Até este sábado (26), a
Gravura Galeria de Arte (Corte Real, 647), engajada em ações que mostrem a importância do setor artístico para a sociedade, apresenta a exposição
100 anos de Paulina Laks Eizirik. A artista plástica que começou a sua trajetória em Porto Alegre na década de 1930, após escapar da intolerância do nazismo na Polônia. O sonho da paz e da liberdade tinha lugar certo na sua fala e hoje faz parte das homenagens ao seu legado, caracterizado por imaginação e solidariedade.
Na mostra, serão expostas 11 pinturas e 15 gravuras. A artista seguiu produzindo até 2013, ano em que veio a falecer. A visitação nesta sexta-feira (25) ocorre das 9h30min às 18h30min. No sábado (26), a galeria fica aberta até 13h30min.
A história do nazismo e as faces da intolerância vivenciadas por Paulina na infância, assim como o vazio dos desaparecimentos, apagamentos, e a importância das mulheres para nossa sobrevivência, eram repetidas ano a ano através dos almoços e jantares em sua casa, e também através das imagens que ela pintava. Conforme Daniel Eizirik, neto de Paulina e também artista: “A casa da minha avó era considerada um ambiente acolhedor, repleto de imagens — havia pinturas até no banheiro para esconder o encanamento — cheio de livros, discos de klezmer e black spirituals, materiais de desenho, e comidas saborosas".
Além de preencher todas as paredes da casa, a pintura trouxe outras transformações para a vida de Paulina. Com seu estilo de desenho, corpos em curvas e contornos fortes, começou a transitar no meio artístico da cidade nos anos 1980, passou a ter amigos homossexuais, passou a receber sessões de modelo vivo nu em casa com as amigas, e pouco a pouco ela deixava de ser apresentada como "a esposa de Moysés". Nas oficinas e exposições em que eles iam, já se escutava "ah, esse que é o marido de dona Paulina".
Sua pintura foi classificada como "arte Naif" — título que a colocava junto de artistas de renome. "Naif é arte ingênua, e eu estudei muito para fazer o que faço", dizia. Começou a carreira em uma fase de cores pastel, com cinza, ocre, marrom, verde oliva; depois foi passando para uma pintura mais festiva, mais alegre. Nos anos 2000, já usava cores vivas, azul, muito azul, temáticas de dança, música e rezas de paz.
Passadas inúmeras exposições, sua vista começou a se embaralhar. Em seus últimos anos de vida, os contornos marcados começaram eles próprios a dançar pela tela. Olhos duplicados para fora do rosto, uma boca voando, "minha fase meshigne!" (quer dizer 'louco' em ídiche)”.
Em 2014, o neto e também artista Daniel Eizirik, organizou uma exposição na Usina do Gasômetro junto à prefeitura, como um 'colorido rito de passagem', onde se apresentava a trajetória da pintura misturada com fotos e objetos de sua casa. “Me dediquei muito para aquele evento, e o livro de visitas da exposição trazia pérolas e pérolas das pessoas que lembravam de causos e de gente que tinha uma boa experiência na visita”, explica o neto.
Paulina Laks Eizirik nasceu em Varsóvia em maio de 1921. Com os pais e os irmãos, veio a bordo do navio Jamaica para Porto Alegre. Todos seus parentes que ficaram na Polônia desapareceram. Já Porto Alegre virou palco para seu refúgio, seus estudos escolares e universitários. Paulina e sua irmã foram das primeiras mulheres formadas dentistas pela Ufrgs.