Uma das aguardadas estreias da temporada erudita em Porto Alegre há mais de um ano, Operita Violoncello teve sua temporada adiada devido à pandemia. A estreia no Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº) ocorre nesta terça-feira (13), com apresentações até quinta-feira (15), em diferentes horários. A retirada de ingressos pode ser feita na recepção do Multipalco, mediante doação de 2 kg de alimento, a partir de terça-feira, das 13h30min às 18h. Não há limite por pessoa.
A ópera de câmara em um ato composta e regida pelo maestro Arthur Barbosa, com libreto de Álvaro Santi, tem como tema central o violoncelo. A montagem traz à cena um elenco renomado, protagonizado pela mezzo-soprano Angela Diel, pelo baixo Daniel Germano e pelo bailarino e coreógrafo Raul Voges, além de um conjunto de dez violoncelistas, um percussionista e duas bailarinas/atrizes, Pâmela Manica e Janaína Nocchi.
Conduzindo este elenco, está a a atriz e diretora teatral Jacqueline Pinzon. "Na verdade, me defino como encenadora" e enfatiza: "Para mim, encenar é propor. É realizar uma escritura no espaço e no tempo, a qual se configura a partir do uso criativo da linguagem da cena. Todo encenador faz isso, independentemente da pré-existência de qualquer material, seja ele musical ou dramatúrgico".
Jacqueline narra que, ao tomar conhecimento da trama, a achou ousada e original, "pois se mostrava uma ópera em que as instâncias cotidianas e fantásticas, digamos assim, conviviam lado a lado". Na narrativa, a protagonista, Angela Diel no papel de Maria, uma violoncelista de reconhecido talento, está em turnê internacional. Maria é permanentemente enamorada de seu Violoncelo - o qual assume, em alguns momentos, a forma humana, personagem desempenhado por Raul Voges.
Durante a viagem, a protagonista conhece um rapaz jovem e atraente, Juan, papel de Daniel Germano. Juntos, Maria, Juan e seu Violoncelo passam a compor um triângulo amoroso. "Acredito que este romance é, no mínimo, uma história inusitada: uma mulher, um homem e um instrumento, na ocasião, isto me intrigou. Como eu deveria montar a cena com um violoncelo em forma humana? Como mostrar tal detalhe para o espectador de forma que não fique óbvio, mas fique evidente? E muitas outras perguntas se impuseram para mim... Encenar estas relações, sem cair no lugar-comum, me parecia um desafio", comenta a diretora.
Ela revela que, sendo admiradora de Arthur Barbosa, sabia que o material musical seria de primeira, e topou sem nem ao menos ouvir uma nota. "Uma ópera, do ponto de vista de sua montagem, se constitui num intrincado quebra-cabeças que me exige muita atenção. Como encenadora da Operita, busco imprimir uma expressão audiovisual por meio da qual possa deixar certos espaços, clareiras de significado e interpretação para o espectador olhar e resolver. Não que me furte a contar a história, mas não revelo todos os particularidades de imediato, vou com calma, no andamento da música, por assim dizer."
Para a atriz, encenar Operita Violoncello é "jogar alguma luz (ou mesmo alguma sombra) sobre algo que já está lá e que talvez não tenha ainda se dado a ver ou sentir. Porém, encenar esta ópera pode ser, igualmente, escolher um caminho original e impensado para viabilizar o encontro entre o espectador e a obra".
A função de encenadora, segundo Jacqueline, foi tornar cena as ideias, imagens e sensações que lhe ocorreram quando teve contato com a música de Arthur Barbosa e o libreto de Álvaro Santi. "O caminho que adotei foi ler o libreto, me irmanar e, ao mesmo tempo, me libertar dele. E, em relação à obra musical, tratei de ouvir muitas vezes, ou mesmo decorá-la e, a partir do que a composição de Arthur Barbosa me causava enquanto sensação, tratei de criar imagens que traduziam esta impressão que a obra me despertou."
Conforme a atriz, Operita Violoncello trata do amor da artista, com seus excessos e escolhas, sejam na arte, sejam na vida: "O que estamos contando é a história de um triângulo amoroso inusitado entre uma musicista, seu instrumento e seu namorado. E eu, como artista, estou encenando meu ponto de vista acerca do belo libreto de Álvaro Santi". Neste contexto, Jacqueline escolheu enfatizar o amor e a sensualidade criando cenas de envolvimento sexy entre os personagens: "De maneira que acho importante e atual o fato de a protagonista ser uma mulher mais madura e livre, que se envolve com um rapaz mais jovem".
Durante o processo, a encenadora procurou ter um bom diálogo não só com a equipe ("o que é fundamental"), mas consigo mesma: "Reorganizando e reconfigurando, a todo o momento, meu trabalho criativo". Por isso, a artista considera que a palavra "montagem" traduz bem o que pensa da encenação. "Gosto de pensar em meu trabalho como algo vivo e dinâmico, que não se esgota quando se plasma em uma cena, mas que se renova, se amplia e se engravida a todo momento de novas possibilidades. Assim, não só nos ensaios, mas principalmente nestes, junto à equipe, procurei somar iniciativas criadoras que contribuíssem para a melhor tradução para a cena daquilo que tinha em mente ou daquilo sobre o qual não tinha a menor ideia", explica.