Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 26 de Julho de 2021 às 22:18

Longa-metragem 'Ana. Sem título' é road movie pela história e artes do continente

Docudrama que viaja América Latina, Ana. Sem título estreia nos cinemas nesta quinta-feira

Docudrama que viaja América Latina, Ana. Sem título estreia nos cinemas nesta quinta-feira


TAIGA FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
A realizadora Lúcia Murat (Praça Paris, Quase dois irmãos, A memória que me contam) é uma entidade do cinema brasileiro. A sua trajetória de vida e sua obra cinematográfica são muito importantes para a cultura do País. E, com este Ana. Sem título, que estreia nos cinemas na quinta-feira (29), ela se mostra ainda combativa na produção de longas, aos 71 anos, e com potencial inventivo em termos de linguagem audiovisual. "Você deve imaginar quão difícil é lançar um filme nas condições atuais. E realmente foi um prazer muito grande fazê-lo, então, espero que ele seja visto", afirma em entrevista ao Jornal do Comércio.
A realizadora Lúcia Murat (Praça Paris, Quase dois irmãos, A memória que me contam) é uma entidade do cinema brasileiro. A sua trajetória de vida e sua obra cinematográfica são muito importantes para a cultura do País. E, com este Ana. Sem título, que estreia nos cinemas na quinta-feira (29), ela se mostra ainda combativa na produção de longas, aos 71 anos, e com potencial inventivo em termos de linguagem audiovisual. "Você deve imaginar quão difícil é lançar um filme nas condições atuais. E realmente foi um prazer muito grande fazê-lo, então, espero que ele seja visto", afirma em entrevista ao Jornal do Comércio.
Livremente inspirado na peça Há mais futuro que passado, um documentário de ficção, com as filmagens de viagem registradas nos primeiros meses de 2019, Ana. Sem título, é um road movie por São Paulo, Cuba, México, Argentina, Chile e Rio Grande do Sul. O longa foi selecionado para a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e teve sua première mundial no Festival Internacional de Cinema de Moscou.
Com ares de documentário, a produção com roteiro ficcional (escrito pela cineasta ao lado de Tatiana Salem Levy) mostra artistas da América Latina através da ótica da atriz Stela (encarnada por Stella Rabello), a partir da visitação de uma exposição na Pinacoteca de São Paulo (Mulheres radicais, 2018, exibida anteriormente em Los Angeles e Nova York). A personagem resolve fazer um trabalho sobre cartas trocadas entre elas durante os anos 1970 e 1980. Stela parte em uma viagem de longas distâncias à procura de seus trabalhos e de depoimentos sobre o que elas viveram. O formato é o de um documentário de busca, com encontros no trajeto com especialistas e "cabeças falantes" - alusão aos filmes de entrevista com padrão clássico.
"As ditaduras eram uma realidade latino-americana, e as artistas não podiam escapar disso, as obras delas refletiam isso. Foi mais ou menos inevitável, quando fomos documentar a vida delas, que não nos deparássemos com a questão da ditadura. É óbvio que, quando começamos a filmar, Bolsonaro já era presidente, então esta questão ficou ainda mais radicalizada. O que impressiona muito é que em todos esses países você tem uma memória, você tem Museus de Direitos Humanos, a juventude se depara com a sua própria história. Diferentemente, no Brasil, não tem isso, então nós estávamos muito mobilizadas pelo fato de que a inexistência de uma preocupação com a nossa memória possibilitou realmente que alguém que apoia a ditadura e a tortura, ao invés de ser preso por ter declarado isso, fosse eleito presidente. Acho que tem muito a ver com a nossa história e a nossa falta de memória", explica Lúcia.
Em meio à pesquisa, Stela descobre a existência de Ana - uma jovem brasileira que fez parte desse mundo, mas desapareceu - e resolve se aprofundar melhor sobre a vida dessa artista e ir atrás de sua história. Em 1968, Ana foi do Sul do Brasil, de uma pequena cidade do interior, para a efervescente Buenos Aires, que passava por um momento de mudança nas artes visuais e no comportamento. Stela, obcecada pela artista conterrânea (de quem todos os entrevistados falam com admiração, sobre talento, valentia, uma mulher extraordinária, impetuosa, atrevida, provocadora, que queria romper regras e, portanto, perigosa), é nossa guia - de quem assiste e também da diretora, neste filme.
Obsessiva pela personagem que chega a ganhar um rosto, mas não um sobrenome, Stela norteia sua investigação: quer encontrar o rastro de Ana e descobrir o que aconteceu com ela. Em determinado momento na obra, Lúcia afirma in off que embarcou nessa busca da Stela pela Ana porque sabia que iria reencontrar sua geração. "Essa Ana que buscamos somos nós, brasileiros, tão vilipendiados neste momento", diz a cineasta.
Ana. Sem título é inspirado em uma mulher negra, que fazia performances em plena ditadura, num país que não era o seu, tinha uma companheira mulher, foi sequestrada e torturada. Seguindo seu paradeiro, a atriz chega a Dom Pedrito, município da Campanha do Estado. "Essa escolha foi interessante. Era uma cidade que conhecia de nome, porque tenho um amigo que nasceu lá, e adorava o nome, achava romântico. E achava importante que dessa região do Sul do País, extremamente conservadora, onde o Governo Bolsonaro teve muita votação e apoio, tivesse surgido uma possibilidade de rebeldia. Também funcionaria para o final do filme, tinha a ver com a não aceitação dessa figura rebelde nessa região. Do ponto de vista cinematográfico, também era expressiva, tinha os pampas e a própria cidadezinha. Filmamos o que achei representativo."
A obra é relevante do ponto de vista da História da Arte, consegue dar conta com bastante excelência dessa parte também, além dos dramas pessoais. Entre os diversos méritos deste longa, quanto à sua contribuição temática e execução técnica, queria citar mais alguns: destaque para a trilha musical assinada por Livio Tragtenberg (as canções ajudam a sentir o clima de Latino América), para a participação de Roberta Estrela D'Alva e a breve, porém marcante, presença da gaúcha Mirna Spritzer na narrativa. "Mirna foi uma surpresa incrível, não a conhecia, foi indicada pelos produtores do Sul, e acho que ela tem um trabalho muito bom, foi um prazer trabalhar com ela", comenta a diretora.
Ana. Sem título pode ser chamado de um drama, em que se mistura ficção e realidade. O filme parte do conceito expresso por Virginia Woolf em seu livro Um teto todo seu, de que a ficção pode conter mais verdade do que os fatos. Stela, inclusive, lê passagens da obra em cenas do longa.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO