagem pelo ensino superior e garantiu uma oportunidade de trabalho na Companhia Nacional de Balé de Berlim (Staatsballett Berlin), para um projeto com duração de um ano que começa em setembro. "Quero dar meu máximo nesse tempo para conseguir ser efetivado quando terminar o contrato. São mais de 100 dançarinos pagos pelo governo. Eles recebem seguro saúde e todos os direitos trabalhistas, algo surreal quando comparamos com a realidade no Brasil", reflete ele.
Mesmo estabelecido no exterior, a falta de valorização à prática no seu país de origem ainda o chateia. "Não existe nenhuma perspectiva de carreira. Se eu quiser seguir nisso, sei que não posso voltar. Temos muitos bailarinos excelentes que não conseguem dar continuidade ao seu trabalho porque não existe incentivo nem valorização por parte do Estado. A dança deve ser vista, mas nossa cultura não dá suporte para que isso aconteça. Eu mesmo não conhecia as possibilidades antes de me inserir no meio e conquistar tudo o que tenho hoje."
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